Os pequeninos olhos japoneses estão arregalados, provavelmente, para sempre, após a atual catástrofe, sem dimensões calculadas. Aprenderam que contra a força da natureza não há nível de segurança absoluta, por mais que haja previsão e planejamento. Ainda mais quando o assunto é segurança nuclear, num país sujeito a terremotos.
A 'síndrome de Hiroshima e Nagasaki' - fruto não da força da natureza, mas do ódio e da vingança humanas - está de volta aos japoneses depois de 65 anos. O mundo assistiu também, em 1986, o maior acidente nuclear da história da antiga União Soviética, com a explosão do reator de Chernobyl. Hoje, está na iminência de ver a maior tragédia do território japonês.
Na atual Ucrânia, Chernobyl e Pripjat, cidades próximas ao reator que explodiu, há uma zona proibida, com uma área contaminada de 2.600 metros quadrados. O local tornou-se ponto de turismo controlado, onde é permitido apenas quinze minutos de permanência ao visitante, devido ao risco da radiação.
O admirável povo japonês, de cultura milenar, aprendeu que, contra a força da natureza, toda segurança é relativa
Cinco anos após do desastre, foi descoberto que uma região da Bielorrúsia, a 140 quilômetros do local do acidente, havia recebido radioatividade. A diferença entre o Japão e Chernobyl é que a densidade demográfica é 20 vezes maior na Ásia. Os reatores de Fukushima têm mais material radioativo e libera muitas partículas na atmosfera, dizem os especialistas.
Os nipônicos estão em estado de choque. Parte de seu território pode, inclusive, ficar inabitável por até 300 anos. As realidades que atormentam o povo japonês passam por racionamento de energia, crise de abastecimento de alimentos, filas em aeroportos, frio, fome, planejamento de rotas de fuga ou permanência dentro de casa. Especialistas dizem que as pessoas precisam ser retiradas de áreas próximas dos reatores a pelo menos a 30 km de distância de Fukushima. Outros, no entanto, consideram essa distância curta demais e que a população de Tóquio, a 270 km de distância, corre riscos de contaminação, caso a situação fuja ao controle. Há resíduos radioativos na capital do país levados pelo vento.
As mais recentes notícias dão conta que a batalha dos japoneses para resfriar três reatores do complexo de Fukushima é dramática - o nível de gravidade foi elevado de 4 para 5, três abaixo do que ocorreu em Chernobyl - ainda que tenham logrado nas últimas horas resfriar os reatores com milhares de litros de água. O nível de radiação na usina caiu 20 pontos. O Japão talvez não tenha perdido o controle da situação como afirmam os EUA, a Europa e a Rússia. Tomara que não perca a esperança de reverter e minimizar o gravíssimo quadro.
O admirável povo japonês, de cultura milenar, aprendeu que, contra a força da natureza, toda segurança é relativa. Foram surpreendidos pelo terremoto seguido do tsunami. Por essa o Japão não esperava. Definitivamente, contra o poder do Césio, do Urânio e do Plutônio toda previsão e planejamento são relativos. O improvável é provável que ocorra. Só resta torcer para que os nipônicos possam se reerguer das marcas traumáticas desse momento. O país ainda é uma grande potência e os olhos dos japoneses, com toda certeza, permanecerão mais abertos.
Milton Corrêa da Costa - O GLOBO, 18/03/2011 às 17h40m. Artigo do leitor
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terça-feira, 22 de março de 2011
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