ZERO HORA 06/05/2013 | 06h03
Incêndio no Cabaret reacende dúvidas sobre segurança de casas noturnas. Fogo na casa noturna traz dúvidas sobre a eficácia da fiscalização feita pelo poder público
Carlos Beust Oliveira (E) e Humberto Goulart (D) discutiram durante perícia no CabaretFoto: Felipe Martini / Agência RBS
Carlos Wagner e Letícia Duarte
Noventa e sete dias depois da tragédia da boate Kiss, que matou 241 pessoas em Santa Maria, um incêndio em uma das mais conhecidas casas noturnas de Porto Alegre voltou a assombrar os gaúchos. Desta vez, sem vítimas.
Mas as chamas que consumiram dois terços do casarão onde funcionava o Cabaret, sábado à noite, propagaram dúvidas sobre a eficácia da fiscalização de segurança dos estabelecimentos, feita pelo poder público.
O caso do Cabaret é emblemático porque a casa, na Avenida Independência, foi a primeira a ser interditada na Capital, em 30 de janeiro — três dias após a tragédia da Kiss. Vinte dias depois, foi liberada pela força-tarefa criada pela prefeitura para inspecionar os estabelecimentos, com aval do Corpo de Bombeiros, após reformas para adequações.
Mas, se estava tudo em dia, por que a casa pegou fogo? As causas ainda são investigadas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP), que deve chegar a uma conclusão em até 30 dias. Por enquanto, o pouco que se sabe é que as chamas começaram entre o telhado e o forro, por volta das 20h30min, quando a casa ainda estava vazia. Segundo um dos peritos do caso, Rodrigo Ebert, é a região onde normalmente fica a instalação elétrica, mas qualquer conclusão é precipitada. Até porque, de acordo com um dos donos, Carlos Beust de Oliveira, a partir das reformas não haveria nenhuma fiação passando pelo teto. A polícia também investiga a hipótese de incêndio criminoso.
— Todas as licenças estavam em dia, não tem explicação para esta situação — diz o advogado e contador do Cabaret, Ciro Pacheco, estimando um prejuízo de R$ 500 mil.
Apesar de confirmarem que toda a parte de prevenção a incêndios estava regularizada, autoridades tiveram dificuldade de dar detalhes no domingo sobre a liberação do alvará de funcionamento. Mesmo sendo coordenador da força-tarefa criada pela prefeitura para inspecionar as casas noturnas, o secretário de Produção, Indústria e Comércio, Humberto Goulart, disse que a responsabilidade era dos bombeiros e que haveria pendências administrativas com a Secretaria de Urbanismo — mas não soube informar quais.
O comandante dos bombeiros de Porto Alegre, tenente-coronel Adriano Krukoski Ferreira, garantiu que o Cabaret cumpre todas as exigências legais e que o alvará serve apenas como uma garantia de que, se houvesse alguém dentro do prédio, as pessoas teriam condições de sair em segurança. E se a casa estivesse lotada?
— Não temos bola de cristal para saber como seria se tivesse gente no momento — respondeu Krukoski.
Um dos centros da cultura alternativa em Porto Alegre, o Cabaret sediaria no sábado uma festa de música eletrônica. Frequentadora do local, a estudante de Medicina Tatiana Klaus, 23 anos, lembra que os cuidados com segurança haviam sido redobrados após a interdição, com saídas sinalizadas e menor lotação, o que havia multiplicado as filas de entrada.
Mesmo com dúvidas quanto à origem do incêndio, o responsável pela força-tarefa da prefeitura, Humberto Goulart, não pretende mudar os procedimentos de fiscalização.
"É uma pocilguinha mesmo"
Secretário da Produção, Indústria e Comércio (Smic) e coordenador da força-tarefa que inspeciona casas noturnas na Capital, Humberto Goulart atribui aos bombeiros a liberação do Cabaret.
Zero Hora — Como foi a liberação do alvará de funcionamento do Cabaret?
Humberto Goulart - O alvará foi dado no final dos anos 90 e todos os anos eles fazem a revalidação, por meio de taxa. Agora, quem interditou foram os bombeiros, e quem desinterditou também foram os bombeiros. Nós só cumprimos a determinação deles.
ZH — O senhor falou que faltava ao Cabaret um protocolo junto à Secretaria do Urbanismo.
Goulart — Eu não sei o que era, mas eu sei que não era uma ação que fosse implicar perigo de incêndio. Era uma coisa de obra. Parece que eles não levaram um papel.
ZH — Mas não há um trabalho integrado entre as secretarias para evitar esse descompasso?
Goulart — Nós trabalhamos de forma integrada nos resultados, não na análise. Só vem para gente para o resultado final.
ZH — Não se corre o risco de acabar tendo furos?
Goulart —Não, cada um tem uma coisa diferente para analisar. E depois juntamos as análises.
ZH — Dá para confiar nessa fiscalização?
Goulart — Dizem que o fato de ter revisão não vai dar incêndio. Não é verdade, vai dar incêndio, sim. O que nós queremos é que, se acontecer, que se tenha condições de se safar.
ZH — O senhor chegou a chamar o Cabaret de pocilga.
Goulart — É uma pocilguinha, mesmo.
ZH — Por que foi liberado, então?
Goulart — Porque os bombeiros olharam e disseram que estava apta para funcionar. Os bombeiros atestaram que tinha marcações de luz, saídas, tudo certinho.
ZH — O senhor acha que pode ter ficado algum problema?
Goulart — Acho que não. O incêndio não tem nada a ver com condições de segurança para as pessoas.
ZH — O senhor falou que o trabalho de fiscalização vai continuar no mesmo ritmo.
Goulart — Sim, até o dia 15 devemos apresentar um boletim para o prefeito. Já fizemos visitas em 150 casas noturnas e 84% delas foram interditadas. Muitas estão reabrindo em situações melhores.
Sócio do Cabaret e secretário da Smic trocam xingamentos
Durante perícia realizada na boate Cabaret nesta manhã em busca de pistas sobre o incêndio, Carlos Beust Oliveira, um dos sócios da casa noturna, protagonizou uma discussão com o secretário da Produção, Indústria e Comércio (Smic), Humberto Goulart.
04/05/2013 | 22h22
Casa noturna publica nota sobre incêndio: "Força e amor a todos!". Cabaret, localizado na Avenida Independência, foi atingido por chamas na noite de sábado
Site do Cabaret publicou manifestação sobre incidente na noite de sábado
Incêndio no Cabaret reacende dúvidas sobre segurança de casas noturnas. Fogo na casa noturna traz dúvidas sobre a eficácia da fiscalização feita pelo poder público
Carlos Beust Oliveira (E) e Humberto Goulart (D) discutiram durante perícia no CabaretFoto: Felipe Martini / Agência RBS
Carlos Wagner e Letícia Duarte
Noventa e sete dias depois da tragédia da boate Kiss, que matou 241 pessoas em Santa Maria, um incêndio em uma das mais conhecidas casas noturnas de Porto Alegre voltou a assombrar os gaúchos. Desta vez, sem vítimas.
Mas as chamas que consumiram dois terços do casarão onde funcionava o Cabaret, sábado à noite, propagaram dúvidas sobre a eficácia da fiscalização de segurança dos estabelecimentos, feita pelo poder público.
O caso do Cabaret é emblemático porque a casa, na Avenida Independência, foi a primeira a ser interditada na Capital, em 30 de janeiro — três dias após a tragédia da Kiss. Vinte dias depois, foi liberada pela força-tarefa criada pela prefeitura para inspecionar os estabelecimentos, com aval do Corpo de Bombeiros, após reformas para adequações.
Mas, se estava tudo em dia, por que a casa pegou fogo? As causas ainda são investigadas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP), que deve chegar a uma conclusão em até 30 dias. Por enquanto, o pouco que se sabe é que as chamas começaram entre o telhado e o forro, por volta das 20h30min, quando a casa ainda estava vazia. Segundo um dos peritos do caso, Rodrigo Ebert, é a região onde normalmente fica a instalação elétrica, mas qualquer conclusão é precipitada. Até porque, de acordo com um dos donos, Carlos Beust de Oliveira, a partir das reformas não haveria nenhuma fiação passando pelo teto. A polícia também investiga a hipótese de incêndio criminoso.
— Todas as licenças estavam em dia, não tem explicação para esta situação — diz o advogado e contador do Cabaret, Ciro Pacheco, estimando um prejuízo de R$ 500 mil.
Apesar de confirmarem que toda a parte de prevenção a incêndios estava regularizada, autoridades tiveram dificuldade de dar detalhes no domingo sobre a liberação do alvará de funcionamento. Mesmo sendo coordenador da força-tarefa criada pela prefeitura para inspecionar as casas noturnas, o secretário de Produção, Indústria e Comércio, Humberto Goulart, disse que a responsabilidade era dos bombeiros e que haveria pendências administrativas com a Secretaria de Urbanismo — mas não soube informar quais.
O comandante dos bombeiros de Porto Alegre, tenente-coronel Adriano Krukoski Ferreira, garantiu que o Cabaret cumpre todas as exigências legais e que o alvará serve apenas como uma garantia de que, se houvesse alguém dentro do prédio, as pessoas teriam condições de sair em segurança. E se a casa estivesse lotada?
— Não temos bola de cristal para saber como seria se tivesse gente no momento — respondeu Krukoski.
Um dos centros da cultura alternativa em Porto Alegre, o Cabaret sediaria no sábado uma festa de música eletrônica. Frequentadora do local, a estudante de Medicina Tatiana Klaus, 23 anos, lembra que os cuidados com segurança haviam sido redobrados após a interdição, com saídas sinalizadas e menor lotação, o que havia multiplicado as filas de entrada.
Mesmo com dúvidas quanto à origem do incêndio, o responsável pela força-tarefa da prefeitura, Humberto Goulart, não pretende mudar os procedimentos de fiscalização.
"É uma pocilguinha mesmo"
Secretário da Produção, Indústria e Comércio (Smic) e coordenador da força-tarefa que inspeciona casas noturnas na Capital, Humberto Goulart atribui aos bombeiros a liberação do Cabaret.
Zero Hora — Como foi a liberação do alvará de funcionamento do Cabaret?
Humberto Goulart - O alvará foi dado no final dos anos 90 e todos os anos eles fazem a revalidação, por meio de taxa. Agora, quem interditou foram os bombeiros, e quem desinterditou também foram os bombeiros. Nós só cumprimos a determinação deles.
ZH — O senhor falou que faltava ao Cabaret um protocolo junto à Secretaria do Urbanismo.
Goulart — Eu não sei o que era, mas eu sei que não era uma ação que fosse implicar perigo de incêndio. Era uma coisa de obra. Parece que eles não levaram um papel.
ZH — Mas não há um trabalho integrado entre as secretarias para evitar esse descompasso?
Goulart — Nós trabalhamos de forma integrada nos resultados, não na análise. Só vem para gente para o resultado final.
ZH — Não se corre o risco de acabar tendo furos?
Goulart —Não, cada um tem uma coisa diferente para analisar. E depois juntamos as análises.
ZH — Dá para confiar nessa fiscalização?
Goulart — Dizem que o fato de ter revisão não vai dar incêndio. Não é verdade, vai dar incêndio, sim. O que nós queremos é que, se acontecer, que se tenha condições de se safar.
ZH — O senhor chegou a chamar o Cabaret de pocilga.
Goulart — É uma pocilguinha, mesmo.
ZH — Por que foi liberado, então?
Goulart — Porque os bombeiros olharam e disseram que estava apta para funcionar. Os bombeiros atestaram que tinha marcações de luz, saídas, tudo certinho.
ZH — O senhor acha que pode ter ficado algum problema?
Goulart — Acho que não. O incêndio não tem nada a ver com condições de segurança para as pessoas.
ZH — O senhor falou que o trabalho de fiscalização vai continuar no mesmo ritmo.
Goulart — Sim, até o dia 15 devemos apresentar um boletim para o prefeito. Já fizemos visitas em 150 casas noturnas e 84% delas foram interditadas. Muitas estão reabrindo em situações melhores.
Sócio do Cabaret e secretário da Smic trocam xingamentos
Durante perícia realizada na boate Cabaret nesta manhã em busca de pistas sobre o incêndio, Carlos Beust Oliveira, um dos sócios da casa noturna, protagonizou uma discussão com o secretário da Produção, Indústria e Comércio (Smic), Humberto Goulart.
Casa noturna publica nota sobre incêndio: "Força e amor a todos!". Cabaret, localizado na Avenida Independência, foi atingido por chamas na noite de sábado
Site do Cabaret publicou manifestação sobre incidente na noite de sábado
Foto: reprodução / http://www.cabaretpoa.com.br/
A casa noturna Cabaret, localizada na Avenida Independência, em Porto Alegre, publicou por volta das 22h uma nota em seu site sobre o incêndio que atingiu o local na noite deste sábado. Texto semelhante foi divulgado na página oficial da casa no Facebook. A equipe informa que não houve feridos e diz que ainda não é conhecida a causa do incêndio.
A casa noturna Cabaret, localizada na Avenida Independência, em Porto Alegre, publicou por volta das 22h uma nota em seu site sobre o incêndio que atingiu o local na noite deste sábado. Texto semelhante foi divulgado na página oficial da casa no Facebook. A equipe informa que não houve feridos e diz que ainda não é conhecida a causa do incêndio.
Confira a íntegra:
Pessoal,
Nosso querido Cabaret está com a equipe de Bombeiros neste momento controlando um incêndio. Mas tudo está bem, ninguém se feriu: a equipe do bar ainda não havia entrado na casa; nos deparamos com o incêndio assim que chegamos. Até o momento não se tem notícias de como começou...
No momento estamos sem maiores detalhes, e vamos informar a todos assim que soubermos mais. Força e amor a todos!
Pessoal,
Nosso querido Cabaret está com a equipe de Bombeiros neste momento controlando um incêndio. Mas tudo está bem, ninguém se feriu: a equipe do bar ainda não havia entrado na casa; nos deparamos com o incêndio assim que chegamos. Até o momento não se tem notícias de como começou...
No momento estamos sem maiores detalhes, e vamos informar a todos assim que soubermos mais. Força e amor a todos!
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