Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

CHUVAS EM SANTA CATARINA - A HISTÓRIA SE REPETE


CHUVAS SC. Uma história que você já viu - JÚLIA ANTUNES LORENÇO. Colaborou Marjorie Basso - DIÁRIO CATARINENSE, 09/09/2011


O Estado em alerta. O Vale do Itajaí, onde uma pessoa morreu, foi o mais prejudicado, novamente. Ontem à noite, soldados do Exército foram deslocados para a região. A Defesa Civil do Estado foi enfática: trabalha com o pior cenário possível.

O Rio Itajaí-Açu, em Blumenau, ameaçava chegar aos 13 metros nesta madrugada, podendo ocasionar a pior enchente desde 1984. Em Itajaí, a Defesa Civil pedia para que toda a população procurasse abrigos indicados. A previsão era de que 80% da cidade ficasse embaixo de água.

Diante das notícias, a presidente Dilma Rousseff ligou para o governador Raimundo Colombo, por volta das 21h, de ontem Ela ofereceu liberação de recursos para o Estado.

O avanço das águas do Rio Itajaí-Açu, em Blumenau, que ameaçava chegar aos 13 metros até as 6h de hoje, reflete os últimos três dias de chuva no Estado. As consequências já são conhecidas da população do Vale do Itajaí, a mais prejudicada. Se o alerta for confirmado, esta pode ser a maior inundação, na cidade, desde 1984 (veja ao lado). Em Itajaí, a a previsão da Defesa Civil era alarmante ontem à noite: 80% da cidade deveria amanhecer inundada, como aconteceu em 2008. A população foi orientada a deixar suas casas.

Um homem morreu, em Guabiruba, no Vale do Itajaí, ao ser atingido pelo telhado de um galpão que despencou sobre ele. De acordo com os bombeiros, Valdemiro Carminati, 66 anos, tentava consertar um pilar do galpão que se soltou, possivelmente por causa do solo encharcado.

Moradores do Norte do Estado e da Grande Florianópolis também sofreram com alagamentos e deslizamentos. Pelo menos 499,9 mil pessoas em 60 municípios foram atingidas. Esta é a quarta vez, em menos de 40 dias, que SC está em alerta devido às chuvas. De acordo com o boletim da Defesa Civil estadual das 0h30min, 14 cidades decretaram situação de emergência e 37 emitiram notificações preliminares de desastre. Pelo menos seis rodovias estaduais e quatro federais tiveram o trânsito interrompido.

O major Márcio Luiz Alves considerou a situação crítica, apesar de dizer que não há um comparativo com o que ocorreu em 2008. O nível do rio Itajaí-Açu foi monitorado durante todo o dia. Às 22h30min ele estava com 11,26 metros em Blumenau, onde o rio começa a transbordar com oito metros. Nas enchentes de 1984, o nível chegou a 15,46 metros. O governador Raimundo Colombo esteve na cidade:

– A situação realmente é negativa e o Estado vai dispor toda a sua estrutura para ajudar tanto Blumenau como as outras cidades – informou.

Ele ainda visitou Rio do Sul, no Alto Vale, onde o rio poderia chegar a 12 metros durante a madrugada. A prefeitura decretou estado de calamidade.

O alto volume de chuva, nas últimas 72 horas, supera a média esperada para todo mês, em pelo menos cinco cidades: Campos Novos, Joinville, Blumenau, Florianópolis e Indaial. De acordo com o meteorologista Leandro Puchalski, da Central RBS de Meteorologia, em nenhum outro Estado do país choveu tanto quanto em Santa Catarina.

O alerta de que os volumes de chuva poderiam chegar a 200 milímetros, entre ontem e hoje – superando a média de 130 a 180 milímetros – foi dado na quarta-feira, pela Defesa Civil. Algumas famílias de regiões ribeirinhas e encostas foram removidas já na quarta-feira. Deslizamentos e alagamentos foram as principais ocorrências.

A população também ajudou a evitar tragédia ainda maior. O gerente de prevenção da Defesa Civil do Estado, Emerson Emerim, disse que as pessoas têm uma percepção maior das áreas de risco:

– A enchente de 2008 fez SC aprender com a dor. A população está menos resistente em sair de casa.

Recorde no nível do Itajaí-Mirim - DIOGO VARGAS | BRUSQUE

O dia ontem foi de muita apreensão e medo entre moradores, autoridades e a defesa civil de Brusque, com o Rio Itajaí Mirim alcançando a marca histórica de 8m76cm. Em 2008, o nível chegou a 8m75cm. A previsão desta vez é ainda pior: o rio pode bater a marca recorde de 9m, com consequências desastrosas.

O dia ontem foi de muita apreensão e medo para os moradores de Brusque e região. Pouco a pouco, foi possível acompanhar o efeito da forte chuva sobre do Rio Itajaí-Mirim.

O nível foi subindo com o passar das horas e o que se temia aconteceu: às 22h40min o rio chegou a 8m76cm, a maior marca da história (na enchente de 2008, chegou a 8m75cm). A expectativa é que pudesse chegar a 9m ao longo da madrugada.

– A população deve ficar atenta e não esperar para deixar a casa na última hora – alertou o diretor da Defesa Civil, Eliseu Muller Júnior.

Às 19h30min, estava em 8m54cm e não havia transbordado na área central. Dezenas de pessoas olhavam a força da água nas margens da ponte Irineu Bornhausen, no Centro.

Várias ruas ficaram alagadas e famílias foram retiradas de casas por precaução. As seis famílias que foram orientadas a sair moram no Parque das Esculturas, localidade que fica na entrada de Brusque.

Há abrigos montados pelo município à disposição da população no pavilhão da Fenarreco.

De dia, houve ruas interditadas nos Bairros Dom Joaquim e Rio Branco com a subida do rio.

No Dom Joaquim, quatro cavalos ficaram encurralados pela água numa parte alta. O dono Osmar Mafra, 82 anos, preferiu não cortar a cerca que faria com que os animais tivessem acesso à rua e pretendia mantê-los no local até a sexta-feira pela manhã.

Até as 20h, haviam sido registradas 22 ocorrências de pequenos deslizamentos, mas sem vítima ou casa atingida. Como o solo está frágil, há riscos de quedas de barreiras nas estradas da região e desmoronamentos sobre casas nas encostas.

Serra em emergência - PABLO GOMES | LAGES

Duas cidades da Serra Catarinense estão em situação de emergência por conta das fortes chuvas desta semana. Correia Pinto e Palmeira registram alagamentos e algumas famílias precisaram deixar as suas casas. Em Lages, a situação era tranquila no fim da tarde, apesar de ter chovido forte o dia inteiro e de o Rio Carahá estar cheio.

Em Correia Pinto, os rios das Pombas, Canoas e Tributo transbordaram em alguns pontos e suas águas atingiram 33 residências em quatro bairros. As aulas da rede municipal foram suspensas, e o ginásio de esportes da Escola José do Patrocínio foi colocado à disposição.

Em Palmeira, algumas localidades estão isoladas e sem acesso. Em Otacílio Costa, o Rio Canoas transbordou em alguns pontos e forçou a interdição das duas pontes.

A pior cheia em 27 anos - DANIELA MATTHES | RIO DO SUL

Rio do Sul enfrenta a terceira cheia em 30 dias. Ontem, a pior delas este ano. Famílias inteiras tiveram que sair de casa em busca de abrigos. Segundo a Defesa Civil, há 27 anos não ocorria uma situação como esta na cidade do Alto Vale do Itajaí.

As mãos trêmulas, os lábios roxos e os olhos vermelhos e úmidos de Gedson Silva Martiano dos Santos denunciam o drama que vive o morador de Rio do Sul. Pela terceira vez, teve que abandonar a casa, já inundada. E ele não estava sozinho. Enchente é, provavelmente, a palavra mais temida e usada pelos rio-sulenses no último mês. Em 30 dias foram três cheias.

Santos tentou, mas da casa em que mora com a família – quatro adultos e duas crianças – conseguiu salvar só um saco com roupas e um computador. A água subiu rápido demais. Ao meio-dia, o rio já estava em 8,93 metros. Encarando o frio e a chuva de setembro apenas com bermuda e camiseta, ele lembrou saudoso do calor e das praias de Alagoas:

– Chegamos aqui há um mês. Já pegamos três enchentes. Viemos do Nordeste, do calor, da praia. Viemos tentar a vida, mas assim está difícil. Não sei o que vamos fazer agora.

Um dos primeiros bairros a alagar em Rio do Sul é o Bela Aliança. Às 9h de ontem, bombeiros e voluntários com caminhões tiravam os últimos pertences da empregada doméstica Silvia Meireles e dos vizinhos. Ela mora na localidade há um ano. Suada e exausta, depois de tirar o que conseguiu de dentro de casa e colocar em uma caçamba, contou que boa parte dos móveis já foi perdida na cheia da semana passada.

Sobre o futuro, ela e o marido ainda não sabem o que fazer:

– Ainda estamos pagando a casa. É simples, mas é nossa.

Ao meio-dia, o comércio baixou as portas e os moradores começaram a se preparar para enfrentar a água barrenta que começava a alagar as primeiras ruas do Centro. O trânsito, nas ruas em que ainda era possível passar, era intenso, mas as calçadas já estavam vazias. Os pátios dos supermercados estavam cheios de quem se preparava para as horas difíceis que mal tinham começado.

Prefeitura decretou calamidade pública

Há 27 anos Rio do Sul não via tanta água. Por volta das 20h, 90% das ruas estavam alagadas, e o Rio Itajaí-Açu estava em 10,29 metros. Subiu 19 centímetros entre 19h e 20h.

– Só sobraram os morros – desabafou um agente da Defesa Civil.

À tarde, o prefeito Milton Hobus decretou estado de calamidade pública, mas até as 22h não havia repassado à Defesa Civil. A previsão era de que, durante a madrugada, o rio chegasse a 13 metros. Em 1984, o nível ficou próximo de 15 metros.

As cidades vizinhas também enfrentaram problemas. Desde o início da manhã, a rodovia SC-382 que liga Rio do Sul a Ituporanga estava com dois pontos de alagamento que impediam a passagem. José Boiteux, Witmarsun e Pouso Redondo decretaram situação de emergência.

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