Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ITÁLIA CONDENA CIENTISTAS POR NÃO TEREM PREVISTO TERREMOTO

 Após terremoto, Itália avalia magnitude de danos a patrimônio cultural Marco Gualazzini/IHT
ZERO HORA ONLINE, 22/10/2012 | 19h13

Em sentença inédita, Itália condena cientistas por não terem previsto terremoto. Entre os condenados estão grandes nomes da ciência na Itália, como o ex-presidente do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia


Um grupo de cientistas italianos foi condenado nesta segunda-feira a seis anos de prisão por homicídio culposo por ter subestimado os riscos do terremoto ocorrido em L'Aquila em 2009, uma sentença inédita, que gera polêmicas na Itália.

Entre os sete condenados estão grandes nomes da ciência na Itália, como o professor Enzo Boschi, que presidiu o Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia, e o vice-diretor da Defesa Civil, Bernardo de Bernardinis.

O terremoto, que devastou a cidade de L'Aquila, varrendo o centro histórico e deixando mais de 80 mil desabrigados, continua sendo um trauma para todos os italianos e gerou polêmicas sobre as negligências que contribuíram para esse trágico registro.

Durante o julgamento, iniciado em setembro, a procuradoria havia pedido uma pena menor, de quatro anos de prisão, contra os sete membros da Comissão de Grandes Riscos, que havia se reunido em 31 de março de 2009 na cidade de L'Aquila, seis dias antes do sismo que provocou a morte de mais de 300 pessoas.

A justiça considera que as autoridades científicas divulgaram informações tranquilizadoras à população, que, caso contrário, teria conseguido agir para se proteger.

"Será um veredicto histórico", antecipou pouco antes da decisão Wania della Vigna, advogada que representa quatro estudantes sobreviventes que residiam na recém-reformada Casa do Estudante da cidade, que desmoronou como um castelo de cartas por causa do desrespeito às medidas antissísmicas.

Mais de 400 tremores sacudiram a região durante quatro meses e, apesar disso, as autoridades não tomaram medidas específicas e se limitaram a advertir que os terremotos não podem ser previstos.

"Estou abatido, desesperado, estava convencido de que seria absolvido", comentou Boschi após tomar conhecimento da sentença.

A defesa dos acusados anunciou que vai recorrer da sentença, que proíbe também que os cientistas ocupem cargos públicos pelo resto de suas vidas.

"Não sinto que tenha sido uma vitória. Está mais para uma tragédia, não trará nossos entes queridos de volta", comentou Aldo Scimia, que teve sua mãe morta durante o tremor.

"Para mim foi um massacre cometido pelo Estado. Com este julgamento, esperamos que nossos filhos possam viver em um mundo mais seguro", acrescentou.

"É uma forma de advertir a quem assume um alto posto no Estado de que é preciso levar a sério o próprio trabalho, porque estamos cansados de que tratem esses postos de qualquer maneira", comentou Ortensia à TVSky, parente de uma das vítimas.

Mais de 5 mil membros da comunidade científica escreveram uma carta aberta ao presidente da República italiana, Giorgio Napolitano, na qual asseguraram que um terremoto é impossível de ser previsto.

"Com esta decisão, acaba qualquer colaboração entre o mundo científico e o Estado", considerou o físico Luciano Maiani, atual presidente da Comissão de Grandes Riscos.


AFP - Roma

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

DESASTRE NA ADMINISTRAÇÃO


15 de outubro de 2012 | 3h 06


OPINIÃO O Estado de S.Paulo


Em mais um ano de enchentes, deslizamentos, destruição e mortes em vários Estados, o governo brasileiro desembolsou até 23 de agosto apenas 26,4% da verba de R$ 3,5 bilhões destinada à Gestão de Risco e Resposta a Desastres, segundo informou no começo de setembro a organização Contas Abertas, especializada no acompanhamento das finanças públicas. Os desembolsos ficam normalmente muito abaixo das dotações orçamentárias e sempre incluem, como neste ano, uma parcela de restos a pagar.

Desastres naturais, tratados como eventos de menor importância pelo governo brasileiro, estão no programa de trabalho do Banco Mundial (Bird) e motivaram uma reunião promovida em conjunto com o governo japonês em Sendai, uma das localidades mais afetadas no ano passado por um terremoto seguido de tsunami. Números e histórias apresentados num relatório do banco mostram o tamanho do problema e a importância de políticas especiais para enfrentá-lo.

Catástrofes naturais causaram perdas econômicas estimadas em US$ 3,5 trilhões nos últimos 30 anos, segundo o Bird. Os maiores prejuízos, de US$ 380 bilhões, ocorreram em 2011, quando enchentes custaram à Tailândia 5% de seu PIB e o Japão perdeu 4% em consequência do terremoto e do tsunami. Os danos causados pelo terremoto de 2010 ao Haiti corresponderam a 120% da produção do país.

Os custos econômicos poderiam justificar o esforço conjunto do banco e do governo japonês para colocar no topo da agenda internacional a prevenção e a administração de riscos de desastres. Mas há mais que isso: 9% das catástrofes ocorreram desde 1980 em países pobres, mas neles a proporção de mortes foi de 48%.

O relatório foi preparado para subsidiar as discussões em Sendai e os trabalhos do Comitê de Desenvolvimento do banco e do FMI. "Precisamos de uma cultura de prevenção", disse o presidente do Bird, Jim Yong Kim, defendendo a prática de planejamento para reduzir os danos e as perdas de vidas em casos de desastres. O ministro das Finanças do Japão, Koriki Jojima, participou do Diálogo de Sendai e falou sobre a experiência japonesa nessa área. É preciso, segundo ele, pôr em primeiro plano a administração de riscos "em todos os aspectos dos processos de desenvolvimento".

Isso é exatamente o oposto da prática normal do governo brasileiro e também dos governos estaduais e locais. O material divulgado pela organização Contas Abertas inclui um comentário do especialista em defesa civil Edmildo Moreno Sobral sobre os gestores municipais. Sua cultura, disse ele, é a de esperar ocorrer o desastre para decretar situação de emergência, dispensar licitações e receber maior volume de recursos. É uma descrição até generosa. Repetidas experiências de desastres naturais têm mostrado algo mais grave.

À deficiência de planejamento e prevenção soma-se a precariedade dos trabalhos de assistência e reconstrução e até o descontrole no uso de recursos. É inevitável comparar a rapidez das obras pós-tsunami no Japão com a lentidão dos trabalhos depois dos grandes deslizamentos na serra fluminense - para citar só um dentre muitos exemplos. A tudo isso também se acrescenta o indefensável uso político das verbas, como foi comprovado quando recursos federais destinados à prevenção de acidentes foram destinados quase todos a um único Estado que, além de ter sido um dos menos atingidos por desastres naturais em anos recentes, era a base política do ministro responsável pela administração daquelas verbas.

Entre 1984 e 2006 o Bird aplicou cerca de US$ 26 bilhões em 528 projetos de prevenção e administração de desastres. Entre 2006 e 2011 destinou mais US$ 11,7 bilhões a 113 operações de prevenção e de planejamento e a 68 atividades de reconstrução. O impacto dos desastres deve continuar aumentando, segundo o relatório, por causa do crescimento urbano desordenado e da má administração de recursos naturais. Como nem toda catástrofe é evitável, a capacidade de enfrentar os problemas e de recuperar as áreas atingidas é tão importante quanto a prevenção. Nas duas atividades o serviço público brasileiro é deficiente. O primeiro desastre, no Brasil, é o da própria administração.

sábado, 6 de outubro de 2012

A CAIXINHA DAS CATÁSTROFES

REVISTA ISTO É N° Edição: 2239 | 05.Out.12



Dinheiro que deveria servir para amparar cidades afetadas por desastres naturais foi parar no financiamento de campanhas

 Izabelle Torres





Catástrofes naturais não servem apenas para turbinar discursos de políticos que tentam se eleger nos municípios abalados por essas tragédias. Um cruzamento de informações realizado por ISTOÉ mostra que desastres viraram fonte de recursos para encher caixas de campanha. Em cidades de diferentes regiões do País há indícios de troca de favores entre construtoras beneficiadas com contratos sem licitação e candidatos em busca de doações eleitorais. O socorro aos flagelados vem sumindo pelos esgotos da corrupção política.




Os casos são tão variados quanto chocantes. Em Campo Grande, por exemplo, o candidato a prefeito Edson Giroto (PMDB) recebeu financiamento de pelo menos duas empreiteiras que prestaram serviços à prefeitura ou ao Estado, que é comandado pelo aliado André Puccinelli (PMDB). Uma delas, a Rosa Acorsi Engenharia, embolsou meio milhão do governo pela prestação de serviços que tiveram o próprio Giroto como ordenador de despesas, quando ele era secretário de obras. Em Alagoas, uma mesma empreiteira negociou com políticos de partidos diferentes, mas que se valem do cargo para inchar o caixa de campanha. A Arquitec lidera os contratos de casas populares no município alagoano de Penedo, onde também reconstruiu creches e escolas. Não por acaso, ela é a maior doadora da campanha de reeleição do prefeito Israel Saldanha (DEM), que a contratou sem licitação. A construtora consta da lista de fornecedores de obras emergenciais de outras cidades alagoanas e também fez doações ocultas para a campanha de Ronaldo Lessa (PDT) à Prefeitura de Maceió. Para não aparecer, ela entregou pelo menos R$ 200 mil ao partido do candidato, que encaminhou o dinheiro à campanha do pedetista. A manobra tem razão de ser: na semana passada, a empreiteira foi condenada a devolver cerca de R$ 26 milhões aos cofres públicos. O dinheiro, segundo o Ministério Público, foi desviado do superfaturamento da obra do Hospital Geral do Estado, realizada na gestão de Lessa em Alagoas. Em Camaçari (BA), São José do Rio Preto (SP) e Florianópolis (SC), há escândalos semelhantes. A capital catarinense foi a única do País onde as irregularidades graves fizeram o Ministério da Integração sustar o repasse de R$ 10 milhões destinados a obras de contenção na praia do Pântano do Sul.


REFORÇO
Em Campo Grande, o candidato a prefeito Edson
Giroto (PMDB) recebeu financiamento de pelo menos
duas empreiteiras que prestaram serviços à prefeitura

Apesar da dificuldade para recuperar o dinheiro desviado, é possível punir infratores. No Rio de Janeiro, os prefeitos de Nova Friburgo e Teresópolis perderam os cargos e estão fora das eleições deste ano. Eles foram responsabilizados junto com as empreiteiras contratadas pelos desvios dos recursos emergenciais. Nos dois municípios, a lentidão na reconstrução e as irregularidades praticadas transformaram a tragédia na principal plataforma eleitoral dos candidatos, que agora se preocupam em ocultar as doações recebidas para não deixar pistas em contratos futuros.

Foto:Jadson Marques; Daniel Marenco/Folhapress