Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

LIÇÕES DAS TRAGÉDIAS

LIÇÕES DAS TRAGÉDIAS - Editorial Zero Hora, 14/01/2011

As tragédias climáticas registradas nos últimos dias na capital paulista e nas cidades da região serrana do Estado do Rio de Janeiro deixam lições importantes para todos, governantes e cidadãos. Uma delas, triste e óbvia, é a de que as centenas de mortos em consequência das cheias e os incalculáveis prejuízos de ordem financeira e emocional resultam de uma perversa combinação entre catástrofe natural e irresponsabilidade humana. A outra, que sempre se constitui num alento em momentos de dor para os brasileiros, é a percepção da sociedade sobre a importância de prestar solidariedade a quem enfrentou perdas de toda ordem. Um desastre desta dimensão mobiliza até mesmo pessoas que raramente se preocupam com questões ambientais, com a ocupação ordenada do solo e com o planejamento urbano.

Os brasileiros mal haviam tomado consciência da gravidade dos estragos das enxurradas e uma rede espontânea de ajuda já havia sido formada. As equipes oficiais de salvamento foram reforçadas por voluntários destemidos, doadores de sangue correram aos hemocentros, multiplicaram-se as contribuições em dinheiro, as ofertas de alimentos, de roupas, de brinquedos para as crianças, e também de um teto para quem perdeu tudo, inclusive a casa. Obviamente, as autoridades – em âmbito municipal, estadual e federal – retomaram promessas que se sucedem com uma regularidade semelhante à das próprias tragédias. Entre as mais recentes, estão a de 2008 em Santa Catarina, a de janeiro e a de abril do ano passado no próprio Rio de Janeiro e a de junho, também do ano passado, em Pernambuco e Alagoas. Entre as promessas feitas por autoridades ainda sob o impacto da dor e o que de fato foi feito depois de as águas baixarem, há sempre um abismo que não deveria ser repetido agora, quando os problemas apenas mudaram de lugar.

Por isso, o momento exige acima de tudo solidariedade e ajuda efetiva aos prejudicados pela intempérie, mas também maior conscientização sobre os efeitos catastróficos da incúria de sucessivos governantes. A própria natureza, ao reafirmar sua força desmedida, acaba fazendo soar uma espécie de alerta do quanto é importante respeitar as encostas, do quanto é preciso preservar as margens e os cursos dos rios, do quanto é urgente recorrer a mais moderação na pavimentação do solo e manejar o lixo com cuidado, entre outros cuidados básicos para deixar o mundo mais habitável para as atuais e as futuras gerações.

Este, portanto, é o momento de os governantes e a sociedade se comprometerem de forma transparente com providências emergenciais para as comunidades atingidas, a começar por gestos imediatos de solidariedade. Mas é também a hora de todos os brasileiros, dentro e fora do governo, se aprofundarem em debates mais amplos, envolvendo preferencialmente ações preventivas, que pouco aparecem e custam caro, mas podem atenuar e até mesmo evitar danos muitas vezes irreparáveis.

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