Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

SOCORRO DEFICIENTE


EDITORIAL ZERO HORA, 19/01/2011

Uma semana depois da tragédia na serra do Rio, fica evidente a desproporção entre o drama enfrentado pelos moradores da região e o socorro prestado pelo poder público. A União e o governo do Estado, que falharam ao não adotar políticas de prevenção, também falham agora, quando do esforço de reparação. Enquanto se ampliam os efeitos devastadores das chuvas, percebe-se que todos os órgãos de governos e outras instituições mobilizadas não dão conta, com gente e equipamentos, do tamanho da catástrofe. É assim que o Brasil assiste, desde a manhã do dia 12, quando começaram a circular as primeiras informações sobre as mortes provocadas pelo desastre natural, a cenas denunciadoras de deficiências ainda não corrigidas, apesar dos imensos recursos disponíveis, em especial nas Forças Armadas.

Bastam os depoimentos dos próprios sobreviventes, muitos ainda ilhados em localidades destruídas pelas enxurradas, para que a insuficiência de contingente fique explicitada. São embaraçosas para os governos as cenas em que voluntários, que deveriam auxiliar na assistência às famílias, aparecem como protagonistas do socorro, e as imagens de famílias que enterram seus mortos em quintais, depois de aguardar, por intermináveis dias, a presença de representantes do setor público. A população sobrevivente faz, sob comoção, o que as autoridades deveriam fazer com estratégia e racionalidade.

Se os governos, nas esferas federal e estadual, foram lentos na tentativa de amenizar aflições, também faltou agilidade às Forças Armadas, como aliada de setores da Defesa Civil. Somente no domingo, cinco dias depois dos soterramentos, a Força Aérea Brasileira iniciou a montagem de um hospital de campanha. Especialistas em situações como essa apontam uma série de falhas, que envolvem a desarticulação entre a Defesa Civil e as forças militares e, principalmente, uma personagem sempre presente, a burocracia. Processos ultrapassados, em desacordo com realidades que exigem urgência, faziam com que, no domingo, apenas 12 helicópteros militares sobrevoassem as áreas atingidas, enquanto pelo menos cem aparelhos estavam estacionados no pátio de uma unidade do Exército em Taubaté, a menos de uma hora de voo do cenário de horror.

A lentidão fez com que, em muitos casos, a imprensa tenha chegado antes a locais considerados inacessíveis pelas forças da Defesa Civil. Como jornalistas, a maioria sem treinamento para situações de risco, podem ter levado algum conforto, com suas presenças, a pessoas traumatizadas pelo desaparecimento de parentes, e quadros preparados para o enfrentamento de desastres naturais só foram aparecer quase uma semana depois? Por que, além de helicópteros, o Exército não mobilizou seus blindados, logo nos primeiros dias, para ultrapassar barreiras de lama e entulhos?

Desta vez, não há como se proteger na desculpa da falta de verbas. Contingentes brasileiros têm recursos, tecnologia e tradição, inclusive em atividades fora do país, e sempre marcaram suas ações com êxito em áreas de calamidade. Faltaram no Rio a determinação e a agilidade que deveriam marcar sempre as operações destinadas a salvar vidas e abrandar sofrimentos.

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