Os estudantes começaram a chegar às 23h de sábado. Era o horário marcado para o início da Agromerados, uma festa para alunos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Eles chegavam à Rua dos Andradas, pagavam os R$ 15 do ingresso e avançavam, pela única porta da boate Kiss, para o ambiente de 615 metros quadrados. O público total pode ter chegado a 1,5 mil.
As atrações musicais sucediam-se. Quando o grupo Pimenta e seus Comparsas terminou seu show, eram cerca de 2h. Chegou a vez do Gurizada Fandangueira. A banda executou cinco ou seis músicas. Tocava cover de Amor de Chocolate, do cantor Naldo, quando um dos integrantes usou um sinalizador. Os efeitos pirotécnicos eram parte da apresentação.
Faíscas do sinalizador atingiram a espuma de isolamento acústico que revestia o teto, acima do palco, produzindo as primeiras chamas. O fogo era tão insignificante que a princípio ninguém se preocupou. Mas ele cresceu. O vocalista atirou um copo para o teto, mas não resultou em nada. As chamas cresceram. Ouviram-se os primeiros gritos, pedindo extintores.
A música finalmente silenciou.
O cantor apanhou um extintor e voltou-o contra a chama, ainda pequena. O equipamento falhou. Estava estragado. O público vaiou, ainda sem noção do perigo. Eram cerca de 2h30min. Em meio minuto, as chamas se alastraram pelo recinto. Uma fumaça densa começou a tomar o ambiente.
A boate era um ambiente penumbroso, com decoração em preto. A fumaça tornou tudo breu. Pedaços incandescentes da espuma, derretidos pelo fogo, precipitavam-se como chuva, queimando as peles, os cabelos, as roupas. Veio o pânico e a correria. Sem luz para enxergar, sem oxigênio para respirar, sem espaço para se mover, os jovens tentavam achar a saída e se perdiam na boate transformada subitamente em labirinto. Copos quebravam-se, gente caía. Alguns era esmagados e pisoteados no tumulto. Outros tombavam asfixiados pela fumaça. De salto alto, as mulheres tropeçavam, tombavam, ficavam para trás.
Inúmeros sentiram-se aliviados por deparar com o que parecia a porta de saída, apenas para descobrir-se dentro do banheiro e lá perecer. Quem não achava outra alternativa, pedia socorro no celular, postava apelos no Facebook.
Alcançar a porta, a única saída, parecia ser questão de sorte. Havia todo tipo de obstáculo, incluindo corpos caídos. Aos primeiros a achar saída, uma barreira inesperada. A segurança bloqueava a porta, exigindo a comanda que comprovava despesas pagas. Os funcionários não viam a pista e talvez pensassem que fosse só uma briga. O impasse teria durado alguns segundos, até que um grupo de rapazes derrubou o funcionário e arrombou a porta.
Os que atingiram o ar salvador do lado de fora jogavam-se pelas calçadas, intoxicados. Os que sentiam melhor encaravam a porta da boate, transformada na boca de um dragão a cuspir uma fumaça negra e tóxica. Muitos voltaram, em uma tentativa desesperada de enfrentar o monstro.
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