HELOISA ARUTH STURM | SANTA MARIA
KISS UM ANO
Congresso que reuniu especialistas em segurança em Santa Maria terminou com discussão entre familiares de vítimas e representante do MP em razão do arquivamento de processo contra servidores públicos
Terminou em bate-boca o segundo dia do congresso organizado em Santa Maria para lembrar as 242 mortes no incêndio da boate Kiss. Na noite de ontem, um grupo de familiares de vítimas discutiu com o subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Institucionais do MP, Marcelo Dornelles, ao questionar o motivo do arquivamento do processo de improbidade administrativa contra servidores da prefeitura. Alguns pais mais exaltados interromperam a fala dos palestrantes para se manifestar e pedir por justiça.
No último painel do dia, que debateu a atuação da Polícia Civil, de advogados e procuradores no caso, Dornelles afirmou que a decisão foi tomada com base nas informações de que dispunham na época. O evento contou com a presença do delegado Marcelo Arigony – muito aplaudido pelo auditório por sua atuação à frente das investigações do caso –, do defensor público Andrei Melo e de três advogados da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria.
O primeiro congresso realizado em Santa Maria para lembrar as 242 vítimas do incêndio na boate Kiss definiu o foco que deverá ser seguido para evitar que tragédias como essa se repitam: a prevenção. Nos dois primeiros dias do I Congresso Internacional Novos Caminhos – A vida em transformação, palestrantes se dedicaram a apresentar propostas para a criação de grupos de pesquisa, conselhos e regulamentação de novas leis, de forma a colocar em prática as lições aprendidas com o incidente. O especialista em segurança J. Pedro Corrêa diz que, no país, ainda falta desenvolver uma cultura de segurança, prática já adotada em locais como Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Japão. Para isso, seria necessário criar conselhos municipais de segurança, com legislação específica sobre o assunto, e promover a inserção do tema nas salas de aula.
A participação de universidades é essencial, avalia Corrêa, para elaboração de um projeto que minimize a exposição a situações de risco e para ajudar num futuro mapeamento das cidades com objetivo de identificar e corrigir locais propícios a acidentes:
– É um esforço complicado, é do tamanho da dor de Santa Maria, por isso, indispensável. A ideia é que, daqui a cinco, 10 anos, Santa Maria não seja lembrada como a cidade do incêndio da boate Kiss, mas sim como a cidade que se reergueu das cinzas e se tornou mais segura para a comunidade.
Paulo Chaves de Araújo, coronel da reserva do Corpo de Bombeiros de São Paulo e idealizador do Brasil em Chamas, propôs a criação de um observatório para coletar e disponibilizar as informações sobre a segurança contra incêndio no país, identificando leis e regulamentações conflitantes, além de criar base de dados e indicadores capazes de subsidiar tomadas de decisões e políticas públicas. A programação do evento continua hoje. Um ato em homenagem às vítimas está marcado para ocorrer às 9h, no campus da UFSM.
KISS UM ANO
Congresso que reuniu especialistas em segurança em Santa Maria terminou com discussão entre familiares de vítimas e representante do MP em razão do arquivamento de processo contra servidores públicos
Terminou em bate-boca o segundo dia do congresso organizado em Santa Maria para lembrar as 242 mortes no incêndio da boate Kiss. Na noite de ontem, um grupo de familiares de vítimas discutiu com o subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Institucionais do MP, Marcelo Dornelles, ao questionar o motivo do arquivamento do processo de improbidade administrativa contra servidores da prefeitura. Alguns pais mais exaltados interromperam a fala dos palestrantes para se manifestar e pedir por justiça.
No último painel do dia, que debateu a atuação da Polícia Civil, de advogados e procuradores no caso, Dornelles afirmou que a decisão foi tomada com base nas informações de que dispunham na época. O evento contou com a presença do delegado Marcelo Arigony – muito aplaudido pelo auditório por sua atuação à frente das investigações do caso –, do defensor público Andrei Melo e de três advogados da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria.
O primeiro congresso realizado em Santa Maria para lembrar as 242 vítimas do incêndio na boate Kiss definiu o foco que deverá ser seguido para evitar que tragédias como essa se repitam: a prevenção. Nos dois primeiros dias do I Congresso Internacional Novos Caminhos – A vida em transformação, palestrantes se dedicaram a apresentar propostas para a criação de grupos de pesquisa, conselhos e regulamentação de novas leis, de forma a colocar em prática as lições aprendidas com o incidente. O especialista em segurança J. Pedro Corrêa diz que, no país, ainda falta desenvolver uma cultura de segurança, prática já adotada em locais como Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Japão. Para isso, seria necessário criar conselhos municipais de segurança, com legislação específica sobre o assunto, e promover a inserção do tema nas salas de aula.
A participação de universidades é essencial, avalia Corrêa, para elaboração de um projeto que minimize a exposição a situações de risco e para ajudar num futuro mapeamento das cidades com objetivo de identificar e corrigir locais propícios a acidentes:
– É um esforço complicado, é do tamanho da dor de Santa Maria, por isso, indispensável. A ideia é que, daqui a cinco, 10 anos, Santa Maria não seja lembrada como a cidade do incêndio da boate Kiss, mas sim como a cidade que se reergueu das cinzas e se tornou mais segura para a comunidade.
Paulo Chaves de Araújo, coronel da reserva do Corpo de Bombeiros de São Paulo e idealizador do Brasil em Chamas, propôs a criação de um observatório para coletar e disponibilizar as informações sobre a segurança contra incêndio no país, identificando leis e regulamentações conflitantes, além de criar base de dados e indicadores capazes de subsidiar tomadas de decisões e políticas públicas. A programação do evento continua hoje. Um ato em homenagem às vítimas está marcado para ocorrer às 9h, no campus da UFSM.
Vigília pelas 242 vítimas
O branco uniu Santa Maria nas homenagens às vítimas da Kiss. A cor esteve presente em balões, flores, fitas, banners, roupas, vitrines, templos religiosos e casas – mas não abrandou os pedidos por justiça que deram o tom da maioria dos eventos programados por associações de familiares e sobreviventes.
A vigília que estava programada para atravessar a madrugada começou às 23h de ontem em dois pontos: na frente da boate e na barraca dos familiares montada na Praça Saldanha Marinho. A ideia dos pais era fazer a concentração nas proximidades da barraca e caminhar até a Rua dos Andradas.
No final da noite de ontem, cerca de 50 pessoas estavam na vigília. Por volta das 23h30min, um grupo começou a pintura de 242 silhuetas humanas em frente à Kiss (foto acima), em lembrança às vítimas do incêndio de 27 de janeiro de 2013.
ZERO HORA 27 de janeiro de 2014 | N° 17686
EDITORIAIS
O momento de esclarecer
Passado o primeiro ano da tragédia da boate Kiss, o doloroso episódio ainda carece de definições, especialmente no que se refere às responsabilidades. A dor das famílias, as manifestações de solidariedade e todos os movimentos no sentido de reparar o que aconteceu em Santa Maria somente terão algum sentido se pontos ainda obscuros forem finalmente analisados e julgados com bom senso. É inútil, para que se compreenda o que aconteceu e quais são as responsabilidades de cada envolvido, a insistência na explicitação de conflitos entre quem investigou, quem acusou e quem vai julgar. O que importa é que as famílias sejam pelo menos confortadas pela certeza de que todos fizeram o melhor para que o episódio não seja esquecido, para que sejam criados mecanismos preventivos eficientes e para que se afaste o risco de impunidade.
É nesse contexto que, entre outros aspectos, merece observação atenta das autoridades o resultado de sindicância conduzida por um grupo de policiais de Santa Maria. A tarefa dessa equipe foi, como bem define reportagem publicada hoje por Zero Hora, a de remontar um quebra-cabeça de exigências, documentos e formalidades que, desrespeitadas, contribuíram para o que ocorreu. Está reafirmado, agora de forma categórica, que a boate nunca cumpriu totalmente o que determinam as leis. O estabelecimento era o exemplo acabado de situa- ções que, infelizmente, repetem-se em todo o país, com a diferença de que nem sempre se traduzem em sinistros fatais.
Essa é uma das principais lições que as investigações deixam aos que perseguem a verdade, para que nenhuma dúvida, em torno de questões essenciais, se mantenha depois das investigações e do veredicto da Justiça. A reportagem mostra como a negligência contagiou desde os donos da boate até os responsáveis pelas instituições que, em algum momento, poderiam ter impedido que a casa noturna continuasse funcionando. Chegou a hora do esclarecimento integral, a partir dessa e de outras conclusões, como exigência de todos, e não só dos familiares dos jovens mortos e feridos.
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