Este Blog retratará o descaso com a Defesa Civil no Brasil; a falta de políticas específicas; o sucateamento dos Corpos de Bombeiros; os salários baixos; a legislação ambiental benevolente; a negligência na fiscalização; os desvios de donativos e recursos; os saques; a corrupção; a improbidade; o crime organizado e a inoperância dos instrumentos de prevenção, controle e contenção. Resta o sofrimento das comunidades atingidas, a solidariedade consciente e o heroísmo daqueles que arriscam a vida e suportam salários miseráveis e péssimas condições de trabalho no enfrentamento das calamidades e sinistros que assolam o povo brasileiro.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

ENTREVISTA POLÊMICA

ZERO HORA 29/01/2013 | 16h03



"Mais sorte do que juízo", diz oficial do Corpo de Bombeiros sobre tragédias como a de Santa Maria. Subcomandante do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros, o major Gérson da Rosa Pereira também afirmou que a população "deveria ter cuidado com o lugar que frequenta"


Homenagens às vítimas continuam sendo feitas em frente à casa de shows em Santa Maria
Foto: Adriana Franciosi / Agencia RBS


Em entrevista coletiva concedida na tarde desta terça-feira, em Santa Maria, o subcomandante do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros, major Gérson da Rosa Pereira, disse que a população "deveria ter cuidado com o lugar que frequenta" e afirmou que temos "mais sorte que juízo", referindo-se aos riscos em casas noturnas.

Após as declarações, Pereira afirmou para a reportagem de Zero Hora ter recebido um telefonema do governador Tarso Genro proibindo-o de falar com a imprensa. Confira abaixo, algumas declarações do major na entrevista.

PROTEÇÃO ACÚSTICA

"Não é competência dos bombeiros trocar o forro (considerado por especialistas inadequado para aquele tipo de estabelecimento e cuja fumaça tóxica pode ter sido responsável por mortes). Não sei de quem é a competência. Não sei de quem é a culpa. Não sei".

PODER PÚBLICO

"Não tenho competência por isso, não sei de quem é a competência. Cada um tem sua competência: poder público, enfim. Fico extremamente indignado por não ter mais poderes de atuação. Mas, essa é uma tragédia que poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo. Infelizmente aconteceu em Santa Maria.

MAIS SORTE QUE JUÍZO

"Há milhares de cidades e de boates, mas este fato foi em Santa Maria. Essas outras (cidades e boates) têm mais mais sorte do que juízo. Num universo de milhares ocorreu em Santa Maria".

POPULAÇÃO DEVE CUIDAR ONDE FREQUENTA

"A população também deve ter cuidado com o lugar que frequenta. Não dá para ficar em um lugar onde não se pode nem se mexer".

PORTA É DO TAMANHO EXIGIDO

"A porta (da boate Kiss) é do tamanho exigido. Claro, que preferencialmente pode haver duas (portas), mas o empresário vai escolher colocar um só por questão econômica. Isso é assim e sempre foi. O empresário não vai querer gastar mais" (engenheiros e especialistas ouvidos por Zero Hora são unânimes em afirmar que a boate deveria ter pelo menos uma porta de emergência)

LEGISLAÇÃO

"A competência dos bombeiros está na prevenção de incêndio — escada, extintores, entre outros. A boate tinha sinalização. Claro que extintores apresentam problemas, por isso cuidamos a validade da recarga, realizamos o teste hidrostático, o que é feito a cada cinco anos, para que o extintor não estoure".

SEGURANÇA

"O corpo de bombeiros e a Brigada Militar não abrem mão de segurança. Nós, bombeiros, priorizamos a lei e o cuidado com as pessoas. É claro que a lei tem que ser mudada para evitar com que tenhamos de passar por tudo isso".A tragédia

O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.

Sem conseguir sair do estabelcimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.

A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos útimos 50 anos no Brasil.



ZERO HORA 29/01/2013 | 16h16Atualizada em 29/01/2013 | 16h28

Tarso desautoriza comando do Corpo de Bombeiros e diz que palco de tragédia em Santa Maria não poderia estar aberto. Governador afirmou, em entrevista, que prefeitura é responsável por liberar abertura da boate Kiss


Mesmo reaberto, comércio de Santa Maria ainda expressa o luto nas suas vitrinas
Foto: Jean Pimentel / Agencia RBS

O governador Tarso Genro demonstrou descontentamento com declarações dos comandos da Brigada Militar (BM) e do Corpo de Bombeiros sobre as responsabilidades pela liberação da boate Kiss, palco da tragédia que vitimou pelo menos 234 pessoas em Santa Maria.

Em entrevista a jornalistas na tarde desta terça-feira, ele falou ainda em corresponsabilidade da prefeitura da cidade e outros órgãos públicos pelo incêndio, citando uma "reação em cadeia".

— O chefe dos bombeiros não falou demais. Ele falou completamente errado. Bombeiros não autorizam o funcionamento de nada. Quem dá o alvará é a prefeitura — disparou Tarso.

Além de salientar que a danceteria não poderia estar aberta "de jeito nenhum", o governador citou uma determinação para que o local possuísse revestimento acústico. No entanto, declarou desconhecer se houve comunicação à autoridade pública da instalação do material que principiou o incêndio, após o manuseio de um sinalizador que acabou atingindo a espuma do teto da casa de festas.

Mesmo em conformidade com as normas legais de funcionamento, a boate descumpriria os termos de lotação máxima. O Corpo de Bombeiros apontou que a capacidade era de 691 pessoas, mas no dia da tragédia deveria haver mais de 1 mil clientes. Tarso disse também que recebeu informações de que "o dono formal não é o dono real" do estabelecimento.

O governador pediu ao procurador-geral do Estado, Eduardo de Lima Veiga, que ajude na elaboração de um texto que sirva de base para uma legislação estadual ou municipal mais rigorosa a fim de evitar que uma tratégia como essa se repita. A intenção de Tarso é de que o Estado tenha o poder de interditar estabelecimentos que estejam irregulares.

Ele garante que os procedimentos adotados pela Brigada Militar e Corpo de Bombeiros estão sendo avaliados pelo governo estadual e podem sofrer penalidades caso o inquérito da Polícia Civil aponte deficiências.

Tarso repetiu várias vezes que o inquérito ainda não é capaz de dizer de quem foi a responsabilidade nem se os bombeiros cumpriram ou não a sua parte.

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