CARLOS WAGNER E LIZIE ANTONELLO
TRAGÉDIA NA KISS. Reaberto inquérito da Hidramix
Ex-mulher e ex-sócia de dono de empresa que prestava serviço de prevenção contra incêndio revela suposta propina a bombeiros
No dia em que a maior tragédia do Estado completou 14 meses, um depoimento trouxe novas informações ao caso da Hidramix, empresa que prestou serviços na área de prevenção a incêndios para a boate Kiss e que é investigada em um inquérito policial, em um inquérito policial militar e em um inquérito civil público. As declarações de Gilceliane Freitas Dias, 36 anos, ex-mulher do bombeiro Roberto Flavio da Silveira e Souza, ex-sócios da empresa, fez a Polícia Civil decidir pela reabertura do inquérito sobre tráfico de influência e corrupção ativa por parte do servidor público.
Oincêndio que vitimou 242 pessoas trouxe à tona um possível favorecimento da Hidramix dentro do Corpo de Bombeiros. Um dos serviços realizados pela Hidramix foi na boate Kiss, conforme revelou Zero Hora dias após a tragédia. A empresa foi contratada, em 2012, para instalar barras antipânico na boate.
Conforme o depoimento, empresários diziam que “se não fosse com a Hidramix, não conseguiam obter os alvarás de combate a incêndio”.
O fato foi investigado pela 1ª Delegacia da Polícia Civil, em um inquérito de 437 folhas, mas encerrado sem indiciamento.
Para a polícia, Gilceliane era a testemunha que faltava. Além de ter sido mulher do bombeiro por sete anos, ela administrava a empresa. A mulher, que se separou há pouco tempo de Souza, chegou à Delegacia Regional às 9h de ontem com uma pasta nas mãos para prestar depoimento. Saiu cerca de 20 minutos depois e retornou pouco antes das 10h, com 13 cadernos, 14 agendas e diversos documentos da empresa, como cópias de contratos sociais, notas e orçamentos feitos pela Hidramix nos últimos anos. Entregou tudo ao delegado Sandro Meinerz, que responde interinamente pela Delegacia Regional, e aos escrivães da DP.
Em depoimento, a mulher disse que Souza coordenava um suposto esquema de comissões ilegais pagas a bombeiros que indicavam a Hidramix para serviços na área de prevenção. Pela indicação, recebiam 10% do valor da obra como uma espécie de comissão. Diante dos novos fatos, o inquérito será reaberto.
– Ela traz novas informações, que serão analisadas. As indicações dos serviços executados e pagos rendiam aos bombeiros que indicassem 10% de comissão – disse o delegado Sandro Meinerz, sobre as declarações de Gilceliane.
Bombeiros indicavam empresaTRAGÉDIA NA KISS. Reaberto inquérito da Hidramix
Ex-mulher e ex-sócia de dono de empresa que prestava serviço de prevenção contra incêndio revela suposta propina a bombeiros
No dia em que a maior tragédia do Estado completou 14 meses, um depoimento trouxe novas informações ao caso da Hidramix, empresa que prestou serviços na área de prevenção a incêndios para a boate Kiss e que é investigada em um inquérito policial, em um inquérito policial militar e em um inquérito civil público. As declarações de Gilceliane Freitas Dias, 36 anos, ex-mulher do bombeiro Roberto Flavio da Silveira e Souza, ex-sócios da empresa, fez a Polícia Civil decidir pela reabertura do inquérito sobre tráfico de influência e corrupção ativa por parte do servidor público.
Oincêndio que vitimou 242 pessoas trouxe à tona um possível favorecimento da Hidramix dentro do Corpo de Bombeiros. Um dos serviços realizados pela Hidramix foi na boate Kiss, conforme revelou Zero Hora dias após a tragédia. A empresa foi contratada, em 2012, para instalar barras antipânico na boate.
Conforme o depoimento, empresários diziam que “se não fosse com a Hidramix, não conseguiam obter os alvarás de combate a incêndio”.
O fato foi investigado pela 1ª Delegacia da Polícia Civil, em um inquérito de 437 folhas, mas encerrado sem indiciamento.
Para a polícia, Gilceliane era a testemunha que faltava. Além de ter sido mulher do bombeiro por sete anos, ela administrava a empresa. A mulher, que se separou há pouco tempo de Souza, chegou à Delegacia Regional às 9h de ontem com uma pasta nas mãos para prestar depoimento. Saiu cerca de 20 minutos depois e retornou pouco antes das 10h, com 13 cadernos, 14 agendas e diversos documentos da empresa, como cópias de contratos sociais, notas e orçamentos feitos pela Hidramix nos últimos anos. Entregou tudo ao delegado Sandro Meinerz, que responde interinamente pela Delegacia Regional, e aos escrivães da DP.
Em depoimento, a mulher disse que Souza coordenava um suposto esquema de comissões ilegais pagas a bombeiros que indicavam a Hidramix para serviços na área de prevenção. Pela indicação, recebiam 10% do valor da obra como uma espécie de comissão. Diante dos novos fatos, o inquérito será reaberto.
– Ela traz novas informações, que serão analisadas. As indicações dos serviços executados e pagos rendiam aos bombeiros que indicassem 10% de comissão – disse o delegado Sandro Meinerz, sobre as declarações de Gilceliane.
Pelo menos três empresários do ramo da construção civil confirmaram que, até a tragédia da Kiss, contratavam “empresas ou pessoas” indicadas pelos bombeiros.
Além de falar com os construtores, repórteres foram a 10 empresas que teriam contratado a Hidramix para serviços na área de prevenção de incêndio. Em duas delas, os responsáveis não foram encontrados. Outras duas não quiseram falar com a equipe quando souberam que o assunto era Hidramix. Das seis restantes, uma disse que a empresa foi contratada por meio de concorrência e as outras cinco confirmaram terem contratado a Hidramix por algum tipo de indicação, ou via engenheiros ou dos bombeiros que trabalhavam na Seção de Prevenção a Incêndios (SPI) nas épocas em que as obras foram feitas, antes da tragédia.
– Não conseguíamos aprovação nos bombeiros se não fosse com a Hidramix – conta um empresário que, por anos, contratou a Hidramix para conseguir renovação de alvará de prevenção a incêndios junto ao Corpo de Bombeiros.
SOB SUSPEITA - As ligações com a corporação
- A Hidramix Prestação de Serviços (Silveira e Souza Prestação de Serviços Ltda) foi aberta em 2003, como prestadora de serviços na área de prevenção a incêndios, tendo como sócio majoritário o bombeiro Roberto Flavio da Silveira e Souza.
- Ao longo dos anos, Souza passou de sócio majoritário para minoritário e a empresa teve cinco alterações no contrato social. No ano passado, o bombeiro saiu da sociedade.
- Em 2012, a empresa, supostamente indicada pelo Corpo de Bombeiro, colocou barras antipânico na boate Kiss, conforme revelou ZH.
- No ano passado, um Inquérito Policial-Militar indiciou Souza por exercício ilegal da profissão pelo fato de ele ser bombeiro e, ao mesmo tempo, dono de uma empresa que presta serviço de prevenção contra incêndio. Na esfera administrativa, a Brigada Militar decidiu exonerá-lo, o que ainda não aconteceu.
- Em março do ano passado, a Polícia Civil investigou o suposto tráfico de influência envolvendo bombeiros e a Hidramix. O inquérito foi encerrado e remetido à Justiça, em janeiro deste ano, sem indiciamento.
CONTRAPONTOS
O que diz o bombeiro Roberto Flavio da Silveira e Souza, ex-proprietário da Hidramix - A reportagem ligou para o celular de Souza, mas o dono de um estabelecimento no município de Formigueiro, cidade vizinha a Santa Maria, informou que o bombeiro teria esquecido o aparelho lá.
O que diz o advogado Diego Flores de Oliveira, um dos defensores do bombeiro Roberto Flavio da Silveira e Souza - “Houve investigações nesse sentido, mas não se comprovou nada. Tanto que não foi objeto de denúncia”.
O que diz o comandante do 4º Comando Regional de Bombeiros, tenente-coronel Luís Marcelo Gonçalves Maya - “O sargento respondeu a dois IPMs, um inquérito policial e outra investigação do MP. Desconheço que tenham, durante as investigações, apurado a existência do sistema de propinas denunciado pela senhora. Mas se ela denunciar, nós vamos investigar”.
ENTREVISTA
“Recebiam 10% como comissão”
Ex-mulher e ex-sócia do bombeiro Roberto Flavio da Silveira e Souza na empresa Hidramix, Gilceliane Dias Freitas revelou que a empresa pagava comissão para bombeiros indicarem a firma para empresários.
Confira trechos da entrevista concedida dias antes de Gilceliane prestar depoimento à Polícia Civil.
Diário de Santa Maria – Como as empresas chegavam até a Hidramix?
Gilceliane – As empresas procuravam os bombeiros para legalizar a situação. Eles indicavam a Hidramix para fazer o serviço. E recebiam 10% do valor como comissão. Eles vinham aqui (na empresa) receber.
DSM– Como era a negociação?
Gilceliane – O bombeiro vinha aqui e dizia: “consegui tal serviço para ti” e, aí, ele (Souza) dava uma propina para ele.
Diário – Era a senhora a que fazia o pagamento?
Gilceliane – Não, eu testemunhei ele fazer vários pagamentos.
DSM – Ficou algum documento desses pagamentos?
Gilceliane – Não. Era tudo feito “de boca”, e o pagamento em dinheiro vivo.
DSM – Você conhece os bombeiros que receberiam comissão?
Gilceliane – Lembro do nome de guerra de quatro deles (os nomes serão investigados pela polícia).
DSM – O serviço prestado para Kiss também foi indicado por um bombeiro?
Gilceliane – Sim, seguiu o mesmo esquema.
DSM – Além da colocação da barra antipânico, a Hidramix prestou outros serviços para Kiss?
Gilceliane – Que eu saiba, não. Inclusive, fiz uma pesquisa nos nossos arquivos e não encontrei nada.
DSM – O que a levou à separação de vocês dois, o caso Kiss?
Gilceliane – O motivo principal foi traição, eu coloquei um detetive e descobri que ele tem outra.
GILCELIANE DIAS FREITAS, EX-SÓCIA DA HIDRAMIX