Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

A PORTA

O SUL, 02/01/2013

BEATRIZ FAGUNDES

Quem matou, sem dó nem piedade, 236 jovens roubando, destruindo seu futuro de realizações, amor e paz foi aquela porta aberta, que deveria estar, desde agosto de 2012, lacrada. Simples assim. O resto é demência burocrática e legal no circo dos horrores de nossa civilização suicida!


Salvo as gloriosas interpretações e justificativas que serão utilizadas para compor milhares de páginas de inquérito, defesa e acusação quanto aos culpados e/ou responsáveis pelo massacre de 236 jovens, que ingenuamente curtiam a balada na arapuca fatal de Santa Maria, escolho uma visão prática e lógica para definir apenas por uma causa. Considerando que todos os especialistas ouvidos até hoje foram unânimes após conhecer todas as circunstâncias do crime hediondo, que a boate Kiss não poderia estar funcionando, considero que as vítimas morreram pela simples e singela razão de que a porta estava aberta com licença da prefeitura. Simples assim. A espelunca não poderia estar com a única porta escancarada engolindo mais de 1 mil jovens pagantes e despreocupados, que bombavam a bilheteria e a caixa registradora do bar forrando a guaiaca dos proprietários!


O fato de as novíssimas fiscalizações constatarem a existência de milhares de ratoeiras espalhadas pelo Brasil não altera em nada o quadro dantesco do último domingo. Não! Não podemos perder o foco. O genocídio para todo o sempre tem endereço e uma extensa lista de vítimas. E, é sobre ele que temos que lutar em busca de justiça. A existência de tantas espeluncas não torna difuso o crime. Repito: o assassinato de 236 jovens aconteceu exclusivamente porque a porta da boate estava aberta e por ela, alegres e cheios de sonhos, entraram como gado no matadouro todos os jovens que de lá saíram mortos. O resto é apenas o exercício da lamentável raça dos bichos de duas patas, que ao longo dos séculos já provou que adora disfarçar culpas com detalhes que compõe todas as barbáries cometidas em nome da ganância resguardada pela impunidade.


As comandas perderiam função, o sputnik não teria sido utilizado, a ausência de extintores jamais seria percebida, a falta de iluminação, nenhuma saída de emergência e revestimento que em combustão liberam gás letal utilizado por Hitler, e bla, blá blá... nada disso teria a mais remota importância se a porta estivesse fechada! O resto é resto. Exercício covarde de retórica e competência diversionista, sofista e digna de poltrões. O teatro de uma civilização baseada na "justiça" vai continuar com sua peça de quinta categoria, e mesmo sem querer dela seremos espectadores passivos impotentes e depressivos. Agora, vão investigar os bombeiros, que na hora do sinistro foram auxiliados por civis. Piada tétrica e de mau gosto. Quem sabe alguns bombeiros venham a ser desligados da corporação para alimentar a vaidade de alguns poucos. Covardia institucionalizada.


A propósito: será igualmente investigado, com rigor, quem são os responsáveis pela ausência total de equipamentos enfrentada pelos poucos bombeiros, que antes e durante a tentativa de resgate não conheciam a letalidade da fumaça que respiravam. Eles não dispunham de nenhuma outra entrada para desempenhar suas funções com camisas molhadas no rosto e se arrastando pelo chão? Quem poderia impedir aqueles heróis civis, que estavam determinados a salvar seus amigos e amores da tragédia? Eles também desconheciam que estavam respirando não uma fumaça de incêndio comum, mas sim um gás mortal e de efeito imediato. Mais de 40 vítimas continuam em estado gravíssimo, tanto que os governos dos Estados Unidos e Canadá enviaram medicamentos e equipes para tratar aqueles que continuam nas UTIs com risco de não sobreviverem.


Estão colocando em dúvida a imparcialidade do delegado responsável pela investigação. Víboras! Túmulos caiados por fora e podres por dentro. Quem matou, sem dó nem piedade, 236 jovens roubando, destruindo seu futuro de realizações, amor e paz foi aquela porta aberta, que deveria estar, desde agosto de 2012, lacrada. Simples assim. O resto é demência burocrática e legal no circo dos horrores de nossa civilização suicida!

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