Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

CHUVA AFETAM MAIS DE 3 MIL PESSOAS E ALAGAM ESTRADAS, RUAS E CASAS NO RS


ZERO HORA 24/10/2013 | 00h22

Número de pessoas afetadas pela chuva no Rio Grande do Sul chega a 3.038. De acordo com levantamento da Defesa Civil estadual, são 2.408 desalojados e 630 desabrigados


Esteio foi a cidade mais afetada nesta quarta-feiraFoto: Adriana Franciosi / Agencia RBS


O último boletim divulgado pela Defesa Civil do Estado, na noite desta quarta-feira, mostra que 3.038 pessoas foram atingidas pelas chuvas em 16 municípios. Segundo o levantamento, são 2.408 desalojados e 630 desabrigados.

Em Garibaldi, na Serra, 30 casas foram atingidas pela chuva de granizo. Há registro de um óbito desde o começo das chuvas: um agricultor, em Santo Cristo, foi atingido por uma descarga elétrica.

Esteio foi a cidade mais prejudicada. Lá, choveu em duas horas 80 milímetros, o que supera a média mensal. Equipes foram deslocadas para que as famílias dos bairros mais atingidos fossem retiradas de locais de risco.

Estão sendo monitorados pelas estruturas regionais de Defesa Civil os municípios de Novo Hamburgo, Três Coroas, Igrejinha, Porto Alegre, São Lourenço do Sul, Pedro Osório, Capão do Leão e Rolante.

Trensurb entre Canoas e Novo Hamburgo volta a funcionar somente nesta quinta. Até as 5h desta quinta, trem funcionará apenas entre as estações Mercado e Mathias Velho, em Canoas


Foto: Jefferson Botega / Agencia RBS


Um raio que caiu no cabo do Trensurb deixa 65 mil pessoas sem acesso ao principal meio de transporte que liga Porto Alegre à Região Metropolitana durante esta quarta-feira. Ao arrastar a fiação por cerca de 500m entre as estações Esteio e Luiz Pasteur, o trem causou a tração do cabo e consequente danificação no suporte de sustentação.

O acidente ocorreu por volta das 6h25min, permitindo o funcionamento do trem apenas entre as estações Mercado e Mathias Velho, em Canoas. A operação completa só deve ser retomada na manhã de quinta-feira, às 5h. Em virtude do problema, o serviço especial para atendimento do público tricolor, que vai à Arena para ver Grêmio e Corinthians, também foi cancelado. Por conta disso, linhas de ônibus da Grande Porto Alegreforam reforçadas.

Como ficou indisponível durante quase todo o dia para municípios da Região Metropolitana, a ocorrência causou prejuízos para usuários como o morador de São Leopoldo Jean Peixoto, que chegou à estação por volta das 7h10min quando soube que o serviço estava indisponível.

— Além de mim, dezenas de pessoas estavam lá, preocupadas com o atraso no trabalho — afirma.

A falta de alternativas de transporte devido ao bloqueio da BR-116 fez com que o estudante acompanhasse via redes sociais o retorno do trem. Mas a espera de quase duas horas foi em vão.

A funcionaria pública Daniele Gonçalves também foi impactada pela paralisação. Isso porque a babá que cuida de sua filha não conseguiu chegar ao bairro Petrópolis, em Porto Alegre, devido aos alagamentos que impediram as lotações de circular em Sapucaia, e à falta de metrô.



Por que a chuvarada parou a BR-116, na Grande Porto Alegre. Somatório de fatores causou a paralisação da principal rodovia da Região Metropolitana


Foto: Jefferson Botega / Agencia RBS

Humberto Trezzi


Como acontece nas quedas de aviões, foi um somatório de fatores que causou a paralisação da principal rodovia da Região Metropolitana de Porto Alegre, a BR-116 — e, de quebra, das atividades empresariais a ela ligadas. Chuva fora do comum, detritos de vários tipos carregados pelas águas, entupimento de bocas-de-lobo e residenciais construídos em locais alagadiços formaram um coquetel indigesto que levou ao infarto das vias de escoamento da Grande Porto Alegre. O resultado foi caótico.

Motoristas que trafegavam ao amanhecer pela BR-116 dizem que um vagalhão vindo da área de Sapucaia do Sul, em direção à Capital, varreu a rodovia, deixando veículos ilhados em Esteio e o tráfego interrompido por vários quilômetros. A explicação é impressionante: seria um efeito-dominó.

Grande parte dos alagamentos registrados a partir dali foi causada por caliça e detritos oriundos da demolição de residências para ampliação da ERS-118, via que está sendo duplicada, no trecho entre Sapucaia do Sul e Gravataí. Zero Hora comprovou isso ao visitar o local.

O prefeito de Sapucaia do Sul, Vilmar Balim (PT), assinala que o governo do Estado mandou retirar 180 casas situadas numa vila popular encravada entre a ERS-118 e a BR-116, que ficou inundada.

— A chuvarada foi muito forte e os restos de entulho de construção civil oriundos das casas foram carregados para os bueiros — acredita Balim.

O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), do governo estadual, admite que parte do material que sobrou da demolição de casas para ampliação da ERS-118 foi parar nos bueiros da rodovia.

— Ali temos um grande bueiro duplo, que entupiu. Parte do material, incluindo madeira e cimento, ficou no terreno e escorreu para lá. Já acionamos a empresa responsável para providenciar a retirada do entulho.

Soma-se a isso lixo jogado pela própria população.

MP vai investigar causas do alagamento na BR-116

O promotor Maurício Sanchotene de Aguiar, da Promotoria Especializada de Sapucaia do Sul, promete abrir nesta quinta-feira investigação preliminar para verificar as causas dos alagamentos na BR-116. Um dos primeiros depoimentos a ser tomado é dos administradores municipais, para verificar o que disse o prefeito: que entulho oriundo da demolição de casas para ampliar a rodovia entupiu bueiros.

Mas essa não foi a única causa, apenas o estopim e com efeito localizado naquele trecho da BR-116. Zero Hora ouviu um dos maiores especialistas brasileiros em recursos hídricos, Carlos Tucci, professor colaborador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele alinhava pelo menos três outros fatores que ajudam a explicar a inundação:

1 - Áreas alagadiças: toda a parte leste da BR-116 na Região Metropolitana, entre Canoas e Sapucaia do Sul, é constituída de várzeas usadas outrora para plantio de arroz. Parte delas está inclusive abaixo do nível do mar e também do nível da BR. Chuvaradas costumam inundar essas áreas, hoje ocupadas por condomínios residenciais.

2 - Volume de chuva: as informações oficiais são de que choveu hoje em Esteio cerca de 90 mm em duas horas. Isso significa mais de 70% do previsto para o mês inteiro. O hidrólogo Tucci diz que se fossem 110 mm em duas horas, seria chuva que só acontece uma vez na década. "Foi muita chuva em pouco tempo, só poderia alagar", pondera o especialista.

3 - Impermeabilização do solo: a construção de bairros residenciais levou asfalto para as antigas várzeas. Com isso, o solo ficou impermeabilizado e não absorve a chuva, alagando o terreno. Além disso, os dutos para escoamento da chuva resultam em enxurradas.



Nas ruas inundadas, socorro improvisado



Nas regiões mais atingidas, os próprios moradores chegaram a usar barcos para resgatar vizinhos, impedidos de sair

de casa em razão do aguaceiro.

Um grito no início da manhã de ontem acordou o motorista profissional Clairto Macedo de Lima, 40 anos. Uma mãe clamava pelo salvamento do filho:

– Socorro!

Chovia desde a madrugada em Sapucaia do Sul, e o bairro Nova Sapucaia passava pelo que os moradores chamaram de “tsunami”. Uma onda atingiu a casa de Márcia Alves, 28 anos, por volta das 6h:

– Ouvi um barulho de rio. Foi assustador.

A água tomou a casa. O filho Gabriel, 12 anos, se safou a muito custo. O menor, Diogo, quatro anos, não teve a mesma chance. Ele não conseguia sair do quarto da mãe, que parecia uma piscina enchendo cada vez mais. O nível já atingira algumas tomadas, e o medo era de choques elétricos. Os gritos de socorro continuavam.

Lima logo percebeu que os moradores da Avenida República, que termina junto a um córrego à beira da ERS-118, estavam na pior situação. Famílias se amontoavam em cima dos telhados. Algumas casas – as mais próximas ao córrego – ficaram praticamente submersas. Às pressas, Lima arrecadou equipamentos com a vizinhança. Com um colete salva-vidas e um barco, partiu para resgatar o maior número de pessoas que pudesse.

O alvo primordial era a casa onde Diogo corria o risco de se afogar. Lima se segurava em grades, muros, paredes e onde podia para não ser arrastado pela correnteza barrenta que se formava na avenida. Ao alcançar o menino, notou que só venceria a força da água com os braços livres. Então, ergueu Diogo e o colocou na garupa, escapando a muito custo para longe da avenida.

Ao salvar o menino, Lima tinha apenas começado a sua missão. Com o barco, ele ainda atravessaria por cima das grades de algumas residências – tamanha a altura da água – para fazer novos resgates.

A dona de casa Marisa Monticelli, 51 anos, viveu um drama ao tentar sair da residência: não conseguia abrir a porta, grudada pela pressão da água. Com medo de morrer afogada, gritava desesperadamente. O genro a ouviu e conseguiu abrir a porta. A seguir, desligou a luz para evitar que alguém levasse um choque. Na casa, nada escapou da lama.

Revoltados, moradores armaram barreiras com pneus em chamas bloquearam a ERS-118 durante a manhã, reivindicando indenização pelas perdas. Entre Sapucaia e Gravataí, formou-se uma fila de veículos de dois quilômetros na estrada, segundo o tenente José Roberto Teichmann, comandante do Pelotão Rodoviário de Gravataí. À tarde, o trânsito foi liberado.

ANDRÉ MAGS

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