Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

sexta-feira, 11 de março de 2011

PREVENÇÃO DE CATÁSTROFES


No momento em que o Rio Grande do Sul socorre vítimas e lamenta os estragos de outra enchente, desta vez em municípios da Zona Sul, o Estado e o país devem vencer etapas que superem o interminável debate sobre investimentos públicos em sistemas de detecção de desastres e em equipamentos para a Defesa Civil. A situação gaúcha, com suas peculiaridades, não é muito diferente da realidade brasileira. Enquanto as catástrofes se repetem, com a perda de vidas e danos materiais cada vez maiores, por conta das mudanças climáticas e da ação humana no ambiente, os governos, em todas as esferas, são vacilantes, especialmente na adoção de medidas preventivas. Discussões e estudos técnicos já foram feitos à exaustão. É o momento da atitude concreta, para que o poder de atuação do setor público não se limite ao socorro emergencial às vítimas das áreas atingidas.

Tem sido assim nos últimos anos, quando, a cada evento traumático, há o ensaio de uma mobilização geral, no sentido de ampliar a capacidade de intervenção estatal. Passada a comoção, boas ideias se juntam a projetos abandonados sob os mais variados argumentos, entre os quais o da falta de recursos. Poucas áreas são tão prioritárias hoje quanto a da prevenção de desastres climáticos. As consequências maiores são as mortes, o flagelo de comunidades inteiras e a destruição de famílias. Efeitos pouco avaliados, no entanto, atingem também o cotidiano de cidades e a atividade econômica. Perdem os atingidos e perdem também o Estado e o país, com os transtornos disseminados por tais fatos.

A abordagem dos desastres na região serrana do Rio é um caso exemplar de lentidão. O primeiro escalão do Executivo foi acionado na época, em meio à consternação, com o objetivo de reforçar o sistema de defesa, e só recentemente o assunto voltou a ser comentado pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. Disse o ministro que o Sistema Nacional de Alerta contra Desastres Naturais deve funcionar em todo o país no final deste ano. O plano dependeria de estudos geotécnicos. Por mais detalhados que sejam tais levantamentos, é muito tempo para que o país conte com técnicos e equipamentos disponíveis em outros países.

Foi exatamente por falta de condições para prevenir moradores e evacuar áreas sob risco que, na região da Serra do Rio, morreram mais de 800 pessoas no início do ano. Quase na mesma época, enxurradas ocorridas no Estado de Queensland, na Austrália, com a mesma intensidade, não fizeram mais de 20 vítimas fatais. Descontadas as características geológicas e até mesmo sociais das duas regiões, o que os australianos tiveram foi o suporte do setor público, com previsão, planejamento de retirada das populações antes dos desastres e agilidade no socorro aos atingidos.

Prejuízos decorrentes de catástrofes ambientais têm, na maioria dos casos, evidente relação com a degradação do ambiente, pela ocupação de encostas e pelo desmatamento das margens de rios. Mas esses fatores, que também merecem atenção urgente, devem ser abordados com outras medidas que fortaleçam a capacidade dos governos de interferir preventivamente, com mecanismos de alertas como os radares dopplers, habilitados para prever tempestades. A ação posterior, de suporte às vítimas, exige igualmente que os órgãos responsáveis contem com quadros e material adequados aos novos desafios do desequilíbrio climático, para que a intervenção pública não dependa apenas do heroísmo de homens mal equipados.

EDITORIAL ZERO HORA 11/03/2011

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