Casas noturnas não prestam treinamento contra incêndio a funcionários. Empresários que oferecem cursos de preparação contra fogo afirmam que raramente treinam equipes de boates
Caio Cigana
Casas noturnas da Capital praticamente ignoram o curso básico — Obrigatório para que o Corpo de Bombeiros libere o alvará de Prevenção e Proteção Contra Incêndio — que habilita funcionários a anteciparem e combaterem a propagação de fogo.
A falta de preparo coincide com o depoimento dos trabalhadores da boate Kiss, de Santa Maria, que disseram à polícia nunca terem recebido treinamento para manusear equipamentos de segurança.
Proprietários de empresas de Porto Alegre que ministram o Treinamento de Prevenção e Combate a Incêndio (TPCI) confirmam serem ínfimas as inscrições de funcionários de casas noturnas nos cursos, que, em geral, têm duração ao redor de cinco horas.
Alguns sequer lembram de alguém do ramo os ter procurado para aprender a prevenir e debelar focos de incêndio e auxiliar na evacuação com segurança dos locais. A obrigatoriedade de treinamento também consta no Código de Proteção Contra Incêndio de Porto Alegre.
— Não lembro a última vez que apareceu alguém de casa noturna. Parece que o pessoal está esperando ser notificado para tomar providências — diz o sócio-gerente da empresa Triad, Sérgio Antonio Cirne da Rocha.
Sindicato diz orientar boates a realizar a preparação contra fogo
O mesmo repara Júlio Cesar Guimarães Vicente, o proprietário da ABS Extintores, que também ministra cursos de TPCI.
— Pessoal de boate, não lembro. Parece que não estão fazendo, mesmo. Mas agora todo mundo está correndo atrás — conta Vicente.
Sócia da Estinsul, Bianca Schmitz Pires, revela que, nos últimos dias, também disparou a procura de empresas pela renovação de extintores. Mas a procura de boates para disponibilizar cursos de TPCI é mínima. Forçando a memória, admite lembrar de “um ou dois”.
— É raro — sentencia.
Orlando Rangel, presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro e Similares de Porto Alegre, entidade que também engloba trabalhadores de boates e casas noturnas, diz que só de funcionários de hotéis e restaurantes maiores são treinados.
— Boates e casas noturnas, nunca ouvi falar. Pode até haver, mas acho que a maioria não faz — entende Rangel.
José de Jesus Santos, presidente do Sindicato da Hotelaria e Gastronomia de Porto Alegre (Sindpoa), garante que a entidade cumpre o papel de orientar e alertar boates e casas noturnas filiadas quanto à necessidade de cumprir a legislação.
— Só não posso interferir na gestão dos estabelecimentos — diz.
Segundo Santos, o Sindpoa está disposto a participar com o poder público de um amplo debate para redefinir a legislação sobre o tema e propor formas de agilizar a liberação de alvarás. O excesso de burocracia, afirma, abre margem para a existência de estabelecimentos que conseguem manter as portas abertas com liminares mesmo sem cumprir as exigências legais.
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