A bondade e a maldade: um duelo na tragédia - Francisco Vanderlúcio Souza, O GLOBO, 19/01/2011 às 19h31m; Artigo do leitor
Por culpa do poder público ou por força incontrolável da natureza as tragédias sempre estiveram presentes na história humana. E, como vemos, é bem provável que elas permaneçam, sobretudo, pela ineficiência de quem é chamado a resguardar o equilíbrio entre o progresso e a natureza.
Pior do que a tragédia natural, é a tragédia moral. As trombas d'água no Rio de Janeiro trouxeram lama às casas e revelaram a podridão de muitos comerciantes locais. É hedionda a prática de alguns vendedores da Região Serrana do estado de elevar o preço de produtos básicos para aqueles que sobreviveram.
Outras notícias dão conta do desvio de alimentos e recursos destinados a amenizar o sofrimento dos desabrigados na tragédia. Mais uma vez, a pecha odiosa da corrupção torna-se sinônimo do comportamento do brasileiro.
Enquanto algumas pessoas perderam seus bens materiais e entes queridos, outras deixaram ir com as águas a vergonha e a bondade. A limpidez da solidariedade, contudo, emerge na lama moral dos virulentos que se aproveitam de uma situação deplorável, como a ocorrida no estado do Rio.
Ver o testemunho de milhares de voluntários, que pagam os impostos mais altos do mundo para serem servidos e mesmos assim cumprirem uma árdua jornada de trabalho, é um estímulo e ao mesmo tempo um consolo. Como na escuridão das casas de Petrópolis e Nova Friburgo, acendem uma pequena chama, qual da vela, ensinando para esta geração que o 'ser' é preeminente ao 'ter'.
Que a lembrança dos jovens salvando a senhora com uma corda das ruínas de sua antiga casa ou da mãe machucada ao salvar as filhas permaneçam em nossa lembrança, sobrepondo-se ao escândalo de homens embargados pela lei por surrupiarem ajuda humanitária.
Que as águas do Rio de Janeiro levem consigo a maldade que impede o homem de fazer o bem e levante como uma torre de esperança, a solidariedade.
Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.
sábado, 22 de janeiro de 2011
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