Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

domingo, 26 de janeiro de 2014

O QUE FICOU EM NÓS






















ZERO HORA 26 de janeiro de 2014 | N° 17685


EDITORIAL



A dor dos familiares e amigos das vítimas ainda não arrefeceu – e talvez nunca venha a diminuir. A sensação de impunidade ainda martela nossos corações e mentes, pois todos os apontados e indiciados pela investigação policial permanecem livres. A irresponsabilidade, a inoperância, o desleixo, a ganância e tantos outros fatores que geraram a maior tragédia da história do Estado ainda se mantêm latentes em muitas instituições públicas e organizações privadas. A burocracia e a leniência continuam igualmente entravando alterações urgentes e necessárias na legislação preventiva.

Porém, um ano depois do infortúnio que comoveu o país e marcou Santa Maria para sempre, pode-se dizer que houve, sim, uma importante mudança na vida de gaúchos e brasileiros. Apesar de quase imperceptível, seu significado é imenso. As pessoas tornaram-se mais conscientes em relação à própria segurança, especialmente quando frequentam locais fechados e de grande afluência de público. Parece pouco, mas esta transformação interna e individual pode ser o embrião da cultura de responsabilidade que o país precisa desenvolver para nunca mais ter que viver um luto semelhante.

A Kiss que ficou gravada na alma de cada brasileiro grita a todo momento que somos também responsáveis pela nossa segurança, dos nossos filhos e amigos e pela fiscalização permanente daqueles que escolhemos para nos representar nos governos e nos serviços públicos. A Kiss de fogo e fumaça, que ainda assombra os sonhos dos jovens e tira o sono dos pais, também nos mantém em alerta permanente contra as armadilhas da negligência, contra os relapsos, contra exploradores da boa-fé, contra gananciosos de todos os calibres e nenhum escrúpulo. A Kiss das piores lembranças não nos deixa esquecer que a juventude precisa ser protegida, amada e celebrada como a mais preciosa das dádivas.

Um ano, todos sabemos, não é tempo suficiente para curar feridas que jamais cicatrizarão. Mas permite uma reflexão mais serena e distanciada sobre as causas, as razões e os ensinamentos do episódio. E algum significado maior tem que ser tirado daquele martírio coletivo. As famílias dos meninos e das meninas que partiram sem aviso na noite de festa vêm nos ensinando todos os dias, com inaudita coragem, que a vida sempre faz sentido quando a alma não esmorece. Pais, mães, avós, irmãos e namorados mostram a cada momento, com suas mensagens amorosas e cheias de saudade, com suas iniciativas sociais e com a pressão civilizada por justiça, que o ser humano se engrandece e se fortalece quando respeita seus semelhantes e honra seus afetos. Os sobreviventes da tragédia também dão lições de força e destemor ao retomar os movimentos da vida. Neles devemos nos espelhar para podermos efetivamente construir um futuro melhor, mais seguro e mais digno para todos.

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