Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

PRÉDIOS DESABADOS


Uma cicatriz no coração do país. Os cariocas despertaram ontem com sua cidade convulsionada pela tragédia do desabamento de três edifícios, responsável por deixar cinco mortos e 21 desaparecidos - ZERO HORA 27/01/2012

As atenções da população do Rio de Janeiro estiveram voltadas ontem para a imensa cicatriz aberta no coração da cidade depois da queda de três prédios. Enquanto as equipes de resgate escalavam montanhas de escombros em busca de corpos e sobreviventes, a metrópole tentava entender o golpe sofrido às 20h40min da véspera.

Foi um dia conturbado, marcado por serviços interrompidos e bloqueios em áreas centrais por onde milhares de pessoas circulam a cada dia. Às 23h30min de ontem, o saldo era de cinco mortes confirmadas (três homens e duas mulheres), seis pessoas feridas resgatadas dos escombros, 21 desaparecidos, três prédios interditados e um quarteirão evacuado.

Localizados atrás do Teatro Municipal, um tesouro da arquitetura brasileira, os edifícios desabaram com estrondo na noite de quarta, provocando pânico e correria no centro carioca, perto da Cinelândia. O primeiro a cair foi um prédio comercial de 20 andares, onde funcionavam vários escritórios de advocacia. O edifício, na Rua 13 de Maio, passava por reformas em dois andares – de forma irregular, sem acompanhamento de um responsável técnico. Ao desmoronar, levou abaixo duas construções vizinhas. Primeiro, cedeu um edifício de 10 andares, depois, outro, menor, de quatro pavimentos. Uma camada de poeira cobriu as ruas e carros.

– O prédio veio abaixo, como se tivesse havido uma implosão. Parecia o World Trade Center de Nova York – contou uma testemunha, Luiz Trajan.

Os 120 bombeiros e as equipes de socorro, apoiados por policiais, isolaram a área para facilitar as operações de resgate, enquanto escavadeiras, caminhões de lixo e caminhões-cisterna começaram a circular para a retirada dos escombros. Cães farejadores, com experiência no resgate das vítimas do terremoto no Haiti em 2010, foram levados ao local e identificaram focos onde havia pessoas soterradas. O trabalho se estendeu por toda a quinta-feira.

– Pessoas que estariam nos imóveis caídos não voltaram para casa. As equipes só deixarão de buscar quando estiverem seguras de que não há mais vítimas – disse o prefeito do Rio, Eduardo Paes.

Parentes e amigos dos desaparecidos reuniram-se na Câmara Municipal, a poucos metros do local da queda, à espera de notícias sobre as buscas. A diarista Francisca Eunice Vieira perseguia informações sobre a prima, Margarida Vieira Carvalho, que trabalhava como costureira e morava no último andar de um dos edifícios que ruíram.

– A família está à base de calmantes, mas a esperança é a última que morre – disse.

Afonso da Costa Menezes procurava a irmã, Kelly, que trabalhava em um dos prédios como técnica de segurança.

– Telefonaram e disseram que havia acontecido um acidente no edifício onde ela trabalhava. Aí eu tentei ligar para ela, mas não tive resposta.

Mesmo quem não perdeu conhecidos ou parentes estava desconsolado, como o empresário Renan Magalhães Pimentel, que tinha uma livraria especializada em concursos públicos que funcionava havia oito anos no local.

– A vida segue. Não nasci dono de livraria, nem com as roupas que tenho no corpo – afirmou.

Edifícios próximos ficaram fechados

Por razões de segurança, o entorno da área onde houve a queda foi isolado. Em um quarteirão inteiro, as pessoas foram impedidas de entrar nos edifícios. O resultado foi que milhares de trabalhadores que não puderam chegar aos seus escritórios ou lojas encheram ruas próximas.

O trânsito teve de ser remanejado na área central. No meio da confusão, a Caixa Econômica Federal decidiu fechar ao público o seu edifício sede, na Avenida Rio Branco. Também ficaram fechadas duas agências próximas. Na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que se localiza a pouca distância dos desmoronamentos, funcionários que trabalham no primeiro e no segundo subsolos usaram máscaras durante o expediente, por causa da grande quantidade de poeira.

Até as 17h de ontem, a Companhia de Limpeza Urbana carioca retirou 17 mil toneladas de escombros – o equivalente a 400 caminhões. De Porto Alegre, a presidente Dilma Rousseff telefonou ao prefeito carioca para manifestar sua solidariedade.

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