Polícia deve indiciar pelo menos 15 pessoas por incêndio na Kiss. Para os envolvidos na investigação, os que serão indiciados assumiram "risco de produzir o resultado morte"
Humberto Trezzi
A Polícia Civil deve remeter à Justiça, talvez ainda no início da próxima semana, as conclusões sobre o incêndio na boate Kiss. Segundo apurou Zero Hora, pelo menos 15 pessoas devem ser indiciadas pelo maior incêndio da história gaúcha, que resultou na morte de 241 pessoas na tragédia em Santa Maria.
É unânime entre promotores e policiais que o ocorrido na boate Kiss foi uma soma de falhas totalmente previsíveis e que caracterizam homicídio doloso eventual (quando o autor está consciente da possibilidade de matar, mesmo sem o desejo que isso aconteça). É quando alguém no comando da situação age com indiferença, mesmo sabedor do perigo a que está expondo a vítima. Para todos os envolvidos na investigação, os que serão indiciados assumiram "risco de produzir o resultado morte".
Estão sujeitos à punição pessoas ligadas à boate, como os donos Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr (o Kiko), bombeiros que deveriam ter fiscalizado a boate e integrantes da banda.
A Polícia Civil também deve indiciar os mesmos nomes pelos ferimentos causados em pelo menos 170 pessoas. Inicialmente, policiais iriam indiciar por lesões, mas a gravidade dos ferimentos levou à interpretação de que é homicídio tentado.
A prevaricação (praticado por funcionário público que deixa de fazer sua função, para beneficiar alguém ou a si próprio) é outro crime que deve gerar indiciamentos. Estão sujeitos à punição bombeiros e secretários municipais.
Os investigadores ainda apuram sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e improbidade administrativa (quando o agente público administra ou age de forma incorreta, ilegal, desonesta ou incompetente).
O fim de semana é de encontros entre os cinco delegados que acompanham o caso e o chefe de Polícia, delegado Ranolfo Vieira Junior. O objetivo: bater o martelo sobre alguns pontos que ainda não são consensuais na investigação. A apuração criminal servirá de base para as famílias das vítimas ingressarem com ações cíveis de indenização. Inclusive contra o Estado e prefeitura, já que devem ser responsabilizados servidores públicos pela cadeia de fatos que levou à tragédia.
O dia do envio do inquérito à Justiça não está decidido. Alguns policiais interpretam que, por existirem suspeitos presos, a investigação teria apenas 10 dias para ser concluída, após a decretação da prisão preventiva _ prazo que termina nesta segunda-feira. Outros pensam que a prisão pode ser prorrogada, mesmo com indiciados presos.
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