Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

FOGO, FUMAÇA, ESCURIDÃO, PAVOR E HEROÍSMO

ZERO HORA 29 de janeiro de 2013 | N° 17327

SANTA MARIA, 27/01/2013


A pretensão deles era apenas se divertir por mais uma noite com o grupo de amigos. Mas, antes que o socorro chegasse, guris na faixa dos 20 anos transformaram-se em anjos da guarda de quem não tinha forças para sair da fumaça preta e do calor.

Um dos primeiros a conseguir deixar a boate, o estudante de Medicina Murilo de Toledo Tiecher, 26 anos, acredita também ter sido um dos primeiros a chamar o Corpo de Bombeiros em busca de socorro.

– Quando liguei, a mulher não sabia nem onde era o fogo. Falei que era na boate Kiss, que ia morrer todo mundo. Quem saiu, voltou na hora para a porta e ajudou a puxar quem estava lá. Tinha uma cortina de fumaça, não dava para enxergar. Se víamos uma cabeça puxávamos como dava – comenta.

Ao mesmo tempo, Murilo tentava achar os amigos e, assim que iam saindo, se uniam para auxiliar outras pessoas. Angustiado, teve de esperar a chegada dos bombeiros para salvar o amigo de infância. Naquela hora, lugar em ambulância já era raridade. O jeito era buscar atendimento nos hospitais.

– Tinha gente que salvamos que encontramos no hospital. Nem sei quando vou pisar de novo em uma boate – diz.

O estudante de Matemática da Unifra Dionatan Nadalon, 20 anos, foi com colegas para a casa noturna. Acostumado com o local, sabia por onde sair mesmo no escuro. Soube como ajudar a salvar vidas.

– Vimos o tumulto, mas ninguém falava nada. Quando acabou a luz, começou a vir o gás. Quando veio o gás, veio o pavor e todo mundo começou a se empurrar, correr – relembra.

Antes de conseguir sair, ele caiu e uma pessoa tombou sobre ele. Sem saber explicar como, conseguiu pisar na calçada. Com as costas queimando e a camisa rasgada, procurou os amigos e começou a puxar todas as pessoas que estavam na porta e levar para o meio da rua.

– Tinha uma menina desmaiada na boate. Entrei e tentei carregá-la, mas não consegui e um guri me ajudou. Fizeram massagem cardíaca nela e disseram que não tinha mais chance, que era para dar prioridade a outras pessoas. Tivemos que levá-la até o estacionamento do mercado, onde já havia 15 mortos.

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