Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

SECA NO RS, QUEM SÃO OS CULPADOS?

 
JORNAL DO COMÉRCIO, 13/06/2012

Isnar Ruas, jornalista

Os jornais estão noticiando que o Estado investiu só 13,5% do necessário para prevenir a seca, ou seja, dos R$ 2 bilhões estimados para reduzir os efeitos do descontrole no abastecimento, apenas R$ 275,5 milhões foram aplicados desde 2011. Quem são os culpados pela falta de providências?

Eu me lembro bem que há 60 anos, em 1952, a então Superintendência do Desenvolvimento Econômico da Fronteira Sudoeste do País, que tinha a sigla de Sudesul, contratou técnicos especializados judeus para o desenvolvimento de um projeto destinado a sanar o problema de uma vez por todas, com a construção de barragens e de poços artesianos em pontos estratégicos da fronteira sudoeste. O projeto foi elaborado, após muitas viagens de um lado para outro. Os técnicos de Israel receberam o que lhes era devido, mas antes do início das obras no território gaúcho aconteceu um desastre: o Ministério do Interior, a que a Sudesul era subordinada, foi extinto. Depois de certo tempo, a Sudesul teve igual destino.

O projeto foi guardado em uma velha casa na Cidade Baixa, que sofreu um alagamento e deixou de existir. Nenhuma providência foi tomada. Em consequência, aumentou o problema na Fronteira, se formaram extensos desertos, no município de Alegrete, por exemplo, e em outros, com falta d´água inclusive para a população.

Então se pergunta: quem são os culpados? Evidentemente que nenhuma culpa cabe à Sudesul, autora de excelentes trabalhos em toda a região, como previu o seu idealizador, deputado federal Rui Ramos, de saudosa memória que faleceu juntamente com sua esposa em desastre de avião, nem tampouco aos idealizadores do acordo com técnicos de Israel. Mas então culpar a quem? Quando se extingue um organismo como foi o caso da Sudesul, sem o menor cuidado, o que se pode esperar? Os prefeitos da Confederação Nacional de Municípios (CNM) poderiam fazer uma marcha a Brasília, para reivindicar a construção de poços artesianos, antes que o problema assuma proporções de difícil solução. 

sábado, 9 de junho de 2012

DESCOMPROMISSO COM O AMBIENTE



EDITORIAL ZERO HORA 09/06/2012


É preocupante a conclusão do relatório Panorama Ambiental Global, o GEO-5, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), de que apenas quatro de 90 metas ambientais importantes definidas nos últimos 40 anos registraram avanços significativos. Traduzindo a ideia para uma linguagem mais acessível aos brasileiros, as metas ambientais estariam divididas entre as que “pegam” e as que “não pegam”. Segundo o Pnuma, houve importante avanço na erradicação do uso de substâncias nocivas à camada de ozônio, na eliminação do uso de chumbo em combustíveis, na ampliação do acesso a fontes de água potável e no aumento das pesquisas sobre a poluição dos mares.

Entre os outros 86 objetivos analisados pelo órgão, 40 registraram poucos avanços e 24 praticamente não apresentaram progressos. Finalmente, 14 não puderam ser avaliados em razão de falta de informações. Entre os terrenos em que as melhorias estão estacionadas, estão o combate às mudanças climáticas e a preservação dos estoques pesqueiros. A proteção de recifes de corais registrou retrocesso – a redução dessas formações desde 1980 foi de 38%.

Trata-se de um balanço modesto se for considerado o peso que a questão ambiental adquiriu nas agendas políticas mundial e nacionais nos últimos 40 anos e o próprio fato de que as organizações não governamentais, das quais uma fatia não desprezível se dedica a causas ecológicas, já foram definidas como “a segunda superpotência global”. Está certo o diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner, em identificar nas conclusões do relatório “uma mensagem direta para os líderes que vão se reunir na Rio+20”.

Por mais pessimista que seja o cenário atual, há bons motivos para se acreditar que a conferência a ser realizada no Rio entre os próximos dias 20 e 22 seja capaz de produzir resultados mais alvissareiros do que os de sua homóloga, em 1992. O advento da sociedade em rede possibilitou a disseminação de informações sobre a questão ambiental, as empresas estão definitivamente integradas ao debate sobre o tema e governos e organismos multilaterais têm iniciativas concretas para discutir o assunto. Isso ficou patente quando o Banco Mundial conseguiu este ano, pela primeira vez, reunir ministros de Economia do mundo inteiro para abordar o desenvolvimento sustentável.

O recente debate sobre as mudanças no Código Florestal mostrou que o povo brasileiro está mais preocupado do que nunca com as questões referentes a preservação ambiental, uso sustentável de recursos naturais e impacto do desequilíbrio ecológico na qualidade da vida humana e de outras espécies. Será difícil retroceder desse patamar de conscientização, que começa a se estabelecer desde os bancos escolares. Segundo recente pesquisa do Ministério do Meio Ambiente, aproximadamente 13% dos brasileiros dizem ter preocupação com o ambiente, mais do que o dobro dos 6% registrados há seis anos. Está na hora de os mandatários brasileiros refletirem sobre as implicações dessa nova atitude e passarem a agir em consonância com esse novo movimento.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

PASSOS DE TARTARUGA CONTRA A SECA NO RS


Solução distante- ZERO HORA, 08/06/2012 | 06h19

Obras contra a seca avançam a passos de tartaruga no Estado

Dos mais de R$2 bilhões necessários para combater os efeitos da estiagem, apenas 13,6% foram investidos até agora - Marielise Ferreira.


Os períodos de seca com grandes perdas são previsíveis, mas, mesmo assim, as obras necessárias para acabar com a falta de água no Estado, andam vagarosamente. De 2011 até agora, apenas 13,5% do total necessário (mais de R$ 2 bilhões) para acabar com a falta de água foi gasto com obras emergenciais, enquanto 143 municípios estão em situação de emergência e oito enfrentam racionamentos de água no meio urbano.
Registros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais apontam ocorrências do fenômeno La Niña desde 1890. Períodos de grandes secas são cíclicos no Estado e deixam perdas na agricultura e no abastecimento humano. Apesar disso, a prevenção sempre é preterida e as obras acontecem de forma emergencial, quando as perdas já são irreparáveis.
— O Estado tem que buscar formas de armazenar água e de melhorar a sua qualidade. Temos 5,4 milhões de hectares em áreas plantadas no Estado e menos de 100 mil delas tem irrigação, o que mostra que há um longo caminho pela frente — avalia o diretor do Departamento de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Marco Mendonça.
O Estado carece de informações sobre a atual situação do uso da água. Estudos feitos pela Emater em 2007 mostram a existência de 33 mil açudes, mas apenas 10% destes foi outorgado pela Secretaria. Com 450 mil propriedades rurais no Estado, apenas 4 mil poços foram outorgados nos últimos três anos, mas o mesmo número de pedidos está numa lista de espera. Depois de ficar sem geólogos para analisar os processos durante todo ano de 2010, a Secretaria ainda trabalha para colocar o trabalho em dia. Os pedidos para abastecimento público tem prioridade e são colocados à frente, mas mais de 60% dos processos acabam sendo devolvidos por erros na documentação.

Em vídeo, veja efeitos da seca no Estado:
 
Os estudos das bacias hidrográficas do Estado, que poderiam dimensionar quanta água existe em cada região frente ao número de usuários, também é um processo lento e que depende das instituições ligadas a cada região. Das 25 bacias existentes no Estado, apenas sete estão em fase de conclusão dos estudos. Outras seis tem o trabalho em andamento, e 12 sequer iniciaram os estudos que poderiam apontar as formas de lutar contra a seca, e as necessidades de cada região. Conforme Mendonça, é unanimidade em todos os comitês de bacia hidrográfica a necessidade de armazenar água para períodos de estiagem.
— Leva de um ano e meio a dois anos para fazer cada estudo, ao custo de R$ 1,5 milhão para cada bacia. Vamos passar por muitas secas antes que o trabalho esteja pronto — salienta.
Ao olho da lei, cabe a cada município elaborar uma política de abastecimento para que não falte água para ninguém. Conforme o promotor Maurício Sanchotene de Aguiar, da promotoria ambiental, União e Estado podem contribuir com obras e recursos, mas a titularidade é do município e da companhia com quem ele tem contrato. Isto não impediu que Erechim, no norte do Estado, vivesse, pela terceira vez em 10 anos, outro longo período de racionamento. Nem que Bagé, no sul do Estado, sofresse com a falta de água nas torneiras.
Sete municípios do Estado enfrentam racionamento de água no perímetro urbano e um oitavo está em estado de alerta e teve o racionamento suspenso até dia 12. Mas as obras para o enfrentamento da seca acabaram sendo emergenciais. Vacaria e Passo Fundo tiveram obras de transposição de rios iniciadas há 15 dias e que aguardam a entrada em operação para reduzir o sofrimento da falta de água.
— Esta seca é excepcional, não se verificavam níveis tão baixos há mais de 60 anos, então não é parâmetro — avalia o diretor de operações da Corsan, Ricardo Rover Machado.
Para enfrentar a seca deste ano, já prevista, a companhia fez uma campanha de controle de perdas e conserto de redes para evitar vazamento. Foram R$ 7 milhões investidos em obras emergenciais para garantir o mínimo de efeito da seca. Outros R$ 930 milhões serão gastos na ampliação de capacidade de barragens até 2015 e o dobro deste valor será aplicado em esgotamento sanitário. Com este investimento, a companhia acredita que poderá manter as torneiras com água por, pelo menos, 30 anos.
O estado das áreas afetadas:
Municípios em situação de emergência — 143
Moradores atingidos pela seca no Estado — 750 mil
Moradores atingidos pelo racionamento — 285 mil