SANTA MARIA, 27/01/2013
“Tentamos montar uma corrente”
O morador de Santa Maria Alberto Tessmer, 35 anos, chegou à boate Kiss às 2h55min e participou durante duas horas dos esforços de resgate. Ele deu um depoimento a Zero Hora.
"Depois de sair de um bar próximo, onde estava com minha esposa, minha sobrinha e amigos, vi a movimentação dos Bombeiros. Achei que era uma situação controlada e fui fazer fotos. Quando cheguei perto da boate, me apavorei. Larguei a câmera e fui tirar gente. Eram muitas pessoas gritando, caindo no chão, desmaiando.
Naquela hora, os bombeiros estavam chegando. Estacionavam e desenrolavam as mangueiras. Todo mundo ajudava: gente que havia conseguido sair da boate e outros que passavam por ali. Na hora, todo mundo era uma família, e os bombeiros ofereciam material para a gente ajudar.
Fiquei a maior parte do tempo colaborando na porta. Saía muita fumaça por ela, mas havia uma altura de uns 30 centímetros, junto ao chão, que estava mais livre. Como várias outras pessoas, eu puxava o ar e entrava engatinhando, para evitar a inalação. Avançava uns oito, 10 metros, para dentro da boate. Os olhos queimavam muito. Enxergava um vulto, pegava, puxava o corpo. Peguei assim umas vinte e poucas pessoas. Na porta, passava as vítimas para outras pessoas, que as levavam. Tentamos montar uma corrente, improvisada. Sei de gente que entrou dentro da boate para ajudar e não voltou.
Perto da porta havia uma janela lacrada por dentro. Perto das 3h30min, fui para lá. Começamos a bater na janela com marretas dos bombeiros, para arrancar a grade e abrir um buraco para criar um novo caminho para acessar o local. Tiramos a grade e derrubamos a proteção de madeira que fechava a janela. Do lado de dentro, tinha um pessoal que ia alcançando os corpos por ali. Alguns não tinha pulsação nenhuma, outros engasgavam e apresentavam contrações pulmonares, mas é difícil dizer se as pessoas estavam vivas ou mortas. O importante era tirá-los dali. A gente ia tirando, e o pessoal de ambulâncias, de táxis e veículos particulares iam levando para hospitais.”
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