J.J. Camargo*
As grandes tragédias nos comovem porque nos transportam para dentro delas. E ficamos lá, durante dias, embalados pela discussão dos detalhes, pela tentativa infrutífera de reparar e, quando nos convencemos por exaustão de que nada mais é remediável, nos vemos a discutir os culpados, a criminosa falta de responsabilidade na emissão dos alvarás e as penas que deveriam receber. E ficamos indignados porque nada muda e, quando se repetir, sairemos outra vez atrás de novos culpados.
Mas nada disso passa nem perto dos sentimentos dos que perderam, porque a dor da perda é única e indescritível. A perda verdadeira e definitiva.
No máximo, podemos imaginar a partir de retalhos capturados nas declarações, o tamanho do sofrimento, mas não o sofrimento coletivo, porque este é sempre passageiro, mas o sofrimento individual, de cada pai e de cada mãe, que foram despertados com o relato de uma tragédia e descobriram petrificados que as luzes embaixo das portas continuavam acesas, porque seus filhos amados não retornaram da noitada.
Imaginem a saída para a rua depois de dezenas de telefonemas inúteis e a descoberta de que havia três possibilidades: mortos estendidos no piso de ginásio municipal, feridos hospitalizados em Santa Maria, feridos mais graves encaminhados para Porto Alegre.
Por onde começar a investigar, no meio de um tumulto, onde estariam a Bruna, o Rafael ou o Eduardo, se todas as pessoas gritavam e ninguém tinha uma informação confiável?
Quando a imprensa acessou o ginásio, reportou que corpos acomodados na lona preta pareciam intactos, visto que a maioria morreu asfixiada e não por queimaduras. Mas o que mais impressionou foi o relato de que os celulares seguiam tocando incansavelmente nos bolsos dos mortos.
E, quando um repórter tomou um deles, havia um registro a documentar todo o desespero, a perseverança e a incredulidade: “103 chamadas não atendidas”.
E no alto da tela o nome mais previsível: MÃE.
*MÉDICO
As grandes tragédias nos comovem porque nos transportam para dentro delas. E ficamos lá, durante dias, embalados pela discussão dos detalhes, pela tentativa infrutífera de reparar e, quando nos convencemos por exaustão de que nada mais é remediável, nos vemos a discutir os culpados, a criminosa falta de responsabilidade na emissão dos alvarás e as penas que deveriam receber. E ficamos indignados porque nada muda e, quando se repetir, sairemos outra vez atrás de novos culpados.
Mas nada disso passa nem perto dos sentimentos dos que perderam, porque a dor da perda é única e indescritível. A perda verdadeira e definitiva.
No máximo, podemos imaginar a partir de retalhos capturados nas declarações, o tamanho do sofrimento, mas não o sofrimento coletivo, porque este é sempre passageiro, mas o sofrimento individual, de cada pai e de cada mãe, que foram despertados com o relato de uma tragédia e descobriram petrificados que as luzes embaixo das portas continuavam acesas, porque seus filhos amados não retornaram da noitada.
Imaginem a saída para a rua depois de dezenas de telefonemas inúteis e a descoberta de que havia três possibilidades: mortos estendidos no piso de ginásio municipal, feridos hospitalizados em Santa Maria, feridos mais graves encaminhados para Porto Alegre.
Por onde começar a investigar, no meio de um tumulto, onde estariam a Bruna, o Rafael ou o Eduardo, se todas as pessoas gritavam e ninguém tinha uma informação confiável?
Quando a imprensa acessou o ginásio, reportou que corpos acomodados na lona preta pareciam intactos, visto que a maioria morreu asfixiada e não por queimaduras. Mas o que mais impressionou foi o relato de que os celulares seguiam tocando incansavelmente nos bolsos dos mortos.
E, quando um repórter tomou um deles, havia um registro a documentar todo o desespero, a perseverança e a incredulidade: “103 chamadas não atendidas”.
E no alto da tela o nome mais previsível: MÃE.
*MÉDICO
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