REVISTA ISTO É N° Edição: 2239 | 05.Out.12
Dinheiro que deveria servir para amparar cidades afetadas por desastres naturais foi parar no financiamento de campanhas
Izabelle Torres
Catástrofes
naturais não servem apenas para turbinar discursos de políticos que
tentam se eleger nos municípios abalados por essas tragédias. Um
cruzamento de informações realizado por ISTOÉ mostra que desastres
viraram fonte de recursos para encher caixas de campanha. Em cidades de
diferentes regiões do País há indícios de troca de favores entre
construtoras beneficiadas com contratos sem licitação e candidatos em
busca de doações eleitorais. O socorro aos flagelados vem sumindo pelos
esgotos da corrupção política.
Os casos são tão variados quanto chocantes. Em Campo Grande, por
exemplo, o candidato a prefeito Edson Giroto (PMDB) recebeu
financiamento de pelo menos duas empreiteiras que prestaram serviços à
prefeitura ou ao Estado, que é comandado pelo aliado André Puccinelli
(PMDB). Uma delas, a Rosa Acorsi Engenharia, embolsou meio milhão do
governo pela prestação de serviços que tiveram o próprio Giroto como
ordenador de despesas, quando ele era secretário de obras. Em Alagoas,
uma mesma empreiteira negociou com políticos de partidos diferentes, mas
que se valem do cargo para inchar o caixa de campanha. A Arquitec
lidera os contratos de casas populares no município alagoano de Penedo,
onde também reconstruiu creches e escolas. Não por acaso, ela é a maior
doadora da campanha de reeleição do prefeito Israel Saldanha (DEM), que a
contratou sem licitação. A construtora consta da lista de fornecedores
de obras emergenciais de outras cidades alagoanas e também fez doações
ocultas para a campanha de Ronaldo Lessa (PDT) à Prefeitura de Maceió.
Para não aparecer, ela entregou pelo menos R$ 200 mil ao partido do
candidato, que encaminhou o dinheiro à campanha do pedetista. A manobra
tem razão de ser: na semana passada, a empreiteira foi condenada a
devolver cerca de R$ 26 milhões aos cofres públicos. O dinheiro, segundo
o Ministério Público, foi desviado do superfaturamento da obra do
Hospital Geral do Estado, realizada na gestão de Lessa em Alagoas. Em
Camaçari (BA), São José do Rio Preto (SP) e Florianópolis (SC), há
escândalos semelhantes. A capital catarinense foi a única do País onde
as irregularidades graves fizeram o Ministério da Integração sustar o
repasse de R$ 10 milhões destinados a obras de contenção na praia do
Pântano do Sul.
REFORÇO
Em Campo Grande, o candidato a prefeito Edson
Giroto (PMDB) recebeu financiamento de pelo menos
duas empreiteiras que prestaram serviços à prefeitura
Apesar
da dificuldade para recuperar o dinheiro desviado, é possível punir
infratores. No Rio de Janeiro, os prefeitos de Nova Friburgo e
Teresópolis perderam os cargos e estão fora das eleições deste ano. Eles
foram responsabilizados junto com as empreiteiras contratadas pelos
desvios dos recursos emergenciais. Nos dois municípios, a lentidão na
reconstrução e as irregularidades praticadas transformaram a tragédia na
principal plataforma eleitoral dos candidatos, que agora se preocupam
em ocultar as doações recebidas para não deixar pistas em contratos
futuros.
Foto:Jadson Marques; Daniel Marenco/Folhapress
Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.
sábado, 6 de outubro de 2012
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