Jogo de empurra e emoção marcam edição do Painel RBS sobre a tragédia em Santa Maria. Primeira edição gaúcha do evento foi transmitida direto dos estúdios da RBS TV de Porto Alegre
Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
A primeira edição gaúcha do Painel RBS em 2013, realizada nos estúdios da RBS em Porto Alegre nesta manhã, promoveu o debate entre diversos segmentos da sociedade a respeito da tragédia em Santa Maria, na qual morreram 239 pessoas no incêndio da boate Kiss.
Mediado pelo apresentador Tulio Milman, o painel “Depois da tragédia de Santa Maria – O que mudou e o que deve mudar”, contou com a participação dos jornalistas Nilson Vargas, editor-chefe de Zero Hora, Carolina Bahia, colunista do Grupo RBS e Rosane Marchetti, editora da RBS TV.
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Com um rodízio de entrevistados, o dinâmico painel colocou em debate temas como a reponsabilidade sobre o acontecido, as mudanças necessárias para que uma fatalidade igual não aconteça e o comportamento da sociedade frente ao poder público.
Poder público
Um mês depois da tragédia, o prefeito de Santa Maria Cezar Schirmer e o secretário de Segurança Pública Airton Michels debateram a respeito da responsabilidade sobre o ocorrido.
— Aquele lugar visto de cima, evidentemente, possuía muito potencial para a tragédia — afirmou Michels.
Além de mudanças na legislação, defendidas por ambos, Schirmer ponderou, ainda, sobre uma necessária revisão na estrutura do Corpo de Bombeiros, definida por ele como "pesada e cara".
Schirmer e Michels, no centro
Foto: Fernado Gomes
— Se os bombeiros fossem responsabilidade do município, já teríamos assumido total culpa pelo que aconteceu — ressaltou Schirmer.
Embora a discussão não tenha descambado para uma troca de acusações gratuita, ficou claro que Estado e prefeitura ainda não chegaram a um denominador comum a respeito da tragédia.
No segundo bloco, dedicado a especialistas em leis e Planos de Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI), o debate ficou centrado nas figuras de Luiz Capoani, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea- RS), e Fernando Rocha, consultor legislativo da Câmara dos Deputados.
Ainda que o subprocurador-geral de Justiça Marcelo Dornelles tenha iniciado a conversa salientando a necessidade de se estabelecer delimitações claras sobre responsabilidades, o debate principal pairou sobre a qualificação de bombeiros e engenheiros envolvidos com o assunto.
Capoani e Dornelles debateram com Rocha, que estava em Brasília
Foto: Lauro Alves
As lacunas nas legislações municipais, apontadas por Dornelles, para Rocha estariam sanadas. O consultor, que falou direto de Brasília, levantou os seguintes pontos: que a responsabilidade final sobre a tragédia seria da prefeitura, que as legislações municipais e estadual e se complementam e que os engenheiros não estariam preparados para trabalhar com combate e prevenção a incêndio.
Capoani, visivelmente contrariado, lembrou que a capacidade do engenheiro analisar questões relacionadas a PPCIs é muito maior que a dos Bombeiros gaúchos, que nem corpo técnico possuem.
Familiares e a cultura brasileira
No bloco de encerramento, marcado pela emoção, a participação de representantes de associações de familiares das vítimas e um antropólogo agregou questões como a necessidade de mudança de comportamento e fiscalização por parte da sociedade.
Oliven e Iglesia
Foto: Lauro Alves
José Iglesias, representante da organização Que No Se Repita, de familiares de vítimas do incêndio na boate República Cromañón, de Buenos Aires, abriu o bloco falando a respeito das poucas mudanças ocorridas na Argentina após a tragédia, mas salientou que a sociedade vizinha ainda se mantém alerta para o assunto.
Segundo Iglesias, a principal mudança de legislação foi apenas a alteração do prazo de uma licença para funcionamento, que antes era renovada anualmente e tornou-se trimestral.
Para Adherbal Alves Ferreira, presidente da recém-criada associação de familiares de vítimas e sobreviventes da tragédia de Santa Maria, todo evento que contasse com muitas pessoas deveria ser fiscalizado de forma imediata, a fim de que sejam evitadas novas tragédias.
Ferreira lamentou ainda a responsabilização dos pais das vítimas pelo ocorrido, salientando que os filhos só iam à boate por acreditarem que o "poder público cuida disso, confiamos no poder público".
O antropólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ruben Oliven, que encerrou esta edição, afirmou que o brasileiro alimenta uma cultura de negação de riscos.
— Se Deus não fosse brasileiro, tragédias como esta seriam corriqueiras — concluiu.
> Confira quem participou como entrevistado:
ALEXANDRE PADILHA, ministro da Saúde
AIRTON MICHELS, secretário da Segurança Pública do Estado
MARCELO DORNELLES, subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Institucionais do Ministério Público
CEZAR SCHIRMER, prefeito de Santa Maria
ADHERBAL ALVES FERREIRA, presidente da recém-criada associação de familiares de vítimas e sobreviventes da tragédia de Santa Maria
LUIZ CAPOANI, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea- RS)
RUBEN OLIVEN, antropólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
FERNANDO CARLOS WANDERLEY ROCHA, consultor legislativo de Segurança Pública e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados
JOSÉ IGLESIAS, representante da organização Que No Se Repita, de familiares de vítimas do incêndio na boate República Cromañón, de Buenos Aires
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