Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

RELAÇÕES ESTREMECIDAS

 


ZERO HORA 01 de fevereiro de 2013 | N° 17330





PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA


Antes do sétimo dia da tragédia na boate Kiss, a disputa política que sempre marcou as relações entre o PT e o PMDB em Santa Maria começou a aparecer nas entrevistas das autoridades e nas redes sociais. Nas declarações de cada pessoa que fala, aparece, visível ou nas entrelinhas, um esforço para transferir a responsabilidade para o outro. A cada entrevista, as relações entre o prefeito Cezar Schirmer (PMDB) e o governador Tarso Genro (PT) vão se deteriorando, embora um não acuse o outro diretamente. A tensão está no que é dito e no que é insinuado.

Embora tenham atuado em conjunto no primeiro dia, com bons resultados no atendimento aos feridos e às famílias dos mortos, os governos estadual e municipal começaram a se estranhar depois dos enterros. Na terça-feira, quando o governador deu uma entrevista afirmando que a Kiss não poderia estar funcionando, que qualquer pessoa que tivesse entrado lá teria percebido que ela era uma armadilha, Schirmer disse que a prefeitura não cometeu nenhum erro e atribuiu aos bombeiros a responsabilidade pela liberação da licença de funcionamento da casa. Seu secretário Giovani Mânica foi ainda mais explícito na cobrança aos bombeiros. Aliados do prefeito passaram a lembrar que Tarso é o comandante em chefe da Brigada Militar e, portanto, o chefe dos bombeiros.

Ontem, a tensão cresceu com a revelação de que uma empresa de propriedade de dois bombeiros prestou serviços à Kiss na área de prevenção de incêndios. Adversários do PT atribuíram a essa ligação a condescendência dos bombeiros, que não fecharam a boate após o vencimento do plano de prevenção, em agosto, e insistiram nas declarações de que a boate estava em situação legal.

Também ontem, uma entrevista do governador à Rádio Estadão reproduzida no site do jornal O Estado de S.Paulo, adicionou novos elementos à guerra surda. Tarso foi ainda mais incisivo do que com os jornalistas gaúchos na terça-feira. Disse que a prefeitura de Santa Maria não poderia ter dado o alvará da boate e que, no mínimo, deveria ter interditado a casa em agosto, quando venceu a licença do Corpo de Bombeiros.

– Mesmo que o documento (de renovação) esteja em análise, a casa deveria estar fechada até o documento sair – reforçou.

Em outro front, aliados do prefeito de Santa Maria passaram a questionar a isenção do delegado Marcelo Arigoni para conduzir o inquérito. O fato de ter perdido amigos na tragédia e de ter usado um megafone para endossar o pedido de “justiça” numa manifestação em frente à sede da delegacia passou a ser usado como argumento para desqualificar o delegado. Arigoni também está sendo questionado por postar no Facebook uma foto que vem circulando nas redes sociais como sendo de uma festa na Kiss, dias antes da tragédia. Na foto, jovens aparecem com garrafas de espumante e fogos de artifício como o que provocou o incêndio. Um deles está bem próximo do teto. Junto à foto, o delegado escreveu apenas “Recebi pelo msn do face. Tirem suas próprias conclusões!”.


ALIÁS

Até a conclusão do inquérito, as autoridades podem se acusar à vontade, desde que não coloquem a culpa nos mortos por estarem no lugar errado, na hora errada.



Problemas domésticos

No momento em que se discute a segurança em bares, boates e restaurantes, convém olhar a situação dos prédios públicos.

O governador Tarso Genro reconheceu que nem todos têm plano de prevenção e proteção de incêndio, mas disse que, muito antes da tragédia de Santa Maria, determinou a regularização de todos os que ofereciam perigo.

O caso mais crítico é o edifício da Rua Carlos Chagas, no Centro, onde funciona a Fepam e que até já pegou fogo.

– Determinei a transferência para outros locais, mas o processo às vezes é lento.


Falta plano até na Fase

Na Fase, com casas repletas de adolescentes, somente uma unidade de internação, a chamada POA 1, concluiu todas as etapas do plano de prevenção e teve emitido o alvará do Corpo de Bombeiros.

Todas as demais estão sem PPCI, algumas aguardando análise dos bombeiros, outras ainda estão na fase de elaboração dos planos para apresentar.

O incrível é que a lei é de 1997. Nenhuma autoridade achou importante se adequar às exigências da norma?

Na Padre Cacique e Carlos Santos, os planos foram feitos e protocolados no Corpo de Bombeiros. Os planos do CSE, Casef e POA 2 e de todas as unidades do Interior estão em fase de elaboração.

*Colaborou Adriana Irion

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