Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

KISS: A VISÃO DE UM BOMBEIRO MILITAR

ZERO HORA 18 de fevereiro de 2014 | N° 17708

ARTIGOS

por Gerson da Rosa Pereira*




“Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir.” Sir Winston Churchill



Manifesto meu pesar aos familiares que perderam sua maior preciosidade e vêm vivendo uma dor que jamais conseguiremos sentir por maior que seja nossa empatia.

Após a tragédia, nos vimos envoltos numa teia de assertivas falsas, apressadas e, aparentemente, orquestradas. A combinação leviana de investigação policial com jornalismo investigativo parcial formatou a opinião pública numa equação simplista: incêndio x bombeiros; bombeiros x responsabilidade pela tragédia, sem considerar outros coadjuvantes nesta divina comédia dantesca.

Passado um ano, descortina-se a “quase verdade”, pois muito ainda precisa ser desvendado. Primeiro: nenhum bombeiro praticou qualquer modalidade de homicídio culposo ou doloso, mesmo porque seria inédito na história mundial homens com uma trajetória de bem fazer pela humanidade destoarem de seu juramento. Segundo: faltou uma análise acurada das técnicas mundiais de prevenção, combate a incêndios e salvamento para as autoridades públicas entenderem os fenômenos físico-químicos do backdraft, flashover e técnicas de ventilação natural ou forçada vertical com uso de neblina para diminuição de calor e fumaça tóxica em ambientes fechados.

Faltou capacidade técnica para análise das normas brasileiras e estaduais sobre prevenção a incêndios. Faltou uma investigação desprovida de pressa e emoção. Faltou profissionalismo. Nossas falhas enumero: falta de uma legislação forte que nos assegurasse poderes de interdição; falta de normas técnicas brasileiras claras; falta de engenheiros com qualificação na área de segurança contra incêndios; engenheiros oriundos das universidades sem disciplinas de prevenção e resistência de materiais; falta de uma legislação federal uniforme aos moldes de um código nacional de trânsito; descaso do empresariado e representantes do poder público em atender exigências de segurança em edificações; descaso governamental em fazer investimentos no Corpo de Bombeiros, tanto em recursos humanos quanto em materiais; nossa passividade e ignorância em frequentar lugares inseguros sem reclamar nosso direito de segurança como afirma a Constituição Federal; nossa grande capacidade “do jeitinho” substituindo materiais ignífugos pelos mais “baratos”; a indústria química que desenvolve produtos mortíferos e os comercializa sem qualquer restrição; a “velha mania” de driblar as fiscalizações públicas com laudos enganosos; poderes públicos que não se conversam e geram TAC, multas e notificações e se esquecem ou desconsideram que têm responsabilidade determinada, enfim, a culpa é dos bombeiros. Simples assim? Claro. Afinal, alguém tem que ser responsável e preferencialmente alguém que não tenha defesa institucional e governamental.

*MAJOR QOEM E ESPECIALISTA EM SEGURANÇA PÚBLICA

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