Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
RIO - OUTRO CENÁRIO, MESMA TRAGÉDIA
RIO, 12/01/2011 - Outro cenário, mesma tragédia - Zero Hora, 13/01/2011
A tragédia no Rio de Janeiro choca, mas não surpreende. O que ocorreu nas encostas de municípios serranos como Teresópolis e Nova Friburgo é a confirmação de que o Brasil não está preparado para desafios que a natureza impõe. Até investir em prevenção às enxurradas com seriedade, o país contará mortos como os da tragédia fluminense, que ontem ultrapassavam duas centenas
Morros desabam e soterram centenas
A chuva que caiu entre a noite de terça-feira e a madrugada de ontem, na região serrana do Rio, provocou deslizamentos da encosta de morros e centenas de mortes em pelo menos três municípios
Uma mescla fatídica de dilúvio e deslizamentos de terra fez a morte açoitar o Estado do Rio de Janeiro, mais uma vez no início de ano.
Desta vez, os rios de janeiro se formaram na região serrana, levando de roldão morro abaixo bairros inteiros e deixando, segundo informações oficiais, um saldo pelo menos 271 mortes até ontem à noite. Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis, as cidades atingidas com maior violência pela enxurrada, viveram um dia de horror, isolamento e destruição.
É o segundo ano consecutivo que começa com tragédia. Em 2010, a calamidade atingiu o sul do território fluminense, sobretudo Angra dos Reis, onde desmoronamentos mataram 50 pessoas. Em abril passado, os morros fluminenses voltaram a ceder com a água e 229 pessoas morreram, a maior parte soterrada no Morro do Bumba, em Niterói.
A tragédia agora é maior do que as duas do ano passado. Apenas em Teresópolis morreram ontem pelo menos 122 pessoas.
O município, de 160 mil habitantes e situado a 91 quilômetros do Rio, foi castigado, nos últimos dias, por uma quantidade de chuva equivalente ao esperado para todo o mês. Bairros ficaram submersos e deslizamentos ocorreram em pontos diversos, arrastando casas de ricos e de pobres. A cidade, famosa por ter sido um dos locais de férias da família imperial brasileira, registrou, em três horas, 160mm de chuva, mais do que o esperado para todo o mês de janeiro.
No meio da lama, a busca por desparecidos
O número de mortos em Teresópolis pode aumentar. No meio do dia, moradores ainda procuravam no meio da lama parentes desaparecidos desde a madrugada. A Defesa Civil do município mantém cerca de 800 homens nos bairros mais atingidos pela chuva, em busca de corpos e sobreviventes.
O prefeito Jorge Mário Sedlacek, que decretou estado de calamidade pública, estima que, além das mortes, a tempestade deixou R$ 100 milhões em prejuízos e mil desabrigados.
– É a maior tragédia da nossa história – definiu Sedlacek.
Em Teresópolis, a casa do motorista Antônio Venâncio, 53 anos, permaneceu de pé, mas foi invadida por lama. Ninguém da família ficou ferido, mas moradores vizinhos não tiveram a mesma sorte. Foram soterrados pelas águas de uma represa que estourou.
– Passei por seis corpos na minha rua. É uma tragédia enorme, o povo não sabe o que fazer diante de uma coisa horrível dessas – desabafou.
Em Nova Friburgo, 97 mortes foram confirmadas até o início da noite – quatro de bombeiros. Eles foram soterrados por um deslizamento quando trabalhavam no resgate de outras vítimas. Três outros bombeiros estão desaparecidos. O município de 180 mil moradores, situado a 136 quilômetros do Rio, está coberto de lama e com ruas alagadas. Várias casas e prédios desmoronaram.
Moradores tiveram de subir em árvores
Em Petrópolis, que fica a 68 quilômetros do Rio e tem 300 mil moradores, a Defesa Civil contabiliza 18 mortes.
A região do Vale do Cuiabá foi a mais atingida, com a água subindo mais de cinco metros. Manoel Cândido da Rocha Sobrinho, 45 anos, morador da área, conta que a maior parte das pessoas se salvou subindo em árvores. Muitas casas foram destruídas, e a comunidade foi isolada pela queda de pontes e pelo corte no fornecimento de água, luz e telefone.
– A gente está desesperado. O caseiro me ligou e disse que a chuva arrastou os carros, tudo o que tinha pela frente e destruiu a ponte. Ele me disse ainda que os pais do nosso eletricista morreram afogados e que há mortos entre os hóspedes de uma pousada no local – contou o economista José Roberto Afonso, que tem uma casa no Vale do Cuiabá.
O governador fluminense, Sérgio Cabral, solicitou ao comandante da Marinha, almirante Júlio Moura, a cedência de aeronaves para o deslocamento de homens e equipamentos do Corpo de Bombeiros para os municípios atingidos pela catástrofe. Toda a região serrana está isolada, e o governo estadual lutava para liberar pelo menos meia pista das estradas que ligam essa área ao Rio, na noite de ontem.
– Nunca vi nada igual, nem mesmo nos deslizamentos em Angra dos Reis no ano passado – desabafa o vice-governador, Luiz Fernando Pezão.
E a tragédia não tem data para acabar. O Instituto de Meteorologia (Inmet) prevê que as chuvas fortes continuarão nos próximos dias.
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