Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

QUANDO HÁ DESASTRES NATURAIS, A VIRTUDE DO GOVERNANTE NÃO ESTÁ À ALTURA

MOMENTO DE SABEDORIA


Por Epoch Times 09.07 às 3:00



O Rei Cheng Tang, da Dinastia Shang, imaginado pelo pintor Ma Lin, da Dinastia Song. A pintura está no Museu do Palácio Nacional em Taipei, Taiwan (Wikimedia)

Os chineses antigos acreditavam que se um monarca vive para servir as pessoas, isso estremecerá o céu e a Terra e trará prosperidade para seu povo.

Seja uma invasão de gafanhotos, secas, terremotos ou impactos de meteoritos, dinastia após dinastia os chineses acreditavam que a origem dos desastres naturais resultava de que “A virtude do Imperador não está a altura de sua posição.”

Os monarcas deviam levar vestidos longos e brancos pela manhã, mater-se distantes dos luxos do palácio, jejuar, abster-se de diversões, assim como muitos outros comportamentos para alcançar a autorreflexão, o melhoramento espiritual e o cultivo da virtude.

Alguns antigos imperadores chineses eram considerados responsáveis por todos os crimes humanos e por todos os desastres e calamidades sofridas pelo povo, então, pediam perdão a seus súditos por meio de editais imperiais por sua “administração inapropriada”.

Estas crenças concordavam com as antigas regras para o governo e a administração de tomar a lei do céu como guia do governo, a virtude como a fundação da administração e a compreensão de que a moralidade de um governante deve conformar-se às exigências do céu.

Cheng Tang era um rei virtuoso e benevolente. Depois de derrotar o tirano Jie, da Dinastia Xia, foi o primeiro Imperador da Dinastia Shang, estabelecida no ano de 1766 a.C. Durante a Dinastia Xia, sendo Cheng ainda um senhor feudal, ele foi acampar e viu um caçador que estendia suas redes e rogava a cada uma das quatro direções do céu “que em cada uma das quatro direções, todas as aves no céu e todas as bestas sobre a terra sejam capturadas em minhas redes”.

Vendo a cena, Cheng Tang suspirou e disse: “Atos tão cruéis como estender redes nas quatro direções para capturar todas as aves e bestas vivas são iguais aos do tirano Jie da Dinastia Xia.”

Cheng Tang ordenou ao caçador que retirasse suas redes em três direções, cobrindo uma só direção. O caçador modificou então sua oração, “Que todas as criaturas selvagens da esquerda, escapem mais para a esquerda. Que todas as criaturas selvagens da direita escapem mais para a direita. Que todas as criaturas selvagens que voam nos ares se elevem mais alto. Que todas as criaturas selvagens na terra escapem mais para baixo. Deixem somente que as criaturas selvagens destinadas a morrer entrem em minhas redes.”

Quando o senhor feudal de Han Nan ouviu esta história, elogiou o virtuoso Cheng Tang pelo que havia feito. “Cheng Tang é tão virtuoso como compassivo com as aves e feras. Não somente os homens recebem a benevolência de um rei!”

Esta é a origem do famoso provérbio chinês: “Estenda sua rede de um só lado”, que hoje significa “Deixar ao malfeitor uma saída para dar-lhe uma segunda oportunidade”. Segundo os registros históricos, depois que Cheng Tang cumpriu uma cruzada honorável que colocou fim ao reinado do tirano Jie, três mil senhores feudais se reuniram para escolher o novo imperador da China. Cheng Tang apresentou o selo imperial que havia adquirido de Jie, colocou-o à esquerda do selo vazio do imperador chinês e se inclinou repetidas vezes diante dele. Apresentando seu respeito para o selo imperial, Cheng Tang tomou assento entre os outros, e como senhor feudal disse: “Este trono pertence a um homem de virtude, porque a China é propriedade de todas as famílias. Somente um homem virtuoso pode dirigir a China. Somente um homem com princípios pode governar o mundo, porque somente um homem com princípios pode governar o país corretamente.” De todos os três mil senhores feudais, nenhum se atreveu a reclamar o trono. Cheng Tang negou modestamente o voto unânime de todos os senhores feudais três vezes antes de tomar finalmente com graça o assento imperial.

Ainda que Cheng Tang houvesse conseguido iniciar uma nova dinastia, a grave seca que havia começado durante o reinado de Jie continuava afetando a China. Durante sete anos, a seca fez com que rios e poços secassem, matou toda a grama e todas as árvores e deteve a germinação de todas as sementes, impedindo que o povo fizesse a colheita. Desde o início da seca, Cheng Tang havia instalado um altar e rogava sinceramente ao céu que chovesse, colocando fim à seca.

Sete anos se passaram, mas a seca persistia. Chang Tang ordenou ao astrônomo do reino que buscasse uma solução mediante adivinhação. O astrônomo disse: “Devemos sacrificar um homem diante dos deuses para parar a seca.” Cheng Tang refletiu por um momento e em seguida disse: “Estou rezando pela chegada da chuva para a salvação de meus súditos. Se devemos sacrificar um homem ao céu, sou voluntário para ser sacrificado.”

Cheng Tang tomou um banho, se absteve de alimento, cortou seus cabelos e unhas e trajando uma vestimenta longa de tecido branco e um cinturão branco, conduziu uma carruagem com um cavalo branco em direção a uma plantação de amoras. Ao chegar, dirigiu esta oração ao céu: “A culpa é minha e somente deve afetar a mim. Por favor, não castigue os meus súditos. Se meus súditos fizeram algo mau que tenha contribuído à seca, devo ser a origem e a causa de suas más ações. Espíritos do céu e espíritos fantasmas, por favor não toquem meus súditos porque sou eu quem falhei em guiá-los corretamente devido a minhas insuficientes capacidades.”

Em seguida o Imperador fez censuras a si mesmo de seis maneiras diferentes: “Acaso a seca foi causada pela falta de lei e ordem em minha administração? Acaso ignorei as dificuldades de meus súditos e não pude cumprir suas esperanças? Acaso a seca foi causada pela corrupção dos funcionários do governo de quem não dei conta? Desperdicei dinheiro ou utilizei a mão de obra de funcionários corruptos e aceitei maus conselhos?” No momento em que Cheng Tang terminou suas perguntas, começou a chover sobre milhares de quilômetros.

A antiga cultura tradicional da China diz que se um monarca verdadeiramente vive por seus súditos, sua conduta virtuosa poderá estremecer o céu e a Terra, trará prosperidade e deixará um bom exemplo para as gerações futuras.



Este artigo pertence a série “Histórias da antiga China”.

FONTE:

terça-feira, 12 de novembro de 2013

AS ENXURRADAS E A IMPREVIDÊNCIA

ZERO HORA 12 de novembro de 2013 | N° 17612


EDITORIAIS



É compreensível que, diante de uma chuvarada como a registrada ontem, que excedeu em um dia a média de precipitação de um mês, o setor público seja incapaz de atender a todas as demandas e evitar muitos dos danos provocados, em especial na Região Metropolitana. Mas, ao mesmo tempo em que se reconhecem os esforços das equipes mobilizadas para atenuar transtornos e prejuízos, é preciso admitir que boa parte do que ocorreu é consequência de deficiências estruturais que ainda não foram tratadas como prioridade.

As enxurradas, com o transbordamento ou o acúmulo de água em cursos d’água, vias públicas e áreas urbanas habitadas, são o efeito mais visível de problemas causados por uma boa dose de imprevidência. Constata-se, nessas situações, que os dutos existentes não conseguem dar vazão a grandes volumes de chuva. O que seria compreensível em situações absolutamente anormais, como pode ser considerado o cenário de ontem, não é assim tão raro. A atual estrutura das redes de escoamento da Capital fracassa também quando eventos climáticos não se enquadram entre os considerados excepcionais.

São repetidos os episódios em que Porto Alegre tem a vida transtornada por chuvas intensas. Não basta alegar que não há como evitar os prejuízos causados por precipitações como a de ontem. É preciso pelo menos adotar medidas preventivas para atenuá-los e montar planos mais efetivos de intervenção nas emergências. Por isso, é urgente uma revisão nas estruturas das grandes cidades, como já foi feito parcialmente em algumas áreas localizadas, ou as chuvas continuarão causando danos econômicos e sociais, mesmo em circunstâncias menos dramáticas. A população, que contribui de forma irresponsável para o entupimento de bueiros, ao descartar lixo em ruas e riachos, também precisa rever hábitos e assumir responsabilidades. As chuvas intensas põem em questão a falta de planejamento dos governos e falhas graves de nossas condutas como cidadãos.

DRENAGEM DO SÉCULO PASSADO

ZERO HORA 12 de novembro de 2013 | N° 17612


CLIMA


A chuva intensa fez Porto Alegre e outras cidades gaúchas viverem uma segunda-feira caótica. Na Capital, que registrou em um dia a precipitação esperada para o mês inteiro, o obsoleto sistema de redes coletoras e casas de bombas não chegou nem perto de dar conta do recado. A cidade parou. Famílias tiveram de abandonar as casas. No Interior houve destruição, desabrigados e a morte de uma mulher em razão de desabamento em Candelária – o filho dela permanecia desaparecido até o final da noite.


A enxurrada de ontem escancarou mais uma vez o preço que a população de Porto Alegre paga por viver em uma cidade do século 21 com uma estrutura de escoamento dos anos 60 do século passado. Foi como enfrentar um exército armado com um bodoque. A Capital se contrapôs a 105 milímetros de precipitação em 17 horas – o equivalente ao esperado para o mês inteiro – municiada com um obsoleto sistema de redes coletoras e casas de bombas construído há 50 anos, quando a cidade tinha menos de metade da população atual.

Porto Alegre levou uma surra monumental da chuvarada.

Como tem ocorrido sempre que há chuva forte, as décadas de investimento insuficiente em infraestrutura resultaram em bairros alagados, famílias desabrigadas, trânsito paralisado e uma metrópole de 1,4 milhão de moradores convertida em subcidade, funcionando apenas à meia boca.

A Zona Norte, região mais populosa da cidade, viveu um dia infernal. A Avenida Sertório, como tem acontecido com regularidade, submergiu, sobrecarregando a Assis Brasil. Sair da região virou uma epopeia. Durante a manhã e a tarde, eram necessárias quatro horas dentro do carro para vencer poucos quilômetros nas duas avenidas. Muita gente desistiu e não foi trabalhar. Em algumas escolas, as escassas crianças que apareceram foram reunidas para atividades especiais, sob guarda dos professores que conseguiram chegar.

Pela cidade afora, postos de saúde ficaram fechados, moradores tiveram de sair de casa de barco, veículos submergiram, viajantes não conseguiram chegar ao aeroporto a tempo e o trensurb deixou de funcionar por seis horas, entre 7h30min e 13h30min, do Mercado à Estação São Pedro.

O próprio diretor-geral do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), Tarso Boelter, reconheceu que a cidade foi castigada por não dispor de um sistema em condições de enfrentar chuvaradas de maior dimensão.

– As nossas casas de bombas são de 1960 e foram feitas pensando na realidade da enchente de 1941. Na época, eram o que havia de melhor. Mas não houve uma modernização nesses 53 anos, só reformas e consertos. A população se multiplicou, e a rede coletora se tornou insuficiente – afirmou Boelter.

As redes e as casas de bombas são fundamentais para dar vazão à água da chuva, canalizando-a para rios e arroios. Somadas aos diques, comportas, bacias de amortecimento, limpeza da rede e das bocas de lobo, além da dragagem de arroios, elas compõem o arsenal de que a cidade dispõe para aguentar as enxurradas. O problema é que o sistema tem uma capacidade limitada de escoamento. A água que ele não consegue escoar se acumular em ruas e avenidas. Foi o que aconteceu ontem.

Para se ter uma ideia da precariedade do sistema, o DEP planeja substituir 14 das 19 casas de bombas em funcionamento hoje – as novas estruturas terão capacidade para dar vazão a uma quantidade até seis vezes maior de água e serão dotadas de geradores elétricos – um terço das casas de bomba não funcionou ontem por causa de quedas no fornecimento de energia.

As galerias responsáveis por recolher a água são outra vergonha porto-alegrense. A Avenida Padre Cacique, por exemplo, vira um lago a cada chuva porque a tubulação para escoar a água dos morros próximos tem apenas 80 centímetros de diâmetro. Há esperança para a região. Como parte das obras para a Copa de 2014, estão sendo instaladas galerias com 3m50cm por 2m20cm.

Para o doutor em Hidrologia e coordenador do Núcleo de Águas Urbanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Joel Goldenfum, avanços na infraestrutura dependem de “vontade política”:

– É possível resolver. É uma questão de vontade política. Sempre haverá chuvas excepcionais, o que não pode é qualquer chuva frequente alagar.


Sem mudança antes de 2016

Enquanto os porto-alegrenses sofrem a cada chuva intensa, as autoridades demoram para levar adiante projetos que, se não resolvem o problema, têm condições de amenizar as enxurradas e evitar o caos no trânsito. Os R$ 86 milhões necessários para renovar 14 das 19 casas de bombas existentes na Capital estão disponíveis desde dezembro passado no Ministério das Cidades, a fundo perdido (sem necessidade de reembolso), só que não há projetos aprovados.

A alegação do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) é que as obras são complexas. Existe a promessa de uma licitação em janeiro ou fevereiro de 2014. Em até três anos, no entanto, o novo sistema não deve entrar em funcionamento.

– Vamos conviver com enchentes até 2016, pelo menos. Não vou abrir mão de técnica e preço. Isso deve ser feito por empresas especializadas que estudem o terreno, o solo e os cálculos – alega o diretor Tarso Boelter.

As mudanças nas casas de bombas podem evitar, por exemplo, que elas parem de funcionar quando houver queda de energia elétrica, o que aconteceu ontem em seis delas.

Com geradores próprios, as estruturas enfrentariam melhor uma tempestade. Além disso, poços de armazenamento maiores e uma vazão mais potente serão decisivos para frear enxurradas em precipitações não tão fortes. Mesmo assim, o professor Joel Goldenfun, coordenador do núcleo de Águas Urbanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), alerta que as medidas são insuficientes:

– Há muitos outros elementos dentro do Plano Diretor de Drenagem Urbana, é todo um sistema que está previsto. Resolver não é complicado, requer um plano urbanístico.

Por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) de prevenção contra desastres naturais, a prefeitura foi contemplada com R$ 237 milhões. A verba abrange as novas casas de bombas e alterações nas bacias dos arroios Areia (Humaitá), Moinho (Partenon) e Guabiroba (Zona Sul).

MAURICIO TONETTO



VEÍCULOS MERGULHADOS NO LODO


ZERO HORA 12 de novembro de 2013 | N° 17612


CLIMA - Veículos mergulhados no lodo



Lúgubre talvez seja o melhor adjetivo para descrever o cenário na Eli Autopeças, oficina mecânica encravada nos fundos de um terreno da Avenida Assis Brasil, zona norte de Porto Alegre.

A palavra tem vários sentidos, e, aqui, nos socorremos ao dicionário: “triste, soturno ou fúnebre, escuro, sombrio ou sinistro”. Até letal, se o contexto incluir as finanças do dono e de terceiros. Todas as definições se aplicam ao local, inundado no início da manhã de ontem devido ao volume excessivo de chuva que caiu sobre o Estado desde a madrugada.

No caso da Eli Autopeças, o azar foi coletivo. Embora um vizinho tivesse detectado o alagamento antes das 7h, o pessoal da oficina só tomou conhecimento da situação por volta das 8h30min. Um dos funcionários, Volmir, descreve o cenário e aponta para o capô de um Gol branco. Há marcas de terra no veículo:

– Estava tudo alagado.

Outro mecânico, Hélio Dias, complementa o relato do colega. Está ao lado de Volmir e de Eli Kieldovicz, 74 anos, o dono da oficina.

– Tinha água nas maçanetas de todos os carros – afirma.

São cinco: além do Gol, Pampa, Chevette, Corsa e Saveiro. Os donos dos veículos se tornaram, da noite para o dia, sócios no prejuízo. Não há certeza de que disponham de seguro e, pior, da cobertura de apólices para o ocorrido. Os prejuízos devem ser superiores a R$ 500 para cada carro que naufragou na enxurrada. Talvez mais, segundo o proprietário da oficina.

Chão embarrado e muita umidade

O Corsa não respondia às insistentes tentativas de ignição. O Chevette também apresentava problemas no módulo de injeção eletrônica. O jeito era dar uma geral para, primeiro, tirar a água dos veículos. O estofamento ensopado ficaria para uma segunda etapa. Provavelmente, terá de ser retirado para uma lavagem completa do interior de cada carro. Aliás, a Eli Autopeças também passará, hoje, por uma faxina completa.

Pela manhã, não restou alternativa aos mecânicos a não ser esperar, resguardados na parte superior do prédio, a água descer. E percorrer uma sinuosa escada foi o primeiro desafio dos trabalhadores. Ao fim do dia, apesar dos estragos, Hélio encontrou ânimo para dizer que vencera a jornada sem escorregões perigosos. Ele e os colegas controlaram o passo no chão embarrado, componente extra para um ambiente já escurecido pelos portões fechados. A isso, Hélio acrescenta, sem ironia, a umidade. Daí a escolha do “lúgubre” como expressão adequada para o cenário.

– Isto é um perigo para caminhar – resume o mecânico.

A turma da Eli Autopeças planeja cuidado redobrado antes e durante as próximas tempestades. E promete também ficar de olho na previsão do tempo.

– Na próxima chuva, vamos cuidar para não ter carro aqui dentro – garante Hélio.

Os veículos atingidos ontem haviam chegado entre quinta-feira e sábado. Para hoje, a ordem é estar a postos às 7h45min para completar a operação limpeza. Menos mal, no caso do quarteto da oficina, foi que ninguém teve problemas com água entrando em suas casas. Ao contrário de José Arceleu, o servente de pedreiro que protagonizou a história da página ao lado, os amigos da oficina dormiriam em quartos secos.



A QUEM RECORRER

Alguém paga pelos móveis danificados e estragos em residências?

O diretor do Procon estadual, Cristiano Aquino, esclarece que há duas situações distintas no que se refere a perdas causadas por eventos da natureza, como a chuva. Quando o imóvel está segurado, o proprietário deve procurar a seguradora e, se não obtiver sucesso, contatar o órgão. Quando não tem seguro, o próprio poder público deve prestar socorro para que as pessoas possam voltar a suas casas.

Eletrodomésticos queimados podem ser ressarcidos?

Sim. Se o consumidor tiver aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos queimados ou danificados por falta de energia, deve entrar em contato com a concessionária responsável pelo fornecimento e pedir uma vistoria de avaliação de danos. Dependendo do caso, o aparelho pode ser trocado ou consertado. De acordo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o consumidor tem o prazo de 90 dias para encaminhar sua reclamação à concessionária distribuidora do serviço.

A VIDA SUBMERSA PELA ENXURRADA



ZERO HORA 12 de novembro de 2013 | N° 17612

CARLOS GUILHERME FERREIRA

José Arceleu Silva, 58 anos, servente de pedreiro, não é um homem de posses. Mas perdeu tudo pela segunda vez, em menos de três meses.


Ilhado devido ao rompimento do dique que represa o Rio Gravataí, no final de agosto, ele não esperava passar por tamanho dissabor em um intervalo tão pequeno. Desta vez, virou vítima da chuvarada. O relógio marcava 9h, ontem, quando a água invadiu sem cerimônia a pequena casa de dois quartos, na Vila Farroupilha, zona norte da Capital. José Arceleu nada pôde fazer a não ser retirar a mulher, Carlinda, que convalesce de um Acidente Vascular Cerebral. Abrigou-a com uma vizinha.

– Não tenho onde dormir – lamentou, já no final da tarde, quando a água gelada e barrenta batia na altura do joelho.

E, se dormisse, seria em cima de uma cama transformada em ilha e habitada por pilhas de roupas e outros pertences de pequeno porte, além de alimentos. Porque o servente de pedreiro teme arrombamentos, imagina o pior ao pensar na mínima chance de alguém entrar na residência – como aconteceu no episódio do dique – e levar itens a salvo da água.

Neste caso, enquadram-se duas pequenas TVs, um DVD portátil, um ventilador, quatro gaiolas com passarinhos, aparelho de som, um pequeno sofá. Há duas geladeiras, e ambas se foram. Uma delas boia no meio da sala de paredes nem tão brancas e com marcas do nível d’água. A geladeira se move sozinha, agitada pelas ondas provocadas pelos passos dentro do imóvel. O cenário é surrealista. Uma bicicleta junto à porta, água acima das rodas, emoldura a entrada. Ao lado da entrada do quarto, um armarinho de madeira, submerso, espera pelo apodrecimento. Ao vê-lo, José Arceleu se emociona:

– Isso eu ganhei.

Servente quer mudar de casa

Faz pouco tempo, depois da enchente do dique. Agora a tristeza toma contornos de raiva. José Arceleu emenda, quase às lágrimas, que retirou o armarinho do lixo.

E aí ele enfurece. Desafoga o sentimento de quem, pelas próprias palavras, faz parte de uma realidade esquecida na maior parte do tempo – à exceção das eleições. Homem simples, passa a ponderar sobre o sistema político. Questiona a necessidade do voto, considera este instrumento inútil. As visitas – e ele generaliza, reclama de prefeitos, vereadores, deputados – só acontecem em época de eleições.

Ontem, nem pensar. E se alguma autoridade – ou quem quer que fosse – visitasse a casa de José Arceleu, teria de enfrentar uma lâmina de cerca de 40 centímetros de água em um beco, a continuação da Rua Domingos Antônio Santoro, onde nem um jipe consegue entrar. Encontraria uma casa de material, de cor branca e de janelas azuis, com uma pequena cerca de ferro submersa rente à fachada. Ao lado do número, consta – por ironia – uma marcação do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).

Um pouco mais calmo, José Arceleu afirma pensar em mudança do endereço no qual vive há mais de 30 anos. Imagina dificuldades por falta de dinheiro e, claro, a consequente desvalorização de um local alagado com frequência. Vendê-lo seria difícil. Nem por R$ 10 mil, calcula. E ele novamente ergue o tom de voz e dispara uma frase crua na essência:

– Somos tratados como animais por esses políticos. Não somos tratados como gente.


A DOR EM NÚMEROS


2.948 pessoas foram afetadas pelas chuvas que atingem o Estado desde domingo, conforme o último balanço da Defesa Civil. Destas, 948 estão desabrigadas, e 2 mil, desalojadas.

21 municípios atendidos pela Corsan estavam, até a noite de ontem, com problemas no abastecimento de água Estado.

COMO AJUDAR?

- Por meio da Central de doações da Defesa Civil (51) 3288-6781 ou procurar diretamente a Defesa Civil de cada município.

- O que pode ser doado? Cobertores, travesseiros, colchões, alimentos não perecíveis, leite, roupas de cama e banho, material de higiene e de limpeza.

MORTE, DRAMA E PREJUÍZOS NO RS

ZERO HORA 12 de novembro de 2013 | N° 17612

VANESSA KANNENBERG



CLIMA. Morte, drama e prejuízos



O desaparecimento de uma mãe e um filho em Candelária, no Vale do Rio Pardo, simboliza o drama vivido por milhares de pessoas em todo o Estado desde domingo, quando começou uma chuvarada responsável por inundar casas, desabrigar famílias e desmoronar barreiras e árvores, provocando estragos ainda incalculados.

Em Picada Feltz, localidade que fica no limite de Candelária com Cerro Branco, Vanusa Nunes e o filho Ijalan Jaeger, de um ano e seis meses, sumiram quando as águas do encontro de dois arroios saíram do leito e derrubaram uma estufa de fumo, onde eles estavam, ontem à tarde. Segundo o pai Paulo Jaeger contou ao bombeiro Arzélio Strassburger, ele havia ido buscar o gado com outra filha, e quando retornou já era tarde demais.

– Ele estava muito emocionado, quase não conseguia falar, por isso nem insisti em conseguir informações – conta Strassburger.

Os Bombeiros Voluntários de Candelária foram chamados para prestar socorro, mas devido à força e o volume de água, não conseguiram chegar na estufa – mesmo tendo feito um caminho alternativo, já que no principal duas pontes haviam caído.

– Era surreal, a água passava mais de um metro acima dos escombros, fazendo redemoinhos. Íamos tentar usar um trator, mas não tinha como – conta o comandante da guarnição, Juvenal Benhard.

Uma comitiva formada pelo prefeito, secretários municipais, socorristas do Samu e Brigada Militar se mobilizou para ir até a propriedade, no final da tarde, com duas retroescavadeiras. No final da noite, o corpo de Vanusa foi encontrado, mas as buscas a Ijalan seguem na manhã de hoje.

Pelo menos duas cidades pedem ajuda da Defesa Civil

Fontoura Xavier, no Norte, decretou situação de emergência após contabilizar 45% das residências com destelhamentos. Em Bento Gonçalves, mais de 400 casas foram destelhadas, e cerca de 700 famílias atingidas na área urbana, o que motivou a prefeitura a decretar estado de calamidade pública.

Três escolas de Santa Maria suspenderam as aulas devido aos alagamentos. Na Escola Estadual Cilon Rosa, 1,35 mil estudantes foram para casa. Várias salas alagaram e havia risco de choques elétricos. Segundo o diretor da Escola, Leonardo Gonçalves, é a segunda vez que isso acontece neste ano. No bairro Camobi, uma idosa, com problemas para se locomover, precisou da ajuda dos bombeiros para ser retirada de casa.


OS NÚMEROS. Centenas de famílias sofreram com a chuva

200 milímetros foram registrados em menos de 24 horas desde domingo em Candelária, no Vale do Rio Pardo, que ficou com quase todos os bairros do município alagados.

1 mil pessoas ficaram desalojadas em Quaraí, na Fronteira Oeste. Outras 200 famílas estão desalojadas e foram levadas para dois abrigos da cidade.

2 mil casas foram destelhadas em Fontoura Xavier, no norte do Estado, o que representa 45% das residências do município. A prefeitura decretou situação de emergência.


Estragos e promessas em Caxias

O advogado Gerson Luis Soares Mendes, 40 anos, e a esposa Priscila Rabello, 37 anos, ficaram aliviados, pois a enxurrada que invadiu a casa deles, no bairro Jardim Eldorado, em Caxias do Sul, causou apenas danos materiais.

Um muro de contenção em frente ao imóvel, na Rua 12 de Outubro, cedeu e caiu sobre dois carros estacionados no pátio, situado abaixo do nível da rua. Outro veículo, próximo ao meio fio da rua, desceu com os entulhos. A água invadiu o imóvel de uma só vez e estragou móveis e eletrônicos. Apesar disso, não prejudicou o atendimento do filho Luis Eduardo Beraldin Rabello, seis anos. O garoto sofre de uma doença degenerativa e precisa de cuidado constante com equipamentos hospitalares. O casal tem ainda outro filho, de cinco anos.

– O principal eram as crianças, o resto se compra – afirma Gerson.

A chuva deixou um saldo parcial de 18 bairros afetados e cerca de 70 famílias atendidas no município. No interior, há registros de perdas de até 70% nos parreirais.






sexta-feira, 8 de novembro de 2013

LICENÇA VENCIDA E ACESSO DIFÍCIL


FOLHA.COM 08/11/2013 - 10h45

Prédio comercial onde começou o incêndio estava em situação irregular

DE SÃO PAULO


O Corpo de Bombeiros afirmou que estava irregular o prédio comercial localizado na avenida Ipiranga onde se iniciou o incêndio na madrugada desta sexta-feira (8). O fogo começou em uma academia no prédio comercial, se alastrou e atingiu também três andares de um edifício residencial. Mais de 50 pessoas passaram mal por conta da fumaça.

O tenente coronel Walmir Correa Leite disse que o AVCB (Alvará de Vistoria do Corpo de Bombeiros) do prédio onde funcionava a academia SmartFit estava com a licença vencida desde março.

Os bombeiros, segundo o tenente-coronel, fizeram uma vistoria no edifício no dia 29 de março e pediram que medidas fossem tomadas para regularizar a documentação, o que não ocorreu. "O que é fato é que o prédio não poderia estar funcionando", disse o bombeiro que não soube detalhar o que exatamente faltava para o edifício regularizar a sua situação.

O fogo se alastrou ainda mais rápido porque vários imóveis do prédio residencial tinham botijões de gás. " Os botijões de gás viraram maçaricos no incêndio", explica Roberto Rensi Cunha, comandante dos Bombeiros Metropolitanos. Os prédios ficam localizados na rua do Boticário com a avenida Ipiranga.

Outro problema encontrado pelo comandante dos bombeiros foram as portas corta-fogo trancadas no edifício comercial.


O prédio residencial e o comercial foram interditados pela Defesa Civil. Segundo o coordenador da Defesa Civil, Jair Paca de Lima, os moradores estão subindo em pequenos grupos para retirar documentos e objetos pessoais.

O incêndio começou por volta da 1h e foi controlado duas horas depois por 48 equipes do Corpo de Bombeiros, totalizando 150 homens. Os bombeiros estão nesta manhã fazendo o trabalho de rescaldo nos imóveis.

Os moradores do prédio residencial de 25 andares foram forçados a deixar os 146 apartamentos e acompanharam na rua o trabalho dos bombeiros. Muitas pessoas passaram a madrugada sentadas nas calçadas da avenida Rio Branco, algumas delas utilizavam cobertores para se proteger do frio da madrugada. Outras seguravam crianças e animais de estimação que conseguiram retirar dos apartamentos.

DIFICULDADES NO RESGATE

Segundo os bombeiros, um dos problemas enfrentados no resgate foi o da comunicação. Muitos estrangeiros, entre eles chineses, bolivianos e peruanos, vivem no local e não entendiam as ordens dadas por bombeiros para deixar os apartamentos. Alguns se recusaram a abrir as portas com medo de roubo e os bombeiros tiveram que arrombar.

Assustado com o incêndio, um homem de origem oriental tentou se jogar pela janela de um apartamento no 4º andar do prédio residencial. Por diversas vezes ele colocava as pernas para o lado de fora da janela e desistia quando os moradores da região, que acompanhavam o trabalho dos bombeiros, gritavam em coro: não.

De acordo com os bombeiros, mais de 50 pessoas que inalaram fumaça foram atendidas em um posto de socorro montado na avenida Ipiranga. Elas eram retiradas do prédio pelos bombeiros e levadas a lonas coloridas estendidas na rua Rio Branco de acordo com o grau de gravidade. Nas lonas verdes eram colocados os casos mais leves, na amarela os medianos e na vermelha os mais graves.

Editoria de Arte/Folhapress



Após a seleção dos pacientes, médicos do Grau (Grupo de Resgate e Atenção as Urgências e Emergências) faziam a medição de oxigenação no pulmão e batimentos cardíacos e anotavam a caneta na mão das vítimas para controle.

Cerca de 30 pessoas, moradoras de um prédio vizinho na esquina da avenida Rio Branco com a avenida Ipiranga, foram levadas à Santa Casa de São Paulo e aos hospitais São Paulo, Vergueiro e das Clínicas. A vítima mais grave foi um idoso que sofreu queimaduras de segundo grau. Um bombeiro também foi atendido após cortar a mão.

As causas do incêndio serão investigadas.


08/11/2013 - 09h18

Moradores reclamam de demora dos bombeiros para atender incêndio em SP


MARTHA ALVES
DE SÃO PAULO


Vizinhos dos prédios atingidos pelo fogo na academia SmartFit, no centro de São Paulo, reclamam que os bombeiros demoraram muito para chegar ao local.

O zelador, Rene Teodose, 37, que mora em um prédio comercial ao lado de um dos edifícios atingidos, disse que estava dormindo quando começou o incêndio na academia.

Segundo Teodose, a mulher o acordou e ele imediatamente começou a gritar de uma sacada para os moradores do prédio residencial deixarem o local. " Fiquei rouco de tanto gritar, mas se não fosse por mim muita gente teria morrido intoxicada pela fumaça", disse o zelador.

O desespero de Teodose era tanto que ele tentou apagar o fogo usando um hidrante do prédio, mas depois desistiu e passou a utilizar uma mangueira jogando água da sacada do edifício para tentar apagar o fogo.

" De repente a fumaça cobriu tudo e ninguém viu mais nada, se os bombeiros tivessem chegado naquele momento que tentei apagar o fogo a academia não estaria destruída", afirma.

O capitão do Exército, Rodrigo da França Mesquita Lopes, 35, que mora em um prédio na rua Boticário, quase em frente à academia onde começou o incêndio, também reclama que os bombeiros demoraram para chegar." Liguei para os bombeiros e eles demoraram uns 20 minutos para chegar", disse.

Os bombeiros contestam a versão dos moradores da região e dizem que quando as pessoas estão em uma situação de risco o tempo de espera parece maior que o real.

O comandante Roberto Rensi Cunha, dos Bombeiros Metropolitanos, afirma que a corporação recebeu a primeira chamada à 1h01.

" No deslocamento e chegada ao local do incêndio foram gastos entre 8 e 9 minutos", garante o comandante.