ZERO HORA 27 de julho de 2013 | N° 17504
EDITORIAIS
Seis meses depois do incêndio que provocou a morte de 242 pessoas, a população de Santa Maria ainda sofre os efeitos da tragédia, agravados pela crescente sensação de impunidade em relação a agentes públicos e demais pessoas inicialmente apontadas pela Polícia como responsáveis pela armadilha que vitimou dezenas de jovens. Pesquisa realizada pelo Instituto Methodus, a pedido do Grupo RBS, demonstra de forma insofismável que os habitantes da cidade querem retomar a vida normal, mas não conseguem abandonar o luto nem se conformam com a indolência dos órgãos judiciais e investigativos na responsabilização dos acusados. Ninguém está preso e as principais autoridades citadas na investigação policial têm sido sistematicamente inocentadas.
O levantamento mostra que os santa-marienses não têm dúvidas sobre quem, por ação ou omissão, concorreu para o infortúnio: 85,2% dos entrevistados apontam como principais responsáveis os proprietários da casa noturna, seguidos pelo Corpo de Bombeiros (75,5%) e pelo prefeito da cidade (68%). Esta consciência de que uma conjugação verdadeiramente criminosa de negligências provocou a tragédia, porém, vem esbarrando no tecnicismo legal, de modo que a incúria coletiva até agora só resultou em impunidade individual. Todo mundo sabe que alguém deixou de exigir um alvará, que outro alguém fingiu fiscalizar, que um terceiro alterou o projeto arquitetônico e que essa cadeia de irresponsabilidades acendeu o fogo pela mão do tresloucado protagonista do show pirotécnico. Antes dele, porém, uma autoridade aprovou o funcionamento da casa, outra deixou de cobrar o Plano de Prevenção de Incêndio e a ganância dos empresários completou o funesto trabalho, superlotando uma casa de espetáculos sem condições de receber grande público.
O resultado de tudo isso é uma dor que não passa, uma indignação que não acaba, um desespero que contamina a cidade inteira e parece não ter solução. Mas tem. Pelo menos é o que aponta o contundente percentual de 95,7% de pessoas que cravaram um concordo na afirmação “Não é possível Santa Maria seguir parada. Passada a tragédia é preciso seguir em frente”. Questionados sobre o que desejam para o futuro da cidade, os entrevistados também disseram claramente que querem desenvolvimento, administração competente e justiça, entre outras reivindicações.
West Warwick, a cidade do Estado norte-americano de Rhode Island que viveu tragédia semelhante em 2003 – 100 mortos e 200 feridos no incêndio da casa noturna The Station –, descobriu como seguir em frente. Transformou a segurança dos espaços públicos em questão de honra, aperfeiçoou os códigos de prevenção e criou uma cultura de cautela para seus habitantes. Como aqui, os familiares e amigos das vítimas ainda sentem muita saudade delas, mas já se convenceram de que a melhor forma de reverenciá-las é retomar os movimentos normais da vida.
Seis meses depois, portanto, a imensa coragem dos santa-marienses está novamente desafiada.
A imensa coragem dos santa-marienses está novamente desafiada.
EDITORIAIS
Seis meses depois do incêndio que provocou a morte de 242 pessoas, a população de Santa Maria ainda sofre os efeitos da tragédia, agravados pela crescente sensação de impunidade em relação a agentes públicos e demais pessoas inicialmente apontadas pela Polícia como responsáveis pela armadilha que vitimou dezenas de jovens. Pesquisa realizada pelo Instituto Methodus, a pedido do Grupo RBS, demonstra de forma insofismável que os habitantes da cidade querem retomar a vida normal, mas não conseguem abandonar o luto nem se conformam com a indolência dos órgãos judiciais e investigativos na responsabilização dos acusados. Ninguém está preso e as principais autoridades citadas na investigação policial têm sido sistematicamente inocentadas.
O levantamento mostra que os santa-marienses não têm dúvidas sobre quem, por ação ou omissão, concorreu para o infortúnio: 85,2% dos entrevistados apontam como principais responsáveis os proprietários da casa noturna, seguidos pelo Corpo de Bombeiros (75,5%) e pelo prefeito da cidade (68%). Esta consciência de que uma conjugação verdadeiramente criminosa de negligências provocou a tragédia, porém, vem esbarrando no tecnicismo legal, de modo que a incúria coletiva até agora só resultou em impunidade individual. Todo mundo sabe que alguém deixou de exigir um alvará, que outro alguém fingiu fiscalizar, que um terceiro alterou o projeto arquitetônico e que essa cadeia de irresponsabilidades acendeu o fogo pela mão do tresloucado protagonista do show pirotécnico. Antes dele, porém, uma autoridade aprovou o funcionamento da casa, outra deixou de cobrar o Plano de Prevenção de Incêndio e a ganância dos empresários completou o funesto trabalho, superlotando uma casa de espetáculos sem condições de receber grande público.
O resultado de tudo isso é uma dor que não passa, uma indignação que não acaba, um desespero que contamina a cidade inteira e parece não ter solução. Mas tem. Pelo menos é o que aponta o contundente percentual de 95,7% de pessoas que cravaram um concordo na afirmação “Não é possível Santa Maria seguir parada. Passada a tragédia é preciso seguir em frente”. Questionados sobre o que desejam para o futuro da cidade, os entrevistados também disseram claramente que querem desenvolvimento, administração competente e justiça, entre outras reivindicações.
West Warwick, a cidade do Estado norte-americano de Rhode Island que viveu tragédia semelhante em 2003 – 100 mortos e 200 feridos no incêndio da casa noturna The Station –, descobriu como seguir em frente. Transformou a segurança dos espaços públicos em questão de honra, aperfeiçoou os códigos de prevenção e criou uma cultura de cautela para seus habitantes. Como aqui, os familiares e amigos das vítimas ainda sentem muita saudade delas, mas já se convenceram de que a melhor forma de reverenciá-las é retomar os movimentos normais da vida.
Seis meses depois, portanto, a imensa coragem dos santa-marienses está novamente desafiada.
A imensa coragem dos santa-marienses está novamente desafiada.
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