ZERO HORA 22 de outubro de 2013 | N° 17591
ARTIGOS
Marcos Fagundes Salomão
Passados pouco mais de 40 dias da data de 31 de agosto de 2013, leio notícias nos jornais informando que a investigação concluiu ter sido acidente a queda de uma árvore na Redenção.
O acidente é tido como um “acontecimento casual, fortuito, imprevisto” (Dicionário Aurélio), que é indesejável, mas que ocorre. Logo, fiquei curioso para saber o que de fato foi um acidente: a árvore cair ou uma pessoa estar caminhando tranquilamente e ser atingida por um eucalipto. A notícia não me esclareceu, porque não é acidente nem uma coisa, nem outra.
Desde o Iluminismo, no século 18, o mundo ocidental passou a questionar “os acidentes”, até então explicados como fatalidades ou imposições incompreensíveis advindas de vontade divina. O Terremoto de Lisboa, de 1755, foi o fato mais utilizado para demonstrar o pensamento iluminista e o quanto a ação do homem interfere no resultado desastroso do que seria, normalmente, apenas um evento natural.
Não é acidente uma árvore cair. Elas, em algum dia, encerrarão seu ciclo da vida. São seres vivos. É o óbvio ululante. Se estiverem no meio urbano, o seu fim de ciclo certamente não será apenas um evento natural, porque, ao caírem, podem causar um dano.
Não é acidente uma pessoa ser atingida por uma árvore enquanto caminha num parque, que por ser parque possui muitas árvores, que, como tal, nascem, crescem e, um dia, morrerão. Então, podemos atribuir à fatalidade um evento que, do ponto de vista das probabilidades, é significativamente possível de acontecer? Não houve, no caso, determinante ação do homem sobre o resultado desastroso do que seria, apenas, um ciclo natural? E aqui, fica a questão: um eucalipto de 20 metros de altura deveria estar num parque onde milhares de pessoas circulam?
Pela conclusão das investigações, parece que a culpa é do eucalipto, porque não informou à Secretaria do Meio Ambiente que estava doente por dentro, embora bonito por fora. Ou a culpa é do meu querido colega, morto pelo seu saudável hábito de caminhar no parque, e também dos outros dois cidadãos que foram curtir uma tarde amena num ponto turístico e saíram de lá direto para o hospital?
Os peritos atestaram “a impossibilidade de identificação do estado da árvore”.
Voltemos, portanto, ao século 17. Só nos resta rezar.
*Juiz do Trabalho e diretor de Comunicação da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 4ª Região (Amatra IV)
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Marcos Fagundes Salomão
Passados pouco mais de 40 dias da data de 31 de agosto de 2013, leio notícias nos jornais informando que a investigação concluiu ter sido acidente a queda de uma árvore na Redenção.
O acidente é tido como um “acontecimento casual, fortuito, imprevisto” (Dicionário Aurélio), que é indesejável, mas que ocorre. Logo, fiquei curioso para saber o que de fato foi um acidente: a árvore cair ou uma pessoa estar caminhando tranquilamente e ser atingida por um eucalipto. A notícia não me esclareceu, porque não é acidente nem uma coisa, nem outra.
Desde o Iluminismo, no século 18, o mundo ocidental passou a questionar “os acidentes”, até então explicados como fatalidades ou imposições incompreensíveis advindas de vontade divina. O Terremoto de Lisboa, de 1755, foi o fato mais utilizado para demonstrar o pensamento iluminista e o quanto a ação do homem interfere no resultado desastroso do que seria, normalmente, apenas um evento natural.
Não é acidente uma árvore cair. Elas, em algum dia, encerrarão seu ciclo da vida. São seres vivos. É o óbvio ululante. Se estiverem no meio urbano, o seu fim de ciclo certamente não será apenas um evento natural, porque, ao caírem, podem causar um dano.
Não é acidente uma pessoa ser atingida por uma árvore enquanto caminha num parque, que por ser parque possui muitas árvores, que, como tal, nascem, crescem e, um dia, morrerão. Então, podemos atribuir à fatalidade um evento que, do ponto de vista das probabilidades, é significativamente possível de acontecer? Não houve, no caso, determinante ação do homem sobre o resultado desastroso do que seria, apenas, um ciclo natural? E aqui, fica a questão: um eucalipto de 20 metros de altura deveria estar num parque onde milhares de pessoas circulam?
Pela conclusão das investigações, parece que a culpa é do eucalipto, porque não informou à Secretaria do Meio Ambiente que estava doente por dentro, embora bonito por fora. Ou a culpa é do meu querido colega, morto pelo seu saudável hábito de caminhar no parque, e também dos outros dois cidadãos que foram curtir uma tarde amena num ponto turístico e saíram de lá direto para o hospital?
Os peritos atestaram “a impossibilidade de identificação do estado da árvore”.
Voltemos, portanto, ao século 17. Só nos resta rezar.
*Juiz do Trabalho e diretor de Comunicação da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 4ª Região (Amatra IV)
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