Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

ENTRE A DIVERSÃO E O PERIGO



ZERO HORA 17 de fevereiro de 2015 | N° 18076

 

ANDREIA FONTANA*


A gente só quer que os filhos sejam felizes. Só. Então, fazemos de tudo para encher as férias dos pequenos de curtição. Se banhos de mar e piscina, além de refrescar, adoçam a infância, é para eles que a gente corre.

Foi de uma piscina de Santa Maria que uma família viu a menina de oito anos sair desacordada depois de ter os cabelos sugados pelo ralo, no dia 9. Um dia depois, foi da sacada de um hotel de Capão que Thiago despencou.

Acidentes ocorrem o tempo todo. Já busquei por uma das gêmeas de uma amiga durante duas horas à beira-mar, numa agonia crescente de procurar na areia, olhar para a água, procurar na areia, olhar para a água, ligar para a polícia, avisar salva-vidas. E também já chorei a morte de um bebê, filho de uma querida colega, afogado na piscina do quintal.

Ouço a notícia da menininha minutos após festejar que minha Helena, de dois anos, aprendera a “nadar” com boias. E me lembro: não tem ralo antissucção na piscina de casa. Também não tem grade de proteção. Ao lado, meu colega já fala em aterrar a piscina do pátio dele.

Não temos cultura de prevenção. Prestamos atenção nas saídas de emergência depois da Kiss. Passamos a nos preocupar com o ralo da piscina após saber da menininha de Santa Maria. Mesmo assim, notícias assim trazem sempre as perguntas: e a mãe, onde estava? E o pai? Não tinha adulto com essa criança?

Sei que o amor desses pais por seus filhos não é menor do que o meu pela Helena. Uma mãe descuidou mais do que você se imaginaria distrair? Outro pai só piscou, e a filha sumiu? Seja você o pai ou a mãe que for, não conseguirá ensinar o filho a caminhar sem alguns tombos. Não o incentivará a dar as primeiras braçadas sem que beba um pouco d’água.

Além dos pais, a vida moderna leva também as mães a encarar 335 dias de horas quase inteiramente preenchidas por atividades. Nos 30 dias que sobram do ano, o pensamento vai longe. Sem querer, damos segundos de férias à atenção.

Em vez de gastarmos tempo julgando os adultos que também foram vítimas desse tipo de acidente, sugiro que fiquemos com a lição: redobrar a prevenção e a atenção com os nossos filhos. Somos pais e mães com o grande desafio de encontrar o equilíbrio entre a diversão e o perigo.


*JORNALISTA, EDITORA-CHEFE DO DIÁRIO DE SANTA MARIA

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