Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

RADIOGRAFIA DE DESASTRES

FOLHA.COM 09/05/2014 02h00


EDITORIAL



A 11ª edição da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic 2013) do IBGE, uma radiografia administrativa das 5.570 cidades do Brasil, pela primeira vez incluiu dados sobre a estrutura dos governos locais para reagir a desastres naturais. A imagem obtida suscita alguma preocupação.

Segundo as informações colhidas das prefeituras, num intervalo de cinco anos (2008-2012), 2.065 municípios (37% do total) sofreram alagamentos; no Rio de Janeiro, esse contingente foi de 88%.

Cifras um pouco mais baixas, mas ainda notáveis, resultam da ocorrência de enchentes: 1.543 cidades (27,7% do total), com 1,4 milhão de desabrigados no período. Idem para enxurradas, com 1.574 municípios (28%) e 776 mil desabrigados. E nada menos que 900 deles enfrentaram os dois flagelos.

São números alarmantes, sobretudo quando se toma em conta que só um terço dessas cidades conta com estruturas de prevenção, seja por meio do planejamento da ocupação do solo, seja para remover a população de áreas de risco. Mais ainda, é também de apenas um terço a parcela das cidades que dispõe de serviços emergenciais.

Há boas notícias na Munic 2013, entretanto. Nas cidades com mais de 500 mil habitantes, onde se concentra boa parte da população vulnerável, as estruturas administrativas para prevenir essas ocorrências estão presentes na proporção de 71,1% (nas menores, até 5.000 moradores, o índice cai para 26,6%).

É plausível que muitos dos municípios estejam no caminho de criar tais serviços, quase que obrigatórios num país tropical.

Indício desse avanço está no fato de que 90% já possuem algum tipo de órgão ambiental, percentual comparável ao de repartições municipais dedicadas à saúde. Verdade que só metade das prefeituras tem seu Plano Diretor, mas muitas decerto não contam com a capacidade administrativa para desenvolvê-lo nem com uma Câmara Municipal preparada para o desafio.

De todo modo, preparar-se para enchentes e deslizamentos é um imperativo ao qual prefeitos e vereadores não têm como se esquivar. Não só porque esse gênero de desastre natural já vitimou brasileiros demais, mas também porque –se verificadas as previsões dos cientistas quanto à mudança do clima mundial– grandes tempestades se tornarão mais frequentes nas próximas décadas.

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