Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.
domingo, 15 de janeiro de 2012
A SECA DISTANTE DOS GABINETES
REPORTAGEM ESPECIAL - JULIANA BUBLITZ - zero hora 15/01/2012
Nenhum dos últimos governos conseguiu resolver o drama da seca no Estado. Mas esse não é um problema só dos políticos. Nestas e nas próximas páginas, o leitor vai descobrir como a estiagem, apesar de histórica, não faz parte do imaginário gaúcho e não recebe o tratamento dado por outros países.
Nos últimos 16 anos, cinco governadores passaram pelo Palácio Piratini, mas nenhum conseguiu deixar um legado capaz de prevenir com eficácia os efeitos devastadores da seca – que, mais uma vez, arrasa o Rio Grande do Sul.
Na raiz do problema, reprisado a cada verão, especialistas identificam um conjunto de falhas: de administrações despreparadas e falta de interesse político à ausência de planejamento a médio e longo prazo.
A história mostra que, embora a estiagem seja previsível e cíclica, a gestão dos recursos hídricos nunca foi prioridade. Na maioria dos casos, a água só entrou em pauta quando já era tarde. O resultado é conhecido: uma enxurrada de decretos, dinheiro enviado às pressas pela União e um punhado de ações emergenciais.
– Estamos mais suscetíveis à seca, e parece que muitos ainda não entenderam a gravidade do problema. Não adianta sair abrindo barragens em qualquer lugar. É preciso olhar para as bacias e fazer um plano estratégico – afirma o doutor em recursos hídricos Fernando Meirelles, da UFRGS.
Ex-governador cobra ação dos produtores
Governos até que tentaram. No de Antônio Britto, estudos sobre bacias chegaram a ser concluídos – mas não deram em nada. Na gestão de Olívio Dutra, procurou-se elaborar o Plano Estadual de Recursos Hídricos, sem resultados. Em 2011, Yeda Crusius retomou o projeto, que não ficou pronto.
– A verdade é que os governos, em todos os níveis, ainda são despreparados para lidar com as mudanças climáticas – conclui Paulo Kramer, cientista político da Universidade de Brasília (UnB).
A vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, Jussara Cruz, destaca outra lacuna: o desinteresse pelas soluções gestadas nas universidades. Em 2002, segundo ela, a UFSM fez um estudo indicando 150 locais aptos a receber barragens para irrigação. Na seca de 2005, Jussara diz ter procurado o governo para mostrar o trabalho. Acabou frustrada: nada foi aproveitado.
Quem já esteve do outro lado, se defende. Os gestores públicos, diz o ex-governador Germano Rigotto, fazem o que podem com recursos escassos. O que falta, na opinião dele, é uma mudança de cultura no campo:
– Não estou colocando a culpa nos produtores, mas eles precisam querer a irrigação, e muitos não querem.
Outro gargalo histórico, conforme o ex-secretário de Meio Ambiente de Olívio, Claudio Langone, é a dificuldade de se chegar a um consenso sobre o uso da água, sem contar os estragos causados pela falta de continuidade nas políticas. Ainda assim, quem conhece o tema, garante: há solução.
– Temos fartura de água, só não sabemos armazenar. Precisamos investir e fazer obras, mas as obras certas – resume Jussara Cruz.
É um dos desafios do atual e dos próximos governos.
Recurso direto contra a seca vai a R$ 59 milhões - CARLOS WAGNER, JOIA, Colaboraram André Mags e Roberto Witter
Um reforço extra de R$ 18,7 milhões foi a carta que o governo do Estado guardou na manga para anunciar no sábado, em Joia, no noroeste do Estado.
Esse valor se soma aos R$ 28 milhões já anunciados pelo governo federal durante a semana, aos R$ 6 milhões de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para irrigação antecipados na sexta-feira e aos R$ 6,7 milhões que a Secretaria Estadual de Obras Públicas já vem investindo nos últimos 10 dias, totalizando R$ 59,4 milhões em auxílio imediato aos produtores afetados pela seca (veja detalhamento no quadro ao lado).
O recurso extra é destinado aos municípios que decretaram situação de emergência e será investido em perfuração de poços artesianos, compra de combustível para caminhões, construção de caixas d’água, doação de cestas básicas e locação de maquinário para fazer açudes e canais.
Ao anunciar os recursos, na Câmara de Vereadores de Joia, o governador Tarso Genro tranquilizou produtores:
– O Estado não vive uma situação de catástrofe e, sim, um problema que se repete de tempos em tempos.
Os ministros da Integração Nacional, Fernando Bezerra, da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, e do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, acompanharam o governador na visita a Joia e também trouxeram novidades ao Estado.
Bezerra anunciou que o Rio Grande do Sul será incluído no programa Água para Todos, criado para auxiliar o semiárido do nordeste do país. Florence avisou que os agricultores que não contrataram seguro agrícola receberão milho comprado em outros Estados e trigo do Rio Grande do Sul para alimentar os animais. Para quem tem seguro, as vistorias serão aceleradas. Haverá ainda fornecimento de água para consumo humano e de animais e prorrogação das prestações dos financiamentos.
Os dois aviões com a comitiva oficial partiram de Porto Alegre às 8h40min de sábado, com destino ao aeroporto de Ijuí, onde chegaram às 9h30min. Uma das aeronaves era ocupada pelo governador e pelos ministros, e a outra conduzia secretários. Ao desembarcar, Tarso antecipou:
– Estamos aqui para mostrar ações objetivas contra a seca. O fato de três ministros estarem aqui é uma demonstração de ação conjunta entre o governo do Estado e o governo federal.
Chuva ainda é insuficiente
No meio do caminho de 35 quilômetros entre o aeroporto de Ijuí e a Câmara de Vereadores de Joia, o governador parou para conhecer o retrato da seca expresso em uma propriedade rural. No local, o governador pode ver de perto o problema na conversa com o agricultor João Onofre Ribeiro da Silva, 62 anos, dono de oito hectares de terra na Esquina São Jorge-Cará, um das comunidades rurais de Joia.
Silva é um agricultor típico da região: tem quatro filhos, produz soja e leite e luta contra as dificuldades para manter a família.
– Para mim, é uma honra receber o governador na minha casa. Eu espero que ele consiga fazer com que os bancos estiquem o prazo para pagarmos nossas contas – falou Silva.
O agricultor comentou que, na verdade, o que ele mais deseja, o governador não poderia lhe dar: uma boa chuva. O sábado amanheceu na região com o céu coberto por nuvens pretas, e soprava um vento gelado. A soma desses fatores, segundo a crença dos colonos, significava que não viria uma boa chuva.
Quando perguntado por que motivo o governador do Estado, Tarso Genro, resolveu lançar em Joia o pacote para combate à seca, o prefeito do município, Jânio Andreatta, respondeu:
– A última chuva boa que caiu aqui foi em novembro. Desde então, chove nas cidades vizinhas. Mas aqui, nada.
O cenário que Andreatta mostrou ao governador e sua comitiva não deixava dúvidas de suas palavras.
A chuva dos últimos dias, segundo o Centro Estadual de Meteorologia (Cemetrs), ligado à Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária, não foi suficiente para acabar com a seca. Segundo o meteorologista Flávio Varone, a distribuição foi irregular. Com isso, em apenas alguns pontos do Norte a situação foi amenizada.
O pacote
R$ 18,7 MILHÕES EXTRAS - R$ 3 milhões para locação de máquinas. R$ 4 milhões da Corsan para redes de água e poços. R$ 5 milhões remanejados do orçamento da Secretaria da Habitação em municípios onde a Corsan não atende. O chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, confirmou R$ 6,7 milhões da Secretaria de Desenvolvimento Rural para convênios com municípios e assentamentos
R$ 18 MILHÕES PARA SOCORRO - O valor, da União, está no caixa do Estado desde 2011 e pode ser repassado imediatamente aos municípios para, por exemplo, compra de cestas básicas. Autorizado dia 9.
R$ 10 MILHÕES PARA PREVENÇÃO - Valor da União deve ser repassado ao Estado até o fim do mês para perfuração de poços artesianos, construção de redes de água e recuperação de barragens. Anunciados na quinta.
R$ 6 MILHÕES PARA IRRIGAÇÃO - Linha de financiamento do BNDES será colocada à disposição dos produtores para investimento na tecnologia. Anunciados sexta-feira.
R$ 6,7 MILHÕES PARA OBRAS - R$ 3,7 milhões para recuperação de poços e redes de água e R$ 3 milhões para recuperação de açudes. Já tinham sido destinados.
SEGURO AGRÍCOLA - Produtores que contrataram o seguro: quem teve perdas acima de 30% nas lavouras de milho, soja ou feijão deve comunicar imediatamente à agência do Banco do Brasil responsável. Produtores que não contrataram o seguro: as dívidas das lavouras de milho, soja e feijão serão prorrogadas até 31 de julho.
ABASTECIMENTO - Crédito nas cooperativas: criação de linha de R$ 200 milhões no BNDES para as cooperativas refinanciarem as dívidas. Ração animal: o governo federal transportará 200 mil toneladas de milho outros Estado para alimentar animais.
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