Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

segunda-feira, 18 de março de 2013

BARRA FUNCIONOU COMO FUNIL


ZERO HORA 18 de março de 2013 | N° 17375

SANTA MARIA, 27/01/2013

Barra funcionou como um “funil”, diz delegado



A Polícia Civil já dispõe de quase todas as provas técnicas para a conclusão do inquérito que investiga a tragédia na boate Kiss, em Santa Maria. Depois de um fim de semana debruçada sobre os laudos entregues pelo Instituto-geral de Perícias (IGP), a equipe de delegados sabe que as vítimas que tentaram sair da danceteria superlotada só encontraram uma (e inadequada) porta de saída e tiveram de enfrentar, no caminho, uma barra de ferro (também imprópria).

Conforme Sandro Meinerz, um dos delegados que cuida do caso, embora a lei permita que a porta de entrada e de saída funcione no mesmo espaço, as análises técnicas do laudo mostram que, no caso da Kiss, o fato de só haver um local para sair da boate dificultou muito a saída dos clientes da casa noturna. O problema, também segundo a perícia, foi agravado pela barra de ferro que existia em frente à porta.

– A porta dificultou que as pessoas saíssem e contribuiu para as mortes que aconteceram lá dentro. Mas a barra principal em frente à porta de saída da boate foi decisiva, porque represou as pessoas. Enquanto as pessoas não derrubaram a barra, a situação foi terrível. É comparável a um funil. Se a gente joga uma pedrinha por vez em um funil, todas passam. Mas se jogarmos todas ao mesmo tempo, tranca tudo – explicou o delegado.

Das 241 pessoas que morreram em decorrência do incêndio, 234 perderam a vida por asfixia provocada por cianeto e monóxido de carbono. Esse é o resultado apontado por 222 laudos de necropsia entregues pelo IGP na sexta-feira e que apresentaram os mesmos resultados de outros 12 laudos recebidos anteriormente pela Polícia Civil.

Outro fator que já foi considerado determinante pelo IGP para a tragédia é o problema apresentado pelo primeiro extintor utilizado para tentar apagar o fogo e que, conforme a perícia, estava descarregado e por isso não funcionou. A perícia mostrou que outros três estariam em plenas condições de serem usados, mas o quinto estaria com problemas de vencimento

A superlotação também já foi comprovada pelo IGP: a Kiss tinha, conforme a perícia, capacidade para comportar no máximo 760 pessoas. A polícia já sabe que cerca de mil frequentadores estavam na danceteria no momento do incêndio.

No fim de semana, cerca de 25 pessoas prestaram depoimento. Para hoje, quando devem chegar os resultados da perícia feita na espuma que revestia a boate, a polícia ainda espera ouvir mais pessoas que ajudaram no socorro às vítimas, como policiais do Batalhão de Operações Especiais (BOE), da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e uma equipe da Base Aérea de Santa Maria. O resultado do inquérito, que já tem mais de 8 mil páginas, deve ser apresentado na próxima quinta-feira.

Pacientes ouvidos durante mutirão

No final de semana, policiais fizeram plantão no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). A mobilização policial ocorreu em meio ao mutirão de atendimentos às pessoas que entraram em contato com a fumaça tóxica liberada no incêndio. Mais de 160 foram atendidas pela força-tarefa de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e farmacêuticos – ao todo, 540 foram atendidos considerando evento idêntico, semana passada.

De acordo com a Polícia Civil, a decisão de ouvir testemunhas no hospital foi tomada a partir da experiência do fim de semana anterior, em que os policiais fizeram plantão na delegacia e a procura foi baixa. A ação facilitou a adesão de quem não é da cidade e esteve em Santa Maria apenas para buscar atendimento.

CARLOS WAGNER E PATRIC CHAGAS


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