Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

sábado, 10 de agosto de 2013

LONGA ESPERA PELO SALVAMENTO




ZERO HORA 10 de agosto de 2013 | N° 17518

FERNANDA DA COSTA E VANESSA KANNENBERG


Desabafo em 1.017 palavras. Após ver filho esperar três horas preso às ferragens, agricultor escreve carta sobre sucateamento dos órgãos de salvamento


Palmas rompem o silêncio do corredor. O som conduz ao quarto 705 do Hospital São Vicente de Paulo, em Passo Fundo. Uma mãe às lágrimas vê o filho em pé pela primeira vez desde um acidente, apoiado pelo pai e por uma fisioterapeuta. A alegria da recuperação caminha ao lado da indignação frente ao sucateamento dos órgãos de salvamento, que o fizeram esperar três horas até ser conduzido a um hospital. Com as pernas presas às ferragens, Roberto Piva Paim, 31 anos, viu pela janela amassada do carro o desespero dos pais, impotentes.

Na madrugada de 28 de julho, Roberto Paim, o pai, de 60 anos, e a mulher, Ilse Ana Piva Paim, 57 anos, viajavam em uma S10 de Carazinho a Chapada. Eram seguidos pelo filho, que conduzia um Peugeot, ao lado da namorada. No km 8 da VRS-801, em Almirante Tamandaré do Sul, o filho viu um Gol andando no meio da pista. Tentou desviar, mas não evitou a colisão. Na direção do Gol estava Gabriel Douglas Aires, 20 anos, que morreu no local. O morador de Carazinho não tinha CNH.

Quando deixou de ver o carro do filho, o pai voltou. Encontrou-o gravemente ferido e viveu a pior espera de sua vida. Além da falta de equipamentos de resgate do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), os bombeiros que livrariam Roberto das ferragens tiveram de chegar ao local de carona. O caminhão, fabricado há mais de 30 anos, quebrou na estrada. A Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso, mas aguarda o resultado das perícias. A namorada de Roberto sofreu ferimentos leves.

O acidente foi o único do ano na rodovia, mas suficiente para expor a fragilidade do sistema. Uma semana após a colisão, o agricultor sentou-se no sofá do quarto do hospital. Em silêncio, ao lado do filho, escreveu 1.017 palavras para expor a indignação:

– Escrevi o que deve estar engasgado em outros pais que perderam filhos na estrada por demora do socorro.

Na véspera do Dia dos Pais, ZH reproduz a íntegra da carta, já publicada no Blog de Rosane de Oliveira.


INDIGNAÇÃO E LIÇÕES QUE FICAM - A CARTA




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