Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A SECA, OS ALERTAS E O SILÊNCIO DO ESTADO

Tarso Francisco Pires Teixeira, Vice-presidente da Farsul - JORNAL DO COMERCIO, 12/01/2012

Tenho uma cuidadosa seleção dos artigos que venho publicando desde que comecei a colaborar mais efetivamente com a imprensa, quando assumi pela primeira vez a presidência do Sindicato Rural de São Gabriel, e lá se vão quase nove anos. A época coincidiu com o surgimento das primeiras grandes secas na região, lá pela metade do governo Rigotto, e naquela época o discurso dos governantes, por incrível que pareça, não era muito diferente de hoje, quase uma década depois: falta de recursos, “surpresa” com a forte estiagem, safras frustradas, produtores e comunidades de municípios inteiros clamando por socorro. Num artigo publicado em 2008, chamado “Seca Sitiada”, escrevi da seguinte forma: “O escritor brasileiro Euclides da Cunha, em seu livro Os Sertões, descreveu com aguda realidade as vicissitudes da seca na região. Quase um século depois, as figuras de linguagem do escritor se aplicam a um cenário completamente distinto: o Pampa gaúcho, cuja terra arde sob a inclemência do sol e cujo povo geme com a falta de chuvas”.

Num outro artigo de 2009, chamado “Inimigo à espreita”, está escrito: “Uma comunidade pode ser surpreendida por uma avalanche, um terremoto, e mesmo para estes eventos repentinos existem hoje instrumentos confiáveis de aferição. A seca, no entanto, não deveria “surpreender” ninguém, especialmente no nosso Rio Grande onde sua visita anual é praticamente uma certeza há mais de 20 anos”. Mais recentemente, um pouco antes da seca que agora castiga o Estado, fiz a seguinte observação através do artigo “Estiagem: alguma surpresa?”: “A estiagem no Rio Grande do Sul já clama por uma política de contingência permanente, com verba orçamentária própria, capaz de fazer o Estado criar estratégias eficazes para o período que se estende da primavera ao verão. Parcerias Público-Privadas precisam ser pensadas com urgência para expandir mecanismos de irrigação no campo, com mais verbas específicas custeadas pelos órgãos de financiamento oficial, além da elaboração de mais planos de captação de recursos para barramentos em rios e várzeas”. Ao me referir a escritos já antigos, não faço isso com a pretensão vaidosa dos que fazem questão de provar que estavam certos. Na verdade, eu gostaria muito de ter errado. Ao invés de atuar para facilitar medidas de irrigação e armazenamento de água, o aparato governamental atua para dificultar soluções. Enfim, enquanto Estado, União e municípios não tratarem com mais afinco a defesa da população gaúcha nas épocas de seca, o jeito é continuar escrevendo. Até o dia em que eu possa estar errado. Tomara que chegue logo.

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