Sirenes soaram em favelas com áreas de risco; comunidade sem o sistema teve problemas - O GLOBO, 26/04/2011 às 23h45m; Ana Cláudia Costa, Taís Mendes e Thamyres Dias - do Extra
RIO - Inaugurado em janeiro deste ano, o sistema de alerta da prefeitura para moradores de áreas de risco - em que sirenes soam quando a chuva, medida por pluviômetros, atinge uma intensidade capaz de provocar deslizamentos de terra - foi aprovado após passar por uma prova de fogo no temporal de terça-feira . Os alarmes tocaram, a intervalos de dez minutos, em 11 comunidades da Grande Tijuca, levando 122 moradores a deixarem às pressas suas casas à procura de um abrigo seguro. Mas nem todos desceram. Além disso, comunidades que não contam com o sistema tiveram problemas.
As áreas que ganharam o equipamento são os morros do Borel, Formiga, Chacrinha, Cotia, Encontro, Santa Terezinha, Morro da Liberdade, Matinha, Dona Francisca, Cachoeira Grande e Macacos. No Morro São João, no Engenho Novo, dois barracos na Rua Abatirá desabaram na terça-feira, aumentando a sensação de insegurança. Duas crianças ficaram soterradas. Uma delas - Carlos Henrique, de 9 anos, - foi levada para o Hospital do Andaraí e está fora de perigo. A tia do menino, Claudilene Ventura, de 32 anos, não sabe por onde recomeçar.
- Perdi tudo, só fiquei com a roupa do corpo. Agora estamos morando no barraco da minha irmã, aqui no morro mesmo. Quero sair daqui, mas não tenho pra onde ir - contou Claudilene, que dividia a casa com oito pessoas, sendo sete crianças.
Na Formiga, alerta soou durante toda a madrugada
No Morro da Formiga, por exemplo, o barulho das sirenes - instaladas em três pontos da favela - começou por volta das 19h30m de terça-feira e só parou às 5h30m de quarta. A maioria dos moradores de áreas de risco reconheceu o chamado urgente e foi procurar onde ficar. Alguns elegeram casas de parentes; outros, um dos três abrigos à disposição na comunidade para estas ocasiões - duas igrejas e a sede da associação de moradores. A empregada doméstica Gisele Gomes da Silva foi para a casa do irmão:
- Para falar a verdade, não queria sair de casa. Mas a sirene tocava sem parar e aquilo foi me deixando nervosa. Foi como se fosse a voz da consciência. Peguei as crianças e saí correndo.
A mesma coisa fez a diarista Cristiane Maria da Conceição, de 40 anos, que saiu de casa com os três filhos, por volta das 21h de terça-feira. Para ela, a sirene teve sua prova de fogo neste temporal e mostrou que dá bons resultados:
- Antes, o único barulho que ouvíamos era o das casas já caindo e os moradores desesperados gritando por socorro. Agora, já temos como saber que a chuva está muito forte e devemos procurar abrigo.
Até mesmo quem não fez muita fé nas sirenes comprovou a eficácia do equipamento, como o dançarino Alan Pereira da Silva, de 25 anos. Morador da localidade Vila Rica, no alto do Morro da Formiga, ele ignorou os avisos. Durante a madrugada, uma das paredes do barraco em que ele morava ruiu com a chuva. Alan, dois filhos, uma tia e dois sobrinhos somente se salvaram porque ele ouviu antes o barulho da terra caindo. Ao lado da parede, estava a cama de casal onde a família dormia.
- Ouvi a primeira sirene por volta das 19h de anteontem. Depois, várias outras, mas não quis sair de casa porque achei que essas coisas só acontecem com os outros. Ainda bem que eu estava acordado e conseguimos sair a tempo - disse ele.
As sirenes não foram a única forma eficaz de alerta. Líderes comunitários receberam um telefone celular da prefeitura, que seria usado em casos de emergência. A presidente da Associação de Moradores do Morro dos Macacos, Janaína Maria da Silva, foi uma das primeiras a saber do caos que a cidade viveria: às 16h30m, ela recebeu uma mensagem de celular avisando que havia previsão de chuvas fortes. Ao todo, o alerta foi dado mais de quinze vezes. Durante a noite, a comunicação com a Defesa Civil foi constante:
- Falava por telefone com uma equipe a todo o momento.
Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
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