SANTA MARIA, 27/01/2013
CAIO CIGANA
Apontada pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) do Estado como a principal causa da tragédia de Santa Maria, a combinação de pirotecnia e uso de espuma inflamável à base de poliuretano aparece como peça-chave para explicar outros dois episódios dramáticos que guardam semelhanças com a sequência de acontecimentos da boate Kiss.
Nos incêndios da casa noturna The Station, na cidade americana de West Warwick, em 2003, e na boate Republica Cromañón, no ano seguinte, em Buenos Aires, o produto que faria o isolamento acústico colaborou para a rápida propagação das chamas e a produção de fumaça tóxica após ser atingida por faíscas de artefatos.
A inalação de gases letais, assim como no caso gaúcho, causou a maior parte das mortes. Como reação, os Estados Unidos promoveram dura reforma nas normas para prevenção de incêndios, e o uso do poliuretano como isolante em casas do gênero foi proibido, como sugere agora o Crea.
– Este material nem poderia estar no mercado – afirma o engenheiro Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, coordenador da comissão de especialistas em segurança contra incêndio, formada pelo Crea após a tragédia.
Na Argentina, foi banida a pirotecnia em locais fechados, outro ponto defendido pelo conselho de engenharia. As tragédias têm outros pontos em comum. Nos três episódios, o fogo teve início enquanto bandas se apresentavam em ambientes superlotados, sem que as saídas fossem suficientes para a evacuação do público em pânico. Em Buenos Aires, seguranças tentaram impedir que os frequentadores saíssem sem pagar.
ESTADOS UNIDOS
- O INCÊNDIO – Pouco depois das 23h de 20 de março de 2003, fogos de artifício no palco da The Station, em West Warwick, no Estado de Rhode Island, anunciavam o início do show da banda Great White. As chamas alcançaram o isolamento acústico de poliuretano no teto. Em cinco minutos, o local ardia. Cem pessoas morreram, e outras 230 ficaram feridas. A principal causa foi a fumaça tóxica.
- PUNIÇÕES – Os proprietários da boate, Michael e Jeffrey Derberian, e o empresário da banda, Daniel Beichele, foram condenados a mais de 10 anos de prisão. Beichele instalou e acionou os fogos. Empresas arcaram com indenizações milionárias. Entre elas, a varejista Home-Depot, que vendeu o material utilizado no isolamento térmico, e a Sealed Air Corp, que instalou o isolamento acústico. Por negligência, a cidade e o Estado também foram condenados.
- CONSEQUÊNCIAS – Foi feita extensa revisão de normas para a prevenção de incêndios. O uso do poliuretano como isolante acústico foi proibido.
ARGENTINA
- O INCÊNDIO – Em 30 de dezembro de 2004, logo após as 23h, a Callejeros acendeu sinalizadores, prática incentivada que virou marca nos shows da banda, na Republica Cromañón, em Buenos Aires. As faíscas atingiram uma tela de plástico e em seguida as chamas chegaram ao isolamento acústico de poliuretano no teto. O fogo liberou gases tóxicos. Foram 194 vítimas fatais e cerca de mil feridos.
- PUNIÇÕES – Foram à prisão 14 pessoas. O dono do estabelecimento, Omar Chabán, pegou 20 anos. Os cinco integrantes da banda foram condenados a 11 anos. Os demais sentenciados eram funcionários públicos e dois bombeiros, levados à cadeia por irregularidades na emissão de licenças.
- CONSEQUÊNCIAS – O prefeito, Aníbal Ibarra, sofreu processo de impeachment acusado de omissão e acabou destituído. Diversas boates e espaços culturais que descumpriam normas de segurança foram fechadas. Passaram a ser exigidas saídas de emergência e foi proibida a utilização de pirotecnia em shows e festas em locais fechados.
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