Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

TRAGÉDIA ANUNCIADA

BEATRIZ FAGUNDES, REDE PAMPA, O SUL
Porto Alegre, Quinta-feira, 12 de Janeiro de 2012.


É difícil aceitar passivamente as mesmas "velhas e surradas" soluções quando até os seixos de nossos rios poluídos e agonizantes sabiam, desde há muito, que um dia viveríamos o estado de calamidade que hoje assola o Rio Grande.

O inevitável aconteceu: estamos com nossos rios morrendo em uma versão esquizofrênica do livro "Crônica de uma Morte Anunciada", de Gabriel García Márques. A vida imita a arte. Imita para aumentar o profundo estado de revolta que toma conta daqueles que sempre anunciaram que a tragédia que hoje nos visita era previsível. É difícil aceitar passivamente as mesmas "velhas e surradas" soluções, quando até os seixos de nossos rios poluídos e agonizantes sabiam, desde há muito, que um dia viveríamos o estado de calamidade que hoje assola o Rio Grande. Dizem que a seca já afeta mais de 1 milhão de gaúchos. Mentira! Afeta todos os 10 milhões de gaúchos que já sofrem no bolso as consequências com os também previsíveis aumentos de preços na cadeia de produção. Sem contar com a inexorável decisão de várias prefeituras de decretarem racionamento na distribuição de água potável com hora programada. Há pelo menos uma década, se fala abertamente que estamos vivendo um ciclo de mudanças climáticas. Os fenômenos El Ninho e La Ninha, que já viraram figurinhas sinistras e carimbadas nesta parte do planeta, são apontados como os responsáveis pela tragédia anunciada. Os primeiros alertas de iminente crise hídrica nos nossos mananciais, divulgados pelos até ontem desprezados "ecochatos", foram ouvidos ainda na década de 1970. Foram ridicularizados e achincalhados pelos "ecoloucos", que hoje fazem coro com os lamentos de todos. Não levaram a sério e hoje, sem sequer um mea culpa, o que se ouve é a mesma churumela de buscar recursos federais.

Moeda, grana, dinheiro vivo não resolvem, em curto prazo, a desesperada situação dos nossos rios. É inacreditável que 20 milhões de reais disponibilizados pela União, no ano passado, tenham sido ignorados. Amanhã, no auge da crise, ou será que ainda não chegamos ao fundo do poço, o ministro Bezerra vem ao Estado anunciar mais uma vez a mesma verba: 5 milhões de reais devem ser empregados em custeio e 13 milhões de reais para financiar a perfuração de poços artesianos. Meu Deus! Porque não perfuraram preventivamente os tais poços? E a situação dos agricultores endividados junto aos bancos? Como vão dormir em paz com os executores das dividas de braços cruzados em frente aos portões das propriedades aguardando o momento de confiscarem suas terras e seus bens por inadimplência? Não é sério. É desumano. Tivemos um anúncio, segundo o qual, o governo poderia contratar os serviços de uma empresa nacional que desenvolveu tecnologia para provocar chuva artificial. Logo houve o desmentido. Existe uma parcela dos técnicos que não acreditam na eficiência do método, já utilizado pelos governos de São Paulo e Santa Catarina. É de se supor que o governo gaúcho não quer pagar um "mico" se o plano não der certo. Vai fazer como todos os outros governos fizeram: muitas reuniões de emergências, equipes vão sobrevoar as áreas devastadas pela seca e anunciar que a grana está sendo disputada em Brasília para enfrentar a velha seca no RS. O mesmo de sempre.

Falta ousadia, atitude e determinação. Porque não arriscar e pagar um "mico" por ter, ao menos, tentado uma solução desesperada? Claro o governo não paga "mico" e nós pagamos um "orangotango" sem água nas torneiras, além de pagar, sem direito a queixas, muito mais caro pelos produtos hortifrutigranjeiros indispensáveis em nossa mesa. Para variar, somos reféns. Nos gabinetes, a prova de "micos", centenas de engravatados desfilam em torno de mesas com muitos projetos e documentários, água mineral e ar condicionado, enquanto os produtores choram baixinho assistindo indefesos a falta de coragem em ousar buscar uma solução que ninguém até hoje ao menos tentou. Para que precisamos mudar o administrador a cada quatro anos se todos apresentam as mesmas soluções diante de problemas iguais. É lamentável!

Nenhum comentário:

Postar um comentário