Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

SEM JUSTIÇA NÃO HÁ PAZ


ZERO HORA 28 de janeiro de 2014 | N° 17687


PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA



A frase acima paira sobre Santa Maria. Está escrita no tapume em frente aos escombros da boate Kiss, em cartazes usados nas manifestações e na boca de pais, mães e amigos das vítimas. Foi repetida ontem pelo presidente da associação dos familiares das vítimas e sobreviventes da tragédia, Adherbal Alves Ferreira, pai de Jennefer, homem que fez da busca por justiça uma razão para viver.

Adherbal, assim como quase todos os pais e mães das vítimas, convive com a sensação de que os responsáveis pelo crime ficarão impunes. Eles não se conformam com o fato de, um ano depois, ninguém estar preso ou ter sido julgado. Temem que as manobras dos advogados possam encurtar a já escassa lista de réus. Criticam o Ministério Público por ter livrado pessoas que, na visão da polícia, contribuíram para a tragédia por ação ou omissão.

Ontem, os familiares das vítimas ganharam outra preocupação. Em caderno publicado pelo Diário de Santa Maria, há uma entrevista com o juiz Ulysses Louzada, responsável pelo processo criminal. Na primeira resposta, ele diz:

– Fazer justiça? Não tenho essa pretensão.

A resposta é mais ampla, mas a frase faz pensar. Se um juiz não tem pretensão de fazer justiça, o que esperar? Ele pode ter sido modesto, já que emenda “não tenho pretensão de achar que sou dono do mundo”, mas a frase espanta quem acredita que essa é a missão do juiz.

Diga-se em benefício de Louzada que ele é dedicado. Saiu de Santa Maria e foi ao Interior ouvir testemunhas. O gesto lhe valeu a contestação de um dos advogados, que ameaça pedir a nulidade do trabalho, apesar de ter sido feito com aval do Tribunal de Justiça.

Outro motivo de preocupação para as famílias apareceu no programa Polêmica de ontem, quando o advogado de Kiko Spohr, Jader Marques, declarou que seu cliente era o único dono da Kiss. A afirmação tenta isentar de culpa o outro dono, Mauro Hoffmann, que, nas palavras de Jader, era apenas o “capitalista” e não tinha qualquer envolvimento com a gestão. Se Kiko está assumindo a responsabilidade sozinho, Hoffmann pode acabar inocentado, já que, na versão do advogado, sequer assinou o contrato porque identificou irregularidades, e não pagou tudo o que devia.



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