Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

TRAGÉDIAS E OMISSÕES


EDITORIAL ZERO HORA 19/12/2011

A confissão do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, de que o governo federal ainda não adotou todas as providências capazes de evitar mortes em enxurradas e deslizamentos no período de chuvas intensas que se aproxima, deveria ser feita também por muitos governadores e prefeitos. Todas as esferas da administração pública, e não só a União, foram demasiadamente lentas na adoção de medidas preventivas, depois das tragédias dos últimos anos. Disse o ministro que, em decorrência das chuvas, “morrerão pessoas neste verão”, sem que o governo possa interferir de forma mais efetiva em áreas de risco.

Mesmo que se reconheça que nenhum governo será capaz de evitar todas as tragédias com acidentes naturais, as autoridades poderiam trabalhar no sentido de atenuar seus efeitos. As áreas de alto risco são conhecidas e independem de mapeamentos, como os que vêm sendo realizados por vários órgãos. As prefeituras sabem onde há moradores em regiões sujeitas a desmoronamentos. Os Estados também dispõem de informações, mesmo que parciais, sobre esses locais. Claro que ações mais drásticas dependem da retirada dessas pessoas, com custos financeiros e sociais. Mas já deveriam ter sido tomadas providências no sentido de evitar maiores danos.

Pelo que se percebe, pouco tem sido feito. O Brasil, conforme o anúncio franco do ministro, pode se preparar então para lamentar tragédias e, logo depois, ouvir promessas e discursos e ser apresentado a planos que nunca serão totalmente executados. O Brasil é pródigo na formulação de projetos grandiosos logo depois de eventos traumáticos, como os ocorridos com as chuvaradas de 2008 em Santa Catarina, de 2009 na Amazônia, 2010 em Alagoas e Pernambuco e no início deste ano na região serrana do Rio. Mais de mil pessoas morreram nesses Estados. Logo depois da tragédia no Rio, o governo anunciou com pompa a criação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que deveria estar funcionando a partir de novembro último. O diretor do Centro, Reinhardt Adolfo Fuck, admite que a estrutura ainda é precária e que o órgão somente estará em plena atividade daqui a um ano.

O Cemaden é um exemplo de que as urgências são esquecidas logo depois das mortes provocadas por catástrofes climáticas. Este ano, o Centro dispôs de apenas R$ 2,2 milhões de um orçamento previsto de R$ 21 milhões. A burocracia derrotou as boas intenções que levariam à criação de um sistema de prevenção com radares meteorológicos, satélites e outras formas de monitoramento. Com tanto atraso na área federal, agravado por omissões estaduais e municipais, dificilmente será cumprida a meta do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, de reduzir pela metade, num prazo de quatro anos, o número de vítimas de desastres naturais. Faltam equipamentos e profissionais, diz o governo. Para a população, o que falta mesmo é seriedade dos governos com seus próprios compromissos e prioridades.

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