Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

terça-feira, 7 de junho de 2011

A AFRONTA AO PRINCÍPIO DA HIERARQUIA E DISCIPLINA


A afronta ao princípio da hierarquia e disciplina - o globo, 06/06/2011 às 16h02m - Milton Corrêa da Costa


É ponto pacífico que, num estado democrático, a reivindicação salarial e a luta (ordeira) por melhores condições de trabalho é um direito de toda categoria de trabalhadores. Até aí, não há dúvida. No entanto, anarquia, desrespeito, desordem e coação são comportamentos com os quais não se pode concordar. Foram tristes, chocantes e inimagináveis as cenas de indisciplina, perpetradas por bombeiros amotinados, no lamentável episódio de invasão do Quartel Central da corporação, no último final de semana no Rio.

De antemão, é preciso entender que a reivindicação por melhores condições de trabalho e salários, quando se trata de integrantes de organizações militares, só pode existir com base num preceito maior e inviolável: o princípio da hierarquia e disciplina. É profundamente lamentável que cenas de desordem generalizada de um grupo de militares tenham sido protagonizadas por uma turba insuflada por líderes, aproveitadores políticos de ocasião, que querem em verdade ver o circo pegar fogo, incentivando jovens militares por meio do artifício da chantagem, utilizando-se inclusive de crianças e mulheres como escudo. Ato por demais impensado.

No triste episódio, o próprio comandante do Batalhão de Choque resultou ferido por agressão, fato que demonstra a insensatez e o radicalismo da inusitada ação. Um dos militares, num ato de agressividade extrema, fez uso (pasmem) de um marreta para agredir a tropa de choque da PM. "Imperdoável", como disse o novo comandante dos bombeiros, coronel José Simões.

Reivindicar é um ato justo. Ferir gravemente princípios de hierarquia e da disciplina é crime de natureza militar. Um mau exemplo que cria, inclusive, um perigoso precedente para que outras classes de militares também assim se comportem. Não se pode admitir, numa tradicional e conceituada instituição secular como o Corpo de Bombeiros, de inestimáveis serviços prestados à sociedade fluminense, que um grupo de amotinados manche a sua gloriosa história.

Tentar, pelo instituto da força e da coação, ameaçar o poder público por melhores condições de salário, é ato impensado que fere inclusive princípios do regime democrático. Um governo não pode ser coagido por nenhuma classe de profissionais, quanto mais quando regida por normas de regulamento militar."Que tais militares reflitam", como bem disse o comandante geral da Polícia Militar do Rio, coronel Mário Sérgio, e que ao final prevaleçam o bom senso e sobretudo a hierarquia, a ordem e a disciplina. A história do Corpo de Bombeiros é de glórias, não de indisciplina. O diálogo é o caminho, sem que governos se sintam jamais pressionados e possam, discricionariamente, decidir sobre o atendimento ou não das reivindicações, dentro de suas reais possibilidades de caixa, É ledo engano imaginar que o poder da intimidação, num regime democrático, pode superar o poder legal e soberano do Estado. Disciplina e anarquia são lados frontalmente opostos. O secular Corpo de Bombeiros não merecia tal afronta.

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