ZERO HORA 27 de julho de 2013 | N° 17504
SANTA MARIA, 27/01/2013
Pronta para reagir e em busca de justiça
Passados seis meses do incêndio na boate Kiss, Santa Maria ainda é uma cidade em luto, dilacerada pelas mortes de 242 jovens e marcada pelo sentimento de impunidade. Mas também é uma cidade pronta para reagir e recomeçar. Na última semana, pesquisadores do Instituto Methodus saíram às ruas do município para saber como está e o que pensa a população sobre o desfecho da maior tragédia da história do Rio Grande do Sul.
Uma das principais conclusões aponta a percepção popular sobre quem, afinal, seriam os maiores responsáveis pelo episódio, independentemente do resultado das investigações.
Para a maior parte dos entrevistados, os mais citados foram os proprietários da casa noturna, seguidos do Corpo de Bombeiros e, em seguida, o prefeito Cezar Schirmer (PMDB), isentado pelo Ministério Público (MP). Na avaliação da maioria, eles seriam mais responsáveis pelo episódio do que integrantes da banda Gurizada Fandangueira e servidores municipais.
Seiscentos entrevistados participaram do levantamento – o primeiro desde a madrugada de 27 de janeiro – encomendado pelo Grupo RBS para aferir o que os santa-marienses pensam sobre o episódio meio ano depois. Durante o trabalho, os entrevistadores enfrentaram uma situação pouco comum em pesquisas de opinião.
– Todos ficaram impactados. Muita gente chorou ao falar. A cidade não voltou ao normal e, de um modo geral, tem a sensação de que não haverá punição adequada – relata Margrid Sauer, diretora de pesquisa instituto.
A conclusão se expressa em números: 61,9% dos participantes da enquete discordam de que todos os envolvidos estão respondendo judicialmente pelos erros cometidos, 57,5% não acreditam que será feita justiça e 52,2% questionam a isenção da CPI criada pela Câmara Municipal para investigar o caso. A avaliação reflete o clima de indignação na cidade.
Em abril, apenas metade dos 16 indiciados pela Polícia Civil foi denunciada pelo MP, desencadeando críticas na comunidade, que esperava mais implicados criminalmente no caso. Em maio, a decisão da Justiça de soltar os donos da Kiss e os músicos, presos desde janeiro, levou a novas manifestações de inconformidade. No dia 15 deste mês, em outra frente de investigação, um inquérito civil levou cinco meses para ficar pronto e isentou todos os nomes ligados à prefeitura, inclusive o de Schirmer – considerado responsável por 68% dos entrevistados. Apenas quatro envolvidos – dois proprietários e dois membros da banda – podem ir para a cadeia.
– Parece que a morte de 242 pessoas não valeu nada. Fica uma lacuna muito grande. Não estão tratando a sociedade com o respeito que merecia – afirmou, na ocasião, o presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes, Adherbal Ferreira.
A revolta, a julgar pelos dados que agora vêm à tona, não se restringe a Ferreira ou àqueles que perderam amigos e parentes em função de uma cadeia de irresponsabilidades. Dos moradores ouvidos, sete em cada 10 tiveram perdas pessoais e 97,3% declararam que o drama afetou a vida de todas as famílias santa-marienses.
Se os percentuais são a prova de que as feridas continuam abertas, a boa notícia é que ainda há esperança. Para 95,7% dos homens e mulheres que deram voz à dor coletiva, é preciso reagir. Embora 45% acreditem que a cidade mudou para pior, 52,1% estão otimistas ou muito otimistas em relação ao futuro. Santa Maria precisa seguir em frente, e a maioria entende que o resgate da autoestima da cidade cabe à própria população.
SANTA MARIA, 27/01/2013
Pronta para reagir e em busca de justiça
Passados seis meses do incêndio na boate Kiss, Santa Maria ainda é uma cidade em luto, dilacerada pelas mortes de 242 jovens e marcada pelo sentimento de impunidade. Mas também é uma cidade pronta para reagir e recomeçar. Na última semana, pesquisadores do Instituto Methodus saíram às ruas do município para saber como está e o que pensa a população sobre o desfecho da maior tragédia da história do Rio Grande do Sul.
Uma das principais conclusões aponta a percepção popular sobre quem, afinal, seriam os maiores responsáveis pelo episódio, independentemente do resultado das investigações.
Para a maior parte dos entrevistados, os mais citados foram os proprietários da casa noturna, seguidos do Corpo de Bombeiros e, em seguida, o prefeito Cezar Schirmer (PMDB), isentado pelo Ministério Público (MP). Na avaliação da maioria, eles seriam mais responsáveis pelo episódio do que integrantes da banda Gurizada Fandangueira e servidores municipais.
Seiscentos entrevistados participaram do levantamento – o primeiro desde a madrugada de 27 de janeiro – encomendado pelo Grupo RBS para aferir o que os santa-marienses pensam sobre o episódio meio ano depois. Durante o trabalho, os entrevistadores enfrentaram uma situação pouco comum em pesquisas de opinião.
– Todos ficaram impactados. Muita gente chorou ao falar. A cidade não voltou ao normal e, de um modo geral, tem a sensação de que não haverá punição adequada – relata Margrid Sauer, diretora de pesquisa instituto.
A conclusão se expressa em números: 61,9% dos participantes da enquete discordam de que todos os envolvidos estão respondendo judicialmente pelos erros cometidos, 57,5% não acreditam que será feita justiça e 52,2% questionam a isenção da CPI criada pela Câmara Municipal para investigar o caso. A avaliação reflete o clima de indignação na cidade.
Em abril, apenas metade dos 16 indiciados pela Polícia Civil foi denunciada pelo MP, desencadeando críticas na comunidade, que esperava mais implicados criminalmente no caso. Em maio, a decisão da Justiça de soltar os donos da Kiss e os músicos, presos desde janeiro, levou a novas manifestações de inconformidade. No dia 15 deste mês, em outra frente de investigação, um inquérito civil levou cinco meses para ficar pronto e isentou todos os nomes ligados à prefeitura, inclusive o de Schirmer – considerado responsável por 68% dos entrevistados. Apenas quatro envolvidos – dois proprietários e dois membros da banda – podem ir para a cadeia.
– Parece que a morte de 242 pessoas não valeu nada. Fica uma lacuna muito grande. Não estão tratando a sociedade com o respeito que merecia – afirmou, na ocasião, o presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes, Adherbal Ferreira.
A revolta, a julgar pelos dados que agora vêm à tona, não se restringe a Ferreira ou àqueles que perderam amigos e parentes em função de uma cadeia de irresponsabilidades. Dos moradores ouvidos, sete em cada 10 tiveram perdas pessoais e 97,3% declararam que o drama afetou a vida de todas as famílias santa-marienses.
Se os percentuais são a prova de que as feridas continuam abertas, a boa notícia é que ainda há esperança. Para 95,7% dos homens e mulheres que deram voz à dor coletiva, é preciso reagir. Embora 45% acreditem que a cidade mudou para pior, 52,1% estão otimistas ou muito otimistas em relação ao futuro. Santa Maria precisa seguir em frente, e a maioria entende que o resgate da autoestima da cidade cabe à própria população.
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