Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

ENCHENTES: A POLÍTICA DE ENXUGAR GELO

Cecy Oliveira, jornalista - Zero Hora 13/09/2011

Assim como todos os anos em setembro chega a primavera, a imprensa noticia enchentes e inundações, perdas econômicas e humanas. Os solidários arrecadam roupas e mantimentos, os municípios decretam situação de emergência, os mais atingidos vão para abrigos, as manchetes duram uma semana e tudo volta ao que era antes.

Por que ainda não aprendemos a conviver com os ciclos da natureza? Por que não se gasta um pouquinho de tempo a prestar a atenção ao comportamento de nossos rios? Por que continuamos a desmatar e invadir as margens e as zonas de inundações construindo casas, fazendo plantios e instalando fábricas que mais cedo ou mais tarde serão levadas pelas águas?

E, principalmente, por que continuamos fazendo os rios de lixeira?

Será que já não passou da hora de evitar em lugar de remediar?

O país já tem know-how de sobra para saber como deve fazer a gestão de seus recursos naturais, trabalhar em uma consistente agenda marrom e tratar seus despejos indesejáveis, sejam eles domésticos ou industriais. Os técnicos brasileiros da área de saneamento e recursos hídricos se destacam mundo afora. Neste mês mesmo, Porto Alegre vai virar a Capital do Saneamento, sediando dois grandes eventos, um internacional, na área de drenagem, e outro, o 26º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, com mais de 6 mil participantes, com os maiores especialistas nestes dois temas.

É uma boa oportunidade para ouvir e aprender como lidar com o mundo que nos cerca e abriga. E agir tentando virar este jogo, pois estamos a cada ano perdendo de goleada. E não adianta culpar a chuva e os céus que parecem estar querendo nos castigar. É muito mais econômico e racional conviver com o que agora se convencionou chamar de caprichos da natureza.

Já sabemos de cor e salteado, como se dizia antigamente, que os impactos ambientais urbanos são todos inter-relacionados. A expansão urbana contribui para o desmatamento, que enfraquece o solo, causando erosão, que, aliada à falta de um sistema adequado de drenagem, carrega solo e lixo para os corpos d’água. O emprego do asfalto generalizadamente dificulta a absorção das águas pluviais, represando e potencializando a força das enxurradas. O assoreamento reduz a profundidade dos rios e lagos, que a cada chuva mais forte vão sair dos leitos comprometidos, também, pela presença de esgotos sem tratamento e lixo jogado displicentemente pelos moradores. Ao ponto de que se pode até montar uma casa, como o Departamento de Esgotos Pluviais vem fazendo, com sua Casa do Arroio, com os objetos – de fogões a sofás – recolhidos na rede hídrica da cidade.

Não é mais simples, prático e barato trabalhar a favor da natureza em lugar de lutar contra ela?

Nenhum comentário:

Postar um comentário