REVISTA ISTO É N° Edição: 2255 | 02.Fev.13 - 15:09
Como se instala o pânico em aglomerações, de que forma as pessoas reagem e o uso da tecnologia no controle de acidentes
Agentes públicos do Rio vão monitor o Carnaval. À dir., torcedores derrubam alambrado do novo estádio do Grêmio
Milhares de pessoas sairão às ruas nos próximos dias para pular Carnaval. Em cidades como Rio de Janeiro, Recife e Salvador, grupos gigantescos de foliões irão, nos blocos carnavalescos, dividir o mesmo espaço em vias e calçadas. Nas passarelas do samba, multidões estarão nas arquibancadas assistindo ao desfile das escolas. O que pode acontecer se uma situação de pânico surgir? As mortes na boate Kiss de Santa Maria mostram que grandes aglomerações podem virar grandes tragédias. De acordo com pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, esse é um problema cada vez mais comum em um mundo onde a população só cresce. Somente nos últimos 30 anos, esse tipo de ocorrência aumentou em mais de 400%. Nos 215 episódios estudados entre 1980 e 2007, aproximadamente sete mil pessoas morreram e outras 14 mil ficaram feridas. Em todos os casos, a motivação para o pânico é a mesma: um gargalo de circulação.
Quando o tumulto coletivo se instaura, o que se vê é uma massa se movendo sem noção de direção, com os corpos se chocando desordenadamente. ?A densidade de ocupação de espaço e a quantidade de pessoas por metro quadrado não permitem sequer que os indivíduos se locomovam com algum senso. Movimentam-se em bloco de forma desordenada?, diz Marcus Vinicius de Oliveira, psicólogo especialista em desastres e emergência da Universidade Federal da Bahia. Sete corpos em um espaço de um metro quadrado já são suficientes para fazer um indivíduo tirar os pés do chão e ser carregado pela massa ao redor. Em lugares fechados, ocorre ainda o chamado ?efeito do arco?, que consiste na aglomeração de pessoas em semicírculo em torno da porta, tentando fugir. Colocar uma coluna a 1,5 metro da saída pode ser uma forma simples de reduzir o número de mortos quando o arco se forma. ?Nas simulações que fazemos, apenas com essa medida temos pelo menos uma redução de cerca de 10% dos mortos?, diz Maria das Graças Marietto, especialista em comportamento coletivo da Universidade Federal do ABC.
Para o Carnaval de rua do Rio, agentes públicos procuram instalar postos de monitoramento pelo circuito para agir em situações de crise em meio à multidão de foliões. Lá, por exemplo, um dos mais famosos blocos de rua, o Simpatia é Quase Amor, costuma reunir 200 mil pessoas. ?Como não tem catraca nem corda, não dá para saber quantas pessoas vão se reunir?, diz Rita Fernandes, presidente da Associação de Blocos Carnavalescos do Rio de Janeiro. O comportamento de um indivíduo em uma situação de massa pode mudar substancialmente independentemente da sua personalidade. Em grupo, as pessoas podem se submeter a participar de manobras arriscadas sem que se reflita muito sobre o assunto. Na semana passada, um grupo de torcedores do Grêmio comemorou um gol do time, em seu novo estádio, com uma tradicional coreografia, quando os fãs se jogam uns sobre os outros em descida acelerada em direção à grade que fica atrás do gol. Nesse dia, a grade cedeu. Oito pessoas caíram no fosso que separa a arquibancada do campo e cinco foram hospitalizadas. Esse tipo de celebração em massa deverá ser proibida.
No Brasil, falta uma cultura, tanto por parte da sociedade quanto do poder público, de se pensar no risco inerente às multidões. A primeira responsabilidade, segundo a professora Maria das Graças Marietto, é do poder público, que precisa garantir a infraestrutura. Em seguida, entra em cena a educação para situações de emergência. ?Em sociedades em que o treinamento é mais constante, como nos lugares onde ocorrem terremotos, as pessoas estão mais preparadas, pelo menos nos primeiros momentos de formação do pânico em multidões?, avalia a professora. Outra grande contribuição para a prevenção vem sendo dada pela tecnologia, por meio de softwares que ajudam a prever o comportamento das massas em situações de risco. Um exemplo brasileiro é o CrowdSim, programa de computador desenvolvido pelos pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). O objetivo é usar a tecnologia para ajudar a se pensar saídas de emergência e rotas de fuga para os estádios da Copa de 2014.
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Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.
sábado, 2 de fevereiro de 2013
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