Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

FRAGILIDADES REVELADAS



ZERO HORA 08 de julho de 2013 | N° 17485

COMBATE ÀS CHAMAS

Falta de pessoal e equipamentos evidenciaram carências na infraestrutura da corporação na Capital

MARCELO GONZATTO

O trabalho do Corpo de Bombeiros para conter o incêndio no Mercado Público da Capital salvou o prédio da ruína, mas também revelou carências preocupantes na infraestrutura da corporação na Capital.

Embora a chegada das primeiras viaturas tenha demorado apenas quatro minutos, a falta de pessoal e equipamentos próprios exigiu o apoio de unidades localizadas a mais de 35 quilômetros e que precisaram de uma hora para enviar equipamentos importantes como mais escadas magirus. A dificuldade de combate ao fogo pelo alto foi uma das principais fragilidades demonstradas pelo incidente de sábado.

Quando os bombeiros chegaram diante da fachada em chamas do prédio histórico, às 20h38min, conforme a marcação oficial do comando na Capital, parecia que sobraria pouco do Mercado Público. As labaredas se elevavam acima da cobertura metálica e avançavam para os lados. Ao perceber a dimensão do incêndio, os bombeiros da Capital acionaram a rede de apoio que congrega unidades de municípios como Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo. O pedido de auxílio também foi necessário para fazer frente às carências de estrutura na Capital.

Durante a maior parte do tempo em que o incêndio estava descontrolado, os bombeiros contaram com sua única autoescada mecânica (conhecida popularmente pela marca Magirus) em operação na cidade para lançar água do alto sobre o segundo piso ardente. Para enfrentar o fogo nas três fachadas, o equipamento tinha de ser deslocado lentamente.

– Esse é um processo que leva uns 10 minutos, o que é muito numa situação dessas. O ideal era agir ao mesmo tempo em todas as frentes – avalia o subcomandante dos bombeiros na Capital, major Rodrigo Dutra, também coordenador do núcleo de oficiais bombeiros da Associação dos Oficiais da Brigada Militar (Asofbm).

Enquanto isso, outros dois veículos equipados com esse tipo de escada, capaz de atingir 30 metros de altura, se deslocavam desde São Leopoldo e Novo Hamburgo. Segundo Dutra, em razão da demora, foram utilizadas mais para fazer rescaldo do que para combater o fogo. A estratégia dos bombeiros foi enviar homens para o interior do prédio – o que aumenta a eficácia dos jatos de água por não enfrentar obstáculos como paredes e coberturas – e estabelecer uma linha imaginária a partir da qual as chamas não deveriam passar, e que acabou sendo o limite final do incêndio.

Porém, foi necessário um novo esforço para compensar outra carência da corporação: a falta de pessoal. Segundo o major Dutra, como há cerca de cinco vezes menos homens do que o ideal (veja quadro abaixo), cerca de 20% dos 70 militares mobilizados estavam de folga e agiram de forma voluntária. Outros vieram de municípios vizinhos, o que também atrasou a formação da força máxima para enfrentar as chamas.

Segundo o especialista em gerenciamento de riscos Gustavo Cunha Mello, do Rio de Janeiro, carências de pessoal e equipamento são uma ameaça comum em caso de incêndio em capitais como Porto Alegre. A escassez de escadas magirus é um dos problemas mais graves.

– Uma tragédia nunca ocorre por um fator só, é sempre uma combinação. A estrutura dos bombeiros é uma delas, assim como legislação e fiscalização – avalia Mello.

O comandante dos bombeiros na Capital, tenente-coronel Adriano Krukoski, sustenta que, apesar das dificuldades, o trabalho da corporação teve sucesso ao limitar em 10% da edificação os estragos.



PÁGINA 10 | CARLOS ROLLSING

Blindagem

É grande a insatisfação de bombeiros com a atuação de assessores do Palácio Piratini que teriam ido ao Mercado Público ainda no momento de combate ao incêndio para supostamente blindar informações e moldar respostas sobre a eventual falta de estrutura e de equipamentos da corporação.

Vários oficiais se disseram frustrados por não poder evitar mais o ocorrido porque faltou equipamento – diz José Carlos Riccardi Guimarães, presidente da Associação dos Oficiais da Brigada Militar.

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